sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Política de Gestão!?...

Ao escrever o que se pode ler aqui, decidi que abordaria a matéria sobre a qual queria partilhar a reflexão, em, pelo menos, mais um ou dois post's. A dimensão política da questão reside no facto do problema em causa afectar o modo de concretização das opções políticas, porque o que me ocorreu colocar à nossa consideração remete para a causa do insucesso das opções socio-económicas que, sucessivamente, desde há décadas ou, pelo menos, desde os anos 80, tem provocado um quase contínuo declínio ou, no mínimo, uma quase constante estagnação da economia portuguesa. Podemos (e assim tem sido feito pelas oposições, os meios de comunicação social, os analistas e os comentadores) considerar que o erro do insucesso económico nacional reside exclusivamente nas opções técnicas ou ideológicas dos partidos que têm gerido o poder e/ou por força dos seus acordos... contudo, apesar da diversidade dessas opções não ser tão radicalmente diferente que se possa dizer que já tentámos tudo e tendo em atenção que as políticas defendidas pelos partidos mais à esquerda ou mais à direita não foram, de facto, linhas programáticas das várias governações, a verdade é que, sejam quais forem os modelos teóricos subjacentes à pluralidade das escolhas, a sua concretização é feita por pessoas e através de dinâmicas por elas protagonizadas... e é exactamente aqui que pode estar o cerne da questão. Um dado a ter em consideração nesta perspectiva resulta da constatação de, essencialmente, sermos um país gerido há décadas por advogados, economistas, engenheiros e gestores. Outro dado, de dimensão mais profunda, decorre da representação social da "confiança" subjacente à cultura de cidadania que ainda não temos e que reduz, próxima de uma mentalidade própria de um mundo não urbano e não metropolitano ou, se quisermos, de carácter corporativo, a sua existência como uma espécie de legado garantido pelo inter-conhecimento confinado a pessoas próximas das relações interpessoais dos grupos pelos quais se acede ao poder. A perversidade da lógica de um sistema gerido desta forma, afasta qualquer viabilidade técnico-científica de intervenção, bloqueia o desenvolvimento, limita o crescimento e revela, não apenas as desadequações das referidas opções político-ideológicas mas, concorre para realizar a impossibilidade de um funcionamento socio-institucional eficaz e independente. Assim, permanecemos reféns de uma lógica que, se não é de classe, é de grupo e que arrasta para a falência toda a sociedade quando o seu exercício político encontra dificuldades... se assim não é, pelo menos, parece! - apesar de uma comum defesa de valores como "Democracia" e "Igualdade de Oportunidades" que, afinal, não encontram terreno fértil para medrar... Será?!

12 comentários:

  1. Este texto faz-me lembrar um dito muito antigo: " Nascemos todos iguais, só que uns, são mais iguais que outros ". Os " outros " serão aqueles a que eu me referia num comentário mais abaixo, aqueles que deixam os " uns " por conta própria. Os " uns " serão a grande maioria que não teve possibilidades de se formar, de entender aquilo que os " outros " estão a fazer e porque o fazem. Sairam os " outros " do País à espera que os " uns " os esquecessem? Esquecer o mal que terão feito e ainda continuam a fazer. O que eu queria mesmo, talvez por ser iletrado, era que esses "outros " nunca mais voltassem ao MEU País, nem quando o MEU País tiver ultrapassado a crise, porque havemos de a ultrapassar, fossem proibidos de voltar. Claro que isto não será possivel, nem nós seriamos capazes de tomar uma atitude dessas, somos brandos e de bons costumes. Temos o caração ao pé da boca, mas somos uns melosos, uns corações moles.
    Um abracinho e bom fim de semana.

    ResponderEliminar
  2. Caro Zéparafuso :)
    ... obrigado!... obrigado por saber tão bem o que eu pretendi explicar e o conseguir dizer de uma forma tão sentida... e, olhe! :) ainda bem que "Temos o coração ao pé da boca" ou nunca poderiamos comunicar assim com esta capacidade de expressar e transmitir com autenticidade o "amor à terra" e à justiça e à justeza que a verdade nos merece... vamos ultrapassar todas as crises... foi assim que chegámos até aqui, ultrapassando as armadilhas da História e um dia saberemos ser justos connosco e conseguir fazer melhor o país que amamos... acreditar nisso é o primeiro passo para lá chegarmos :)
    Um abracinho reconfortado e amigo com votos de bom fim-de-semana :)

    ResponderEliminar
  3. Cara Ana Paula Fitas,
    De acordo na generalidade. Contudo deixe-me reforçar-lhe um raciocinio e, ao mesmo tempo, tentar intruduzir-lhe rigor. Quando diz: "desde há décadas ou, pelo menos, desde os anos 80, tem provocado um quase contínuo declínio ou, no mínimo, uma quase constante estagnação da economia portuguesa". Retire o minimo. A estagnação não exprime rigorosamente uma situação de lenta mas continuada desarticulação do aparelho produtivo nacional e o acréscimo de importação de bens de consumo de primeira necessidade. O fraco crescimento do PIB fez-se à custa da "produção" de serviços... cuja "necessidade" tem vindo a ser artificialmente cultivada por uma publicidade e sistema de vendas particularmente agressiva e eficaz: Um casal pode ter dificuldades em comer, mas usa intensamente 4 ou 5 telemóveis e perde 1/3 do seu tempo no Farmville não se inibindo de contrair mais um crédito para não sei bem o quê...

    ResponderEliminar
  4. Querida Ana Paula :))

    Não existe a cultura do mérito no nosso país e independentemente da importância dos lugares, o nepotismo atravessa a nossa sociedade de alto a baixo e todos nos conformam com isso, "hoje eles amanhã nós" é o lema. E chegamos aqui....

    Beijinho

    :)))

    ResponderEliminar
  5. Ana Paula,

    Li e concordo;
    mas passam-se coisas
    a nível internacional
    que se reflectem no país
    e que é preciso encontrar
    soluções conjuntas.

    Eu já leio pouco os jornais,
    porque são caros e nem sempre
    têm interesse, mas na crónica
    de hoje do Monjardino ou do Cutileiro,
    - não tenho à mão o Expresso -, faz-se notar
    que o período do "pós-guerra fria",
    de vinte anos, de 1989 a 2009, terminou
    e a Nato e a EU deixaram de ser
    os leaders da política internacional.

    Quando nos queixamos e ressentimos
    da mediocridade dos nossos políticos
    temos de compreender também
    que não havendo propriamente
    nada a liderar, os respectivos
    responsáveis estão eleitos
    para não tratar de coisa
    nenhuma pois que nada
    mandam...

    Com esta nova época que se anuncia,
    a problemática do comércio mundial a
    impor soluções desenvolvimentistas
    na Ásia e no Hemisfério Sul -
    onde o português é a segunda
    língua com mais falantes! -,
    a Europa, e nós, temos
    de fazer pela vida,
    e há na verdade
    muitos hábitos
    e atitudes
    a deitar
    ao caixote
    do lixo
    não reciclável
    da História...

    É muito provável
    que tenhamos de abandonar
    os padrões de consumo actuais
    em proveito de uma eficácia global
    e ecológica bem mais científica
    e inteligente. E se assumirmos
    a iniciativa dessa estratégia,
    os países emergentes,
    ainda muito pobres
    e com dificuldades,
    hão-de trilhar
    caminhos
    distintos
    dos
    percorridos
    no passado
    pelo ocidente,
    e globalmente
    será unitário
    mesmo na
    diversidade
    dos povos
    da Terra.

    ResponderEliminar
  6. Considero esta abordagem muito pertinente, mas se me permite há duas coisinhas que gostava de comentar.
    A primeira é que não me parece que esta reflexão tenha de ter por base o desempenho da economia. Pode-se não gostar do modelo e criticá-lo para além da performance económica verificada. No caso, ao relacioná-los, acho que a AP fragiliza a sua argumentação. Na realidade a economia tem crescido. E ainda que não tivesse, está por demonstrar que é esse o factor que obsta a um politica de pleno emprego e de maior equidade social a níveis de vida decentes para todos os cidadãos. Como sabe as teses de decroissance têm vindo a desbravar caminho inclusive no discurso de reputados economistas ( Manuela Silva, Mário Murteira…).
    Em segundo lugar não é clara a correlação entre a formação dos quadros da super estrutura dirigente e o corporativismo instalado, sejam causa directa do peso deste na sociedade portuguesa ou da inércia politica que por essa via se instalou. Parece-me que o corporativismo em si basta para explicar esse fenómeno. Repare que não foi por ser de sociologia que a Dr Lurdes Rodrigues teve sucesso no ME. Objectivamente, há visões do mundo que têm tido maior dificuldade em comunicar com a sociedade. Gosto de pensar que isso não se deva apenas a dificuldades de percepção da sociedade, mas também a insuficiências da narrativa de quem discorre sobre as abordagens alternativas.

    Saudações

    ResponderEliminar
  7. A LEITURA QUE FAÇO AQUI,QUE OS POLÍTICOS SÃO MEROS ESPECTADORES DA VIDA NACIONAL.VIVEM EM UM PATAMAR PERIGOSO EM SUAS AMPIÇÕES.PRECISAMOS EDUCAR O POVO PARA TERMOS UMA CERTEZA ABSOLUTA DE NOSSAS DECISÕES .VIVEMOS NO CONTEXTO DO MERCADO REGULADOR DAS ECONOMIAS DOS PAISES EMERGENTES.NOSSA POLÍTCA ECONOMICA NÃO PODE PERDER OS ESPAÇO QUE CONQUISTAMOS.

    ResponderEliminar
  8. Caro Rogério,
    Obrigado pelas pertinentes observações que aqui regista... de facto, a criação artifical das "necessidades" e da "produção de serviços" são um modo de fazer proliferar o enriquecimento gratuito dos poderosos e um meio de alienar o presente e o futuro dos consumidores cada vez mais empobrecidos.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  9. Querida Ariel :)
    Aqui está colocado, como urge que aconteça, "o dedo na ferida": a questão da "cultura do mérito" é determinante para o progresso social... obrigado!
    Um beijinho.

    ResponderEliminar
  10. Caro VBM,
    ... obrigado :))
    Se me permite, anuncio aqui que considero este seu comentário, um post que me orgulho de ter publicado no A Nossa Candeia e que, justa e reconhecidamente, agradeço ao autor.
    Bem-haja pelo discernimento e a lucidez.
    Um grande abraço.

    ResponderEliminar
  11. Caro Manuel Rocha,
    Está por provar que o deficitário desempenho económico, paralelamente considerado com o facto de Portugal ter sido palco de um investimento financeiro elevadissimo decorrente de fundos comunitários de que somos beneficiários há mais de 20 anos, não tem como uma das suas causas directas o insuficiente e incompetente desempenho dos seus protagonistas e a incapacidade dos que, tendo competência, não tiveram condições para a optimizar dadas as dinâmicas corporativas em que se tiveram que mover... está, também por isso, por provar não que uma melhor e mais profissional gestão política, económica e social teriam garantido o pleno emprego que ainda nem trouxe à discussão dada a consciência dos reflexos e condicionalismos internacionais em que nos movemos mas, isso sim, o desenvolvimento de mais e mais consistentes competências de resistência ao empobrecimento contínuo... não está em causa o que considera crescimento económico; está em causa o facto de ser absolutamente insuficiente!... e é por isso que não penso que a minha proposta de correlação de dados fragilize a minha argumentação: porque a ciência se faz de hipóteses e dos seus resultados podemos extrair novas hipóteses!... quanto às teorias da "decroissance" são isso mesmo: teorias!... mas os fundamentos societários e organizacionais em que assentam os modelos que tentam explicar são a realidade de facto que se não resume à especulação empírica... finalmente, quando fala de formação de quadros dirigentes devo dizer-lhe que desconheço tal existência porque o que a realidade nos demonstra é um aproveitamento de indivíduos com preparação mais, menos ou nenhuma adequação aos cargos desempenhados e, como tal, estamos também a falar de um pressuposto que, na prática se não verifica ou que, quando se verifica é excessivamente débil e cede às dinâmicas do corporativismo instalado... vale a inda a pena referir, dado o exemplo a que recorreu sobre a ex-Ministra da Educação, cabe-me dizer-lhe que nem eu sou de Sociologia nem penso que a formação sociológica, por si só, possa dar resposta às problemáticas multidimensionais da realidade... a terminar, direi que as insuficiências narrativas das propostas justificativas do actual "estado da arte" nacional, incorrem no erro de tomar a realidade como um palco estático e ignoram o que se reconhece como "erro de paralaxe" e não chegam para dar resposta ao inúmero leque de propostas alternativas não só por falta de atitude epistemológica como, também, por incapacidade de desenvolvimento de trabalho multifactorial.
    Saudações fraternas.

    ResponderEliminar
  12. Caro AntónioA,
    Obrigado pelo seu contributo de que destaco, pela sua justa pertinência, as referências ao "perigoso patamar das suas ambições" e à educação crítica e reflexiva das populações, bem como a afirmação: "A nossa política económica não pode perder os espaços que conquistámos".
    Bem-haja!

    ResponderEliminar