... "Entre Dos Aguas" e "Concierto para Aranjuez - Adagio"...
Inesquecível... e ... Incomparável... a alma nos dedos, o coração nos acordes, o sentir no ouvido e a boca nas cordas... Paco de Lucia, Siempre!
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Da Erradicação Científica, Filosófica e Pedagógica da Violência...
... ou, de como a articulação transdisciplinar das neurociências e da reflexão filosófica pode conduzir à compreensão de que todas as ciências são sociais e, só exatamente aí, fazem sentido enquanto Saber. Entre a especulação e o experimentalismo, entre a biomedicina e a bioética, entre a tecnologia e a filosofia, entre a economia e a ética, há toda uma pedagogia a desvendar, revelar e partilhar! Para que seja evidente a existência de que há caminho capaz de prover à construção de uma sociedade menos egocêntrica e narcisística, mais humana, mais solidária e mais feliz... e se é importante ter esta consciência e este conhecimento por nós próprios e pela nossa atitude perante a vida, é igualmente relevante tomar como armas de reivindicação social e política aquilo que, por ser cientificamente válido e reconhecido, é, incontornavelmente, universal...
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
domingo, 16 de fevereiro de 2014
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Pedro Santos Guerreiro "Vende-se, Bom Preço"...
A realidade da política nacional e europeia é deprimente: incapaz de se renovar porque os seus protagonistas não têm a coragem, a capacidade, a competência e o arrojo de romper com os mecanismos da dependência financeira internacional, eis que, a poucos meses das eleições europeias, os partidos se relançam em campanhas de todos conhecidas - por tão repetidamente denotarem o quão pouco são capazes de editar a mobilização da vontade coletiva... A recusa (ultrapassadíssima, como o demonstrará a História!) da releitura do pensamento marxista e do seu estudo articulado com o que de melhor conseguimos analisar face às atuais lógicas de gestão e aos respetivos instrumentos de recurso, não ajuda à mudança de atitude nem à renovação do pensamento económico ou político que, como tudo o que de novo é bem-sucedido, requer pontos de partida válidos e interessantes que se constituam como desafios disponíveis para a reconstrução... Neste marasmo de inércia, neste deserto de ideias e nesta depressão coletiva a que a crise nos conduziu, anestesiando e boicotando os próprios percursos da dinâmica político-partidária, hoje, no Expresso (onde também merecem destaque a entrevista de António Capucho e a coluna da pg.5 assinada por Ricardo Costa), li um artigo que refiro pela qualidade reflexa da imagem essencial e paradigmática do mundo em que, de facto!, vivemos em Portugal: o seu autor é Pedro Santos Guerreiro, o texto intitula-se "VENDE-SE, BOM PREÇO" e termina assim:
"(...) Vendem-se anéis como se não fossem dedos, corpo como se não fosse a alma, palavras como se não fosse a palavra. Compra-se: submarinos, estradas vazias, bancos falidos e dívida pública cara. Sem devolução. Paz? Pás!"
... Sinceramente, vale mesmo a pena ler!
Etiquetas:
Economia; Política Nacional; Eleições;
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Sim, Podemos!...
A intervenção é de um Professor de Ciência Política e alerta-nos para as redes corporativas que sustentam os mecanismos partidários, inquinando a democracia! O problema não são os partidos e menos ainda a Democracia... o problema são os seres humanos, feitos de pequenos interesses, muitos defeitos, muitas ambições, pouco escrúpulos e pouca ética, muita capacidade racional de relativização e demasiado sentimento recalcado "a pedra e cal", de hierarquia e submissão que lhes não permite viver, afirmando ou assumindo o melhor da natureza Humanidade!... mas... mesmo assim: Podemos!... apesar do ar ditatorial sob o qual se oculta a opressão e a injustiça. dissimulados de um pretenso rigor que conhecemos sob o rosto e as máscaras dos governos e das impotências cobardes e medíocres das oposições!... Podemos!... apesar do medo... do medo do desemprego, da fome, da doença e do futuro sem esperança... Podemos! ... apesar dos cortes, das contas e da hipocrisia palaciana em que a política se transformou!... Acreditem!... e Façam!... porque SIM... porque... PODEMOS!
O Conto Tradicional - Memória, Identidade, Partilha...
A inauguração foi ontem, 5ªfeira, 13 de Fevereiro, em Évora... mas, a iniciativa vai prolongar-se até Abril... e é, indiscutivelmente!, imperdível! Por todas as razões que possam imaginar e por todas aquelas que a programação que, a seguir, se apresenta, pode suscitar:
O CONTO TRADICIONAL
MEMÓRIA | IDENTIDADE | PARTILHA
ÉVORA 13 DE FEVEREIRO A 30 DE ABRIL DE 2014
Centro de Recursos da Tradição Oral e Património Imaterial do Concelho de Évora
Divisão do Centro Histórico, Património, Cultura e Turismo
Câmara Municipal de Évora
PROGRAMAÇÃO GERAL
EXPOSIÇÕES
13 Fev a 30 de Abril
BIBLIOGRAFIAS SOBRE CONTOS TRADICIONAIS
Dia 13 (5.ª Feira) 18:00 – INAUGURAÇÃO
Dia 18 (3.ª Feira) 18:00 – Roda de Contos
Dia 19 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “OS NOVOS CONTADORES”
Dia 25 (3.ª Feira) 18:30 – Cinema “SILVESTRE” de João César Monteiro
Dia 26 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “OS CONTOS E AS MARIONETAS”
Dia 5 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “TEATRO / ANIMAÇÃO CULTURAL”
Dia 8 (Sábado) 16:00 – Marionetas pelo TRULÉ – “Bonecos do Mundo”
Dia 11 (3.ª Feira) 18:30 – Cinema “A PRINCESA PELE DE BURRO” de Jacques Demi
Dia 12 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “OS CONTOS E A MÚSICA CLÁSSICA” (audição)
Dia 15 (Sábado) 16:00 – Workshop Pim Teatro – “Histórias do Arco da Velha”
Dia 18 (3.ª Feira) 18:00 – Roda de Contos
Dia 19 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “LITERATURA E POESIA”
Dia 22 (Sábado) 16:00 – Pim Teatro – “O AUTO DE S. MARTINHO”
Dia 25 (3.ª Feira) 18:30 – Cinema “A FLAUTA MÁGICA” – Ingmar Bergman
Dia 26 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “EDUCAÇÃO FORMAL / NÃO FORMAL”
Dia 29 (Sábado) 16:00 – Workshop Pim Teatro – “HISTÓRIAS DENTRO DE UMA CAIXA”
Dia 2 (4.ª Feira) 18:00 – Roda de Contos
Dia 5 (Sábado) 16:00 – Era Uma Vez Marionetas – “O CAPUCHINHO VERMELHO”
Dia 8 (3.ª Feira) 18:00 – Cinema “A LENDA DA FLORESTA” – Ridley Scott
Dia 9 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “LIVROS E EDITORES”
Dia 12 (Sábado) 16:00 – Era Uma Vez Marionetas –“O CAPUCHINHO VERMELHO”
Dia 15 (3.ª Feira) 18:00 – Roda de Contos
Dia 16 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia “MULTICULTURALIDADE”
Dia 22 (3.ª Feira) 18:30 – Cinema “O LABIRINTO DO FAUNO” – Guillermo del Toro
Dia 23 (4.ª Feita) 18:00 – Tertúlia “O CINEMA E OS CONTOS TRADICIONAIS"
Dia 25 (6.ª Feira) 16:00 –Era Uma Vez Marionetas –“O CAPUCHINHO VERMELHO”
Dia 26 (Sábado) 16:00 – Era Uma Vez Marionetas –“O CAPUCHINHO VERMELHO”
Dia 29 (3.ª Feira) 18:00 – World Crisis Theatre – The Power of Crisis: Crise, Memória, Identidade
Dia 30 (4.ª Feira) 18:00 – Tertúlia – “OS CONTOS E AS ARTES VISUAIS”
INSCRIÇÕES nas diferentes atividades /espectáculos:
e-mail: 630@cm-evora.pt
Telem.: 965 959 000 (ext. 1682)
Marionetas/Teatro/Worshops – preços para Escolas: 2,50 €; Público em geral: 3,00€.
Exposições / Tertúlias / Rodas de Contos / Cinema – Entrada Livre
Horários de Abertura ao Público:
Dias Úteis: Das 9:00 – 12:30 e das 14:00 às 18:00
Sábados: Das 14:00 – 18:00
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
A Igreja Contra as Mulheres???!!!!
Enquanto as mulheres lutam nas ruas em Espanha, com o apoio das suas companheiras europeias, contra o retrocesso social a que a política de direita está a reduzir os seus direitos, há quem alimente a legitimidade da violação dos Direitos Humanos. É o caso do bispo de Alcalá de Henares que, como muita gente, nos tempos que correm, profere declarações que se constituem como verdadeiros atentados contra os mais diversos Direitos Humanos!... sem qualquer noção da gravidade política e social das suas afirmações destituídas de reflexão, de cultura e de consciência cívica... Afirmando que o feminismo ideológico é um perigo, o bispo de Alcalá de Henares sugere que seja retirado às mulheres o direito de voto... uma vez que, por outras palavras, ultimamente, andam a pensar excessivamente "por si próprias"!... justificando-se, por isso, o seu apelo a que se reze "por elas"!!! LER AQUI!
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Da Guerra Civil de Espanha... em Barrancos
Los Refugiados de Barrancos from Producciones Mórrimer on Vimeo.
(via Pedro Faria Bravo no Facebook)quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Do Encerramento das BELAS-ARTES....
"1. Foi a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa surpreendida com
uma notícia da comunicação social onde o Exmo. Secretário de Estado da Cultura,
Jorge Barreto Xavier, anuncia a assinatura do protocolo com vista ao alargamento
do espaço do Museu do Chiado.
2. Este alargamento é feito às custas de espaços devolutos no edifício do
Convento de São Francisco, e onde se encontra a Faculdade de Belas-Artes desta
Universidade.
3. Estes espaços foram há pouco tempo deixados devolutos pelo Ministério da
Administração Interna (Governo Civil e PSP).
4. A Universidade de Lisboa, e a Faculdade de Belas-Artes, têm estado
envolvidas nas negociações para partilha Museu+FBAUL+CML, com vista a um
protocolo que se encontrava em negociação e preparação.
5. Sem mais aviso, foi a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
surpreendida com o anúncio da assinatura da cedência de espaços apenas ao Museu
do Chiado.
6. Esta assinatura à revelia reveste-se de gravidade, pois consubstancia uma
deslealdade entre as restantes partes interessadas.
7. O Exmo Secretário de Estado da Cultura parece ter ultrapassado o Exmo
Ministro da Educação, que tutela a Universidade de Lisboa, bem como todo o
histórico do processo, para além das regras de boa-fé entre os
intervenientes.
Perante tais factos, o Diretor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de
Lisboa solicita a anulação do protocolo em causa, e esclarecimentos a nível do
Governo de Portugal.
Como forma de assinalar a indignação está encerrada a Faculdade de
Belas-Artes com efeito a partir das 8h00 de 6 de fevereiro.
O Diretor da Faculdade de Belas-Artes
Professor Doutor Luís Jorge Gonçalves"
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Miró - Entre a Ideologia e a Incompetência Cultural da Política...
Poderia até ser mesmo uma questão ideológica mas, não é!... Senão, vejamos: enquanto o governo espanhol se prepara para reduzir em 10% o IVA aplicável aos produtos culturais, o governo português continua a defender a venda de 85 quadros, inéditos, de Juan Miró... com a agravante de já ter sido colocada uma providência cautelar ao processo que nem sequer respeita a lei portuguesa que regula a venda do património cultural e depois da própria leiloeira Christies's ter impedido que as obras chegassem a licitação, a escassas 3 horas do início do leilão. No âmbito do brutal investimento na falhada compra do BPN, o único ativo recuperável pelo valor patrimonial inestimável que representa foram estas 85 obras que os atuais governantes portugueses querem vender como se desse produto resultasse a solução para a dívida externa portuguesa!!! Não resulta!... mesmo assim, insistem!... É caso para perguntar quem ganha com o favorzinho já que o montante que daí resultaria constituiria, como diz Joe Berardo, "peanuts" em relação à crise económico-financeira do país... enquanto a perda de autoridade moral internacional, a vergonha pela incompetência cultural da política nacional e o prejuízo no potencial ganho para o património em termos de arte contemporânea são, inequivocamente, incomensuráveis!
(Imagem do quadro "Carnaval de Arlequim" de Juan Miró)
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Do Património como Construção do Futuro - Sentido e Significado
"O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
As minhas palavras são como as estrelas - elas não empalidecem.
Como podereis comprar ou vender o céu? Como podereis comprar ou vender o calor da terra? A ideia parece-nos estranha. Se a frescura do ar e o murmúrio da água não nos pertencem, como poderemos vendê-los?
Para o meu povo, não há um pedaço desta terra que não seja sagrado. Cada agulha de pinheiro cintilante, cada rio arenoso, cada bruma ligeira no meio dos nossos bosques sombrios são sagrados para os olhos e memória do meu povo.
A seiva que corre na árvore transporta nela a memória dos Peles-Vermelhas, cada clareira e cada insecto que zumbe é sagrado para a memória e para a consciência do meu povo. Fazemos parte da terra e ela faz parte de nós. Esta água cintilante que desce dos ribeiros e dos rios não é apenas água; é o sangue dos nossos antepassados.
Os mortos do homem branco esquecem a sua terra quando começam a viagem através das estrelas. Os nossos mortos, pelo contrário, nunca se afastam da Terra que é Mãe. Fazemos parte dela. E a flor perfumada, o veado, o cavalo e a águia majestosa são nossos irmãos.
As encostas escarpadas, os prados húmidos, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencem à mesma família. Se vendermos esta terra, não ireis, decerto, ensinar aos vossos filhos que ela é sagrada. Como poderei dizer-vos que o murmúrio da água é a voz do pai do meu pai…
Também os rios são nossos irmãos porque nos libertam da sede, arrastam as nossas canoas, trazem até nós os peixes… E, além do mais, cada reflexo nas claras águas dos nossos lagos relata histórias e memórias da vida das nossas gentes. Sim, Grande Chefe de Washington, os nossos rios são nossos irmãos e saciam a nossa sede, levam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos.
Se vos vendêssemos a nossa terra, teríeis de recordar e de ensinar aos vossos filhos que os rios são nossos irmãos e também seus. E é por isso que eles devem tratá-los com a mesma doçura com que se trata um irmão. Sabemos que o homem branco não percebe a nossa maneira de ser. Para ele um pedaço de terra é igual a um outro pedaço de terra, pois não a vê como irmã mas como inimiga. Depois de ela ser sua, despreza-a e segue o seu caminho.
Deixa para trás a campa dos seus pais sem se importar. Sequestra a vida dos seus filhos e também não se importa. Não lhe interessa a campa dos seus antepassados nem o património dos seus filhos esquecidos. Trata a sua Mãe-Terra e o seu Irmão-Firmamento como objectos que se compram, se exploram e se vendem tal como ovelhas ou contas coloridas. O seu apetite devora a terra, deixando atrás de si um completo deserto.
Não consigo entender. As vossas cidades ferem os olhos do homem pele-vermelha. Talvez seja porque somos selvagens e não podemos compreender. Não há um único lugar tranquilo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desenrolar das folhas ou o rumor das asas de um insecto na Primavera.
O barulho da cidade é um insulto para o ouvido. E eu pergunto-me: que tipo de vida tem o homem que não é capaz de escutar o grito solitário de uma garça ou o diálogo nocturno das rãs em redor de uma lagoa? Sou um pele-vermelha e não consigo entender. Nós preferimos o suave murmúrio do vento sobre a superfície de um lago, e o odor deste mesmo vento purificado pela chuva do meio-dia ou perfumado com o aroma dos pinheiros.
Quando o último pele-vermelha tiver desaparecido desta terra, quando a sua sombra não for mais do que uma lembrança, como a de uma nuvem que passa pela pradaria, mesmo então estes ribeiros e estes bosques estarão povoados pelo espírito do meu povo. Porque nós amamos esta terra como uma criança ama o bater do coração da sua mãe.
Se decidisse aceitar a vossa oferta, teria de vos sujeitar a uma condição: que o homem branco considere os animais desta terra como irmãos.
Sou selvagem e não compreendo outra forma de vida. Tenho visto milhares de búfalos a apodrecer, abandonados nas pradarias, mortos a tiro pelo homem branco que dispara de um comboio que passa. Sou selvagem e não compreendo como uma máquina fumegante pode ser mais importante que o búfalo, que apenas matamos para sobreviver.
Tudo o que acontece aos animais acontecerá também ao homem. Todas as coisas estão ligadas. Se tudo desaparecer, o homem pode morrer numa grande solidão espiritual. Todas as coisas se interligam. Ensinai aos vossos filhos o que nós ensinamos aos nossos sobre a terra: que a Terra é nossa Mãe e que tudo o que lhe acontece a nós acontece aos filhos da terra.
Se o homem cuspir na terra, cospe em si mesmo. Sabemos que a terra não pertence ao homem, mas que é o homem que pertence à terra. Os desígnios terrenos são misteriosos para nós. Não compreendemos porque os bisontes são todos massacrados, porque são domesticados os cavalos selvagens, nem por que os lugares mais secretos dos bosques estão impregnados do cheiro dos homens, nem porque a vista das belas colinas está guardada pelos “fios que falam”.
Talvez um dia sejamos irmãos. Logo veremos. Mas estamos certos de uma coisa que talvez o homem branco descubra um dia: o nosso Deus é um mesmo Deus. Agora podeis pensar que Ele vos pertence, da mesma forma que acreditais que as nossas terras vos pertencem. Mas não é assim. Ele é o Deus de todos os homens e a sua compaixão alcança por igual o pele-vermelha e o homem branco.
Esta terra tem um valor inestimável para Ele e maltratá-la pode provocar a ira do Criador. O que é feito dos bosques profundos? Desapareceram. O que é feito da grande águia? Desapareceu também. Mas o homem não teceu a trama da vida: isto sabemos. Ele é apenas um fio dessa trama. E o que lhe faz, fá-lo a si mesmo.
Também os brancos se extinguirão, talvez antes das outras tribos. O homem não teceu a rede da vida. É apenas um fio e está a desafiar a desgraça se ousar destruir essa rede. Tudo está relacionado entre si como o sangue de uma família. E, se sujardes o vosso leito, uma noite morrereis sufocados pelos vossos excrementos. Assim se acaba a vida e só nos restará a possibilidade de tentar sobreviver."
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
As minhas palavras são como as estrelas - elas não empalidecem.
Como podereis comprar ou vender o céu? Como podereis comprar ou vender o calor da terra? A ideia parece-nos estranha. Se a frescura do ar e o murmúrio da água não nos pertencem, como poderemos vendê-los?
Para o meu povo, não há um pedaço desta terra que não seja sagrado. Cada agulha de pinheiro cintilante, cada rio arenoso, cada bruma ligeira no meio dos nossos bosques sombrios são sagrados para os olhos e memória do meu povo.
A seiva que corre na árvore transporta nela a memória dos Peles-Vermelhas, cada clareira e cada insecto que zumbe é sagrado para a memória e para a consciência do meu povo. Fazemos parte da terra e ela faz parte de nós. Esta água cintilante que desce dos ribeiros e dos rios não é apenas água; é o sangue dos nossos antepassados.
Os mortos do homem branco esquecem a sua terra quando começam a viagem através das estrelas. Os nossos mortos, pelo contrário, nunca se afastam da Terra que é Mãe. Fazemos parte dela. E a flor perfumada, o veado, o cavalo e a águia majestosa são nossos irmãos.
As encostas escarpadas