terça-feira, 9 de novembro de 2010

Malgré Tout, Portugal é o país mais pobre da UE...

A persistente negação da realidade ou a sua politica e mediática minimização não anulam a verdade dos factos nem determinam necessariamente a representação dos outros sobre os fenómenos. Apesar da fixação que a classe jornalistica denota na tentativa de redução da dinâmica socio-política e económica à sua vertente discursiva - como se vivessemos no reino da sofística e do jogo argumentativo (ainda ontem, na RTP-2, a jornalista Márcia Rodrigues no programa Olhar o Mundo, tentava reduzir a análise política da política norte-americana feita por Teresa Botelho e José Gomes André a esta perspectiva) - a verdade que subjaz ao que ontem referimos (ler aqui) e que foi também, de certo modo, tema da edição de ontem do programa P'rós e Contras da RTP-1, encontra hoje eco no Financial Times (The Eurozone) que afirma, sem rodeios, que Portugal é o país mais pobre da União Europeia... para além da crise internacional e dos suspeitos interesses das agências de rating que estão a suscitar fortes reacções na banca portuguesa e apesar da expectativa de recuperação da confiança dos mercados que ainda ontem o mesmo Financial Times referia (ler aqui), a verdade é que a taxa de juros da dívida pública continua a persistir numa perigosa aproximação aos 7% que o próprio Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, identificou como o limite para a intervenção do FMI no nosso país. Se dúvidas houver sobre a imperiosa necessidade de alterar a estrutura organizacional e funcional do actual modelo de gestão nacional e da visão de país que todos (nomeadamente, PR, Governo e 2 principais partidos com representação parlamentar) têm defendido e protagonizado, não haverá forma de controlar o endividamento nacional que os negócios da China com Hu Jintao não chegaram para criar margem de confiança internacional. Para além do risco de dissolução da soberania nacional, está em causa a sobrevivência digna de milhares e milhares de portugueses. A coragem política para alterar o indispensável bem pode ir inspirar-se em bons exemplos que, na América do Sul, malgré tout, muito tem a ensinar...

13 comentários:

  1. Cara Paula,
    Como é que um país que tem um órgão de comunicação social público, quer dizer, independente dos interesses económicos, quer dizer, que não tem que ter como horizonte de informação/formação outro interesse que não seja o de colocar à disposição do seu público consumidor outra visão informativa que não seja clara, transparente e não manipulada, tem como seus faraónicos representantes os Josés Albertos Carvalhos, as Fátimas Campos Ferreira, as Márcias Rodrigues, etc.? Como havia de ser pobre um país assim? Milagres...

    ResponderEliminar
  2. Caro José Luís,
    ... é de facto esclarecedor!... como disse F.Pessoa: "tudo está ligado a tudo; não podes tocar a flor sm perturbar a estrela" - para o bem e para o mal, percebemo-lo melhor hoje!
    ... e milagres nunca houve ou, pelo menos, "já não fazem" :))
    Um grande abraço, meu amigo... e obrigado por estar aqui :)

    ResponderEliminar
  3. Já escrevi, lá no meu espaço electrónico, que vamos ser sugados até ao tutano... Não interessa o que dizem ou desdizem os fracos actores políticos deste País... Somos uma alvo por demais apetecível! E deste bando de predadores não nos vamos safar... e como também já escrevi, ainda só vamos no prato da sopa (já a comemos quase toda!)
    Esperem mais dois anos...

    ResponderEliminar
  4. ...e qualquer dia seremos o país mais pobre do mundo. Não me admiraria mesmo nada.

    ResponderEliminar
  5. Cara Ana Paula:

    Esclareça-me sff:

    1. o FT coloca PT como o país mais pobre da Europa com base em quê ?

    2. Já foi colocada alguma divida publica a taxas proximas de 7% ? Quando? Quanto ? A que prazos ?

    3. A que politicas de" dissolução da soberania nacional" se refere ? Como classifica comparativamente as que decorrem dos tratados de adesão à UE ?

    Cumprimentos.

    ResponderEliminar
  6. Ainda a proposito:

    http://www.google.com/search?q=INE+inquerito+sobre+a+pobreza+2004+2008&sourceid=ie7&rls=com.microsoft:en-US&ie=utf8&oe=utf8

    Seria esta a fonte do FT ?

    ResponderEliminar
  7. Caro Voz a 0 DB,
    ... receio que as suas suspeitas se venham, de facto!, a confirmar!...
    Abraço.

    ResponderEliminar
  8. L.O.L.,
    ... só assim não será porque existe África e muito está por fazer no Oriente (do Afeganistão ao Paquistão ou da Índia à China) e na América do Sul... mas, somos certamente, já, o exemplo da ilusória riqueza do Ocidente e da sua insustentabilidade numa Europa que se não preparou, para gaúdio dos mercados (!!!), para a perversidade dos efeitos da sua dinâmica organizacional... e o custo é o empobrecimento das populações a um ritmo que é previsível ser massivo emuito doloroso...
    Abraço.

    ResponderEliminar
  9. Caro Manuel Rocha,

    Em resposta à sua 1ª pergunta, penso que todos os indicadores de sustentabilidade socio-econóica nacional permitem corroborar a afirmação;
    Quanto à 2ª questão, deixo-lhe este link: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5540183,00.html
    Grécia, Irlanda e Portugal continuam no ranking a curto e médio prazo e o índice de endividamento dos países-membros da UE pode, por isso e pela situação dos países que integravam o designado "bloco de leste" aos 7.25%;
    Finalmente, no que respeita à 3ª questão, penso que o problema se não coloca desta forma mas, isso sim, em sentido inverso uma vez que são as regras comunitárias que determinam os critérios de convergência que, não sendo cumpridos, ameaçam a referida soberania nacional.
    Acresce ainda a estas e muitas outras observações recorrentes, a consciência de que o efeito especulador do mercado só tem efeitos onde há condições que o viabilizem... por isso, o Brasil, uma das mais prósperas economias mundiais, tem em consideração, a título preventivo, esta dimensão da economia global (coisa que, diga-se de passagem, no nosso país nem sequer é equacionada)... como tal, as teorias conspirativas que atribuem todos os problemas aos especuladores não pode ser a justificação em que descansamos a nossa consciência; devemos, isso sim, enfrentar a realidade e, tendo aceite participar nesta dinâmica encontrar estratégias que garantam o seu cumprimento ou alternativas reconhecidamente válidas que a contrariem.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  10. “todos os indicadores de sustentabilidade socio-económica nacional permitem corroborar a afirmação”…de que Pt é o país mais pobre da UE (segundo o FT)?!
    Bem, continuo sem saber qual a fonte da Ana Paula, mas como pode ver pelos link que deixo, há outras versões … http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_(nominal)_per_capita
    Claro que a versão que a Ana Paula usa pode ser mais fiável. Mas o FT tb poderia ter dito que PT era o país menos rico da EU, certo ? Pois, mas não teria o mesmo efeito, eu sei...Tb poderia ter referido que apesar disso PT está no pelotão da frente dos países mais desenvolvidos do mundo, mas não servia o ponto, calculo..
    http://hdr.undp.org/en/statistics/
    Claro que se os comparativos fossem produzidos com base num índice combinado que incluísse Produto, Território e População, os rankings mudavam. Na verdade a Noruega tem o triplo do território e metade da nossa população. Claro que se a determinação do PIB incorporasse um critério de sustentabilidade das actividades que para ele contribuem, a exportação de matérias primas não renováveis poderia ser excluída ( e lá vinha o PIB Norueguês pelas escadas abaixo...) ou se a renda da especulação financeira não contasse para o produto ( que trambolhão não daria o Luxemburgo…)o o ranking tb mudaria.
    Ou seja, indicadores há muitos, e comparativos ainda mais. O que mais têm em comum é o facto de tenderem a comparar o que não é comparável. E confesso-lhe algum desconforto com a ausência de critica à forma demagógica como as diversas agendas utilizam essas deficiencias.

    ResponderEliminar
  11. Quanto às taxas cobradas sobre a emissão de divida publica, julgo que importava esclarecer duas coisas:
    . que nem toda a emissão de divida é de longo prazo, e que as emissões de médio e curto prazo têm outras taxas;
    . que nem todos os dias o Estado vai ao mercado e que há uma diferença entre as taxas efectivas a que o estado coloca divida quando vai ao mercado e as taxas secundárias a que os investidores renegoceiam entre si as respectivas posições na divida publica portuguesa.
    Convenhamos que não é esta a ideia que tem sido divulgada. A noção que se tem é a de que todos os dias o estado se vai endividar ao mercado á taxa máxima. Claro que esclarecido este "detalhe" podemos sempre discutir o resto…:)

    ResponderEliminar
  12. Quanto à soberania.
    Habituei-me a pensá-la em três pilares. Politica- Económica- Militar. Desde o momento em que por via de acordos internacionais fique comprometido um destes pilares, acho que a soberania como conceito integrado já está comprometida. Para o bem ou para o mal isso aconteceu em PT com a adesão á EU. Existem hoje instrumentos fulcrais de soberania clássica, como a politica financeira, que deixaram de estar disponíveis. A desvalorização da moeda não é possível. As politicas agrícolas e de pescas estão profundamente condicionadas. Até o fabrico do queijo ou o sal que se põe no pão é definido em Bruxelas. Há muito mais, mas ficamos por aqui. Depois de 25 anos de directivas externas, i.é, condicionalismos concretos à soberania tradicional, não vejo por que critério se pode defender que seriam eventuais limitaçãões no controlo da politica fiscal que a tornariam agora mais ou menos relevante.

    Era só este o meu ponto.:)

    ResponderEliminar
  13. Caro Manuel Rocha,
    Mais que os indicadores estatísticos, é o cruzamento de múltiplas variáveis que resultam resultados qualitativos capazes de nos retratarem a realidade para além dos que leituras diversas, obtidas por métodos diferentes em tempos e de acordo com amostras não coincidentes permitem obter... por isso, concordo consigo quando fala na forma acrítica de apresentação de dados. Contudo, um exercício que se pode fazer é o de se compararem taxas de pobreza, desemprego, sub-emprego, salários e pensões mínimas e médias, com amostras populacionais e áreas territoriais idênticas.
    ... entretanto, a questão do mercado não se coloca em termos de ir ou não ir ao mercado: o problema é estar no mundo e ter condições de sustentabilidade para aí permanecer. :))

    ResponderEliminar