No Ano Europeu de Combate à Pobreza regista-se quer um aumento drástico do fenómeno, quer um crescimento do risco de desinvestimento nesta área efectivamente prioritária da intervenção cívica, social e política. A sociedade portuguesa precisa por esta razão, com urgência, de emitir sinais claros do seu sentido de responsabilidade social porque, para além da dívida soberana, do deficit, das contas públicas, das finanças, da economia e da crise, o Estado são as Pessoas. Compreende-se por isso a preocupação parlamentar (ler AQUI) e de sectores ligados ao desempenho de uma efectiva solidariedade social que faz jus à real defesa dos Direitos Humanos. É o caso das IPSS's, laicas ou de origem religiosa e das próprias Religiões que, no âmbito dos seus espaços, das suas competências e das suas áreas de influência, desenvolvem um trabalho real e meritório no apoio a cidadãos carenciados. Interessante e digno de nota, para esclarecer os espíritos desconfiadamente obscurecidos pelos preconceitos, é o facto das próprias instituições procederem de forma laica sem qualquer exigência ou pedido de fidelização religiosa aos que recorrem aos seus inestimáveis serviços. Vivemos, de facto, numa sociedade e num Estado que é e deve, inquestionavelmente, manter uma filosofia política de gestão objectiva e inequivocamente laica mas, a verdade é que os cidadãos, a sobrevivência e a dignidade da existência são, incontornavelmente, o primeiro valor do Estado Democrático de Direito. Por isso, é natural que as instituições sociais manifestem grandes e justas preocupações com o cenário económico-social contemporâneo (ler Aqui), uma vez que, apesar de leigos, cristãos, católicos, muçulmanos, budistas, hindus e outros, organizados de formas várias, vão tentando debelar os efeitos do mais grave fenómeno social contemporâneo (ler Aqui, Aqui, Aqui, Aqui, Aqui, Aqui, Aqui e Aqui, entre muitos outros) sem que essa luta tenha quer o sucesso, quer o reconhecimento necessário e indispensável à visibilidade e continuidade do seu trabalho - que, lembremo-lo!, é um dever que cabe a todos e que deveria ser obrigatório, designadamente para os que, do aparelho governativo ao sector empresarial e, muito particulamente, ao sector bancário, são detentores dos meios financeiros capazes de assegurar um investimento concreto neste combate social de primeira necessidade!... Lutar Contra a Pobreza, de forma responsável e sutentada é o mínimo que podemos exigir à sociedade e à política no século XXI, um tempo em que presumimos ter interiorizado, nas Sociedades Democráticas e nos Estados de Direito, a plena e indefectível defesa dos Direitos Humanos.
POBREZA EXCLUÍDA
ResponderEliminarMote
Ser pobre e ser mendigo
Por não ter o que comer
Ser excluído triste castigo
Nunca devia acontecer
Glosas
1ª
Neste mundo tão desigual
Quem decretou a sentença,
De haver tanta diferença
Entre pobre e rico, foi fatal...
Mas há quem ache normal
Por só ver o seu umbigo;
Não desejo ao pior inimigo
Querer comer e nada ter,
É penoso assim viver…
Ser pobre e ser mendigo!
2ª
Dizem que a fome é negra,
Eu cá nunca lhe vi a cor;
Acredito que seja um horror…
Nada disso me alegra,
Como pode haver tal regra
Que divide logo ao nascer?
Nunca hei-de entender:
Uns têm tudo com fartura,
Outros cavam a sepultura
Por não ter o que comer!
3ª
Vive gente ao abandono
Não sabemos como resiste,
Tudo isto é muito triste!...
Ao poder não tira o sono.
Viver assim, puro engano!...
Não ter ninguém por amigo,
Sem usufruir de um abrigo
E não se poder fazer nada,
Pobre gente abandonada…
Ser excluído triste castigo!
4ª
A vida teria outro sentido
Havendo mais igualdade,
Seria bom de verdade
Tudo ser mais repartido...
Ter o essencial garantido!
Oh!... Como gostaria de ver
Um diferente amanhecer
Nesses olhares famintos,
Perdidos em solidão, aflitos…
Nunca devia acontecer!!
POETA
Cara Paula,
ResponderEliminarEste assunto, a pobreza, provoca em mim uma multiplicidade de emoções, que vão do mais puro ódio ao mais profundo desprezo pela espécie a que pertenço, a espécie humana. E sabe porquê? Porque levo várias décadas a pregar que o mundo de hoje produz o suficiente para que TODO O SER HUMANO possa dispôr dos bens indispensáveis à satisfação das suas necessidades. Mas também por esse facto, já há muito que acredito que a continuada denuncia da pobreza e a sua permanência nas sociedades de hoje, em última análise, se deve, para além do egoísmo de alguns, mais a indiferênça de outros, etc., à falta de uma enraizada vontade de cariz ideológico que aponte o caminho da luta contra a principal causa da pobreza: a moral dominante, que desculpabiliza o egoísmo, a indiferênça, a realização individual como o oposto da realização humana, o alheamento ao sofrimento dos outros como um factor de autonomia e superioridade social, etc., etc.. Não, as políticas são importantes, mas, se não suportadas em valores ético-políticos, duram a primavera de um momento, e a pobreza ou a luta contra ela tem de ser permanente. Quando se inventar uma sociedade onde a Liberdade e a Igualdade não sejam direitos atribuíveis por homens, mas condições de realização humana, daremos um passo(GRANDE)para a erradicação da pobreza, porque será erradicada a sua causa originária: a presunção de que a Liberdade, a Igualdade, a Verdade que são os valores que podem conduzir o SER HUMANO à Felicidade, são direitos sujeitos a convenções em que uns dão e outros aceitam. Sócrates, o verdadeiro,quis que a justiça era identificável com a igualdade, e já lá vão dois mil e quinhentos anos, entretanto, depois dele, já tantos e tão bons apologistas desta ideia em termos gerais deram o seu contributo para esta tese, e as expressões dolorosas da pobreza continuam a atormentar o dia-a-dia de quem tem olhos para ver e tem a sensibilidade bastante para se horrorizar diante dela. Desculpe.
Enquanto a Luta Contra a Pobreza e a Exclusão se confinar a um rol de boas intenções, não vamos lá. O importante é agir, como estão a fazer os países da América do Sul, que não precisaram de anúncios panfletários para combater efectivamente a pobreza
ResponderEliminarCara Ana Paula
ResponderEliminarOferece-me para comentar o seu (excelente texto) trazer aqui a palavra de alguém, no fim digo quem:
É erro associar políticas sociais a pobreza. Para combater a pobreza, a política económica é tão ou mais importante que as políticas sociais. Se temos gente pobre empregada, isto é um problema económico, não social.
Comecem imediatamente as reformas estruturais, olhando para os aspectos do rendimento , da desigualdade, da riqueza e da pobreza com a mesma seriedade com que se olha para problemas de actividade económica e de produção.
Quando o Presidente Obama quis alterar o padrão de desigualdade nos EUA, os ricos reagiram.Os nossos ricos não reagem, porque não são tocados."
ALFREDO BRUTO DA COSTA
( OUTUBRO /2010)
É verdade... Em ano europeu de combate à pobreza e exclusão, até parece um contra-senso tudo o que está a acontecer um pouco por todo o mundo, especialmente, em Portugal.É necessário voltar aquela parábola "ensinar o povo pescar em vez de lhe dar o peixe". Sem isto, nada feito.
ResponderEliminarVolto ao tema abordado já há algum tempo, a propósito dos ciganos. O PS, não quer acabar com a pobreza, tem distribuido mal a pouca fortuna que ainda vamos produzindo. Admitindo reformas de 10, 15, 20.000€, não é lutar nem tentar acabar com a pobreza é fumentá-la. Antes de Abril de 74, tentou-se acabar com os ricos, corrê-los do País ( mesmo indo buscar alguns depois ), conheciam-se todos os ricos. Hoje há mais ricos, uns conhecidos e muitos não. Fortunas feitas como? Aos anuncios de vamos acabar com a pobreza, quereriam dizer vamos acabar com os pobres, no sentido literal da palavra, ou ainda outra mais forte, dizimar ? Se assim foi estão quese a conseguir. Este Povo que tantos sacrificios tem feito, está prestes a passar fome e os senhores que tentam fazer acordos, estudos, chamem o que quizerem, para não tirarem subsidios a Instituições que ainda vão matando a fome a alguns, são os mesmos que anunciaram o aumento do IVA para 23%. Poderão alguma vez pessoas assim pensarem nos outros, nos que estão mal ? Não, não pensam, a única coisa em que pensam é como será quando se reformarem. Os outros ? Os outros que se l....., quero lá saber!!!
ResponderEliminarOlá Ana Paula
ResponderEliminarTem um "selo" para este blogue lá no Armazém de Pedacinhos. Sei que já o recebeu, mas julgo que o que importa, neste caso, é a intenção. E como acho que este blogue se enquadra perfeitamente no espírito do prémio, foi minha intenção deixar aqui esta recordação.
Um abraço :)
Benjamina
Poeta :)
ResponderEliminar... nem sei como agradecer estas extraordinárias Décimas que bem ilustram a pertinência do Ano Europeu de Combate à Pobreza.
Um grande, grande abraço e um beijo
José Luís,
ResponderEliminarFico sem palavras perante a contundência, incisiva e justa, deste texto, protesto lavrado sobre a profunda injustiça em que assentam ainda as práticas políticas e sociais - mais de 2.000 anos depois de "Sócrates, o verdadeiro", ter associado justiça e igualdade... resta-me, por isso, agradecer-lhe o excelente contributo que aqui partilha e desejar que continue a ilustrar-nos com o seu discernimento e sabedoria.
Um abraço.
Carlos,
ResponderEliminar... tem toda a razão... aliás, hoje, 3ªfeira, ao escrever o post sobre as notícias que o Financial Times dá do nosso país, ao terminar o texto lembrei-me deste seu comentário e reiterei a sua proposta que, como poderá ler, subscrevo.
Um grande abraço.
Obrigado, Rogério :)
ResponderEliminar...o Professor Alfredo Bruto da Costa é um intelectual da maior seriedade e alguém por quem nutro o maior respeito e admiração pela forma apaixonada e rigorosa como tem encarado, trabalhado e assumido o problema da luta contra a pobreza em Portugal!
Um grande abraço :)
Relógio de Corda :)
ResponderEliminar... é esse o cerne da questão: sem uma intervenção sistémica e sustentada, "nada feito" porque, além do assistencialismo imediato que é, de facto, indispensável para muitos cidadãos e muitas famílias, sem um trabalho de reestruturação socio-económica apoiado em que as pessoas possam ser integradas para recuperarem dignidade e autonomia, será impossível resolver o problema que tende a agravar-se a um ritmo assustador.
Abraço.
Caro Zéparafuso,
ResponderEliminarTem razão... todos nós sabemos que esse é um problema terrível que temos que enfrentar: a inércia política de todos os que, nas proximidades do poder, elegem como prioridades outras que não as de natureza social... quanto a nós, independentemente desta consciência, não podemos baixar os braços nem deixar de fazer ouvir a nossa voz...
Um abraço.
Querida Benjamina,
ResponderEliminarJá lá fui apgradecer e já inseri o Armazém de Pedacinhos na legenda do selo deste Prémio que consta na lateral (bem!) ilustrada da Nossa Candeia :))
Muito, muito obrigado.
Beijinhos :))
Não há pobreza maior do que, a de alma, de espirito e consciencia.
ResponderEliminarSem querer entrar em demagogias posso afirmar com toda a minha convicção que o ser humano só dará o tal passo em frente
quando algo de muito atroz acontecer a este planeta e nos puxe o tapete do egoismo da inveja,da ambição pelo poder ,da falta de compaixão e tantas outras coisas que facilmente me perderia aqui com as palavras.Pouco conheço do mundo e tenho pouca cultura mas acho que a democracia como lhe chamam é o melhor sistema em que podemos viver ,mas a falta de integridade e o desprezo pelo proximo das pessoas não nos deixa evoluir .A minha convicção é a de que se todas as pessoas fizessem o seu trabalho com rigor e a pensar no bem comum,ja era um passo gigantesco,até parece simples e é o ser humano é que anda perdido neste mundo á procura de si próprio quando bastaria olhar-se ao espelho e perguntar-se a si proprio "Precisa de ajuda?, O que que eu já fiz pelo meu semelhante?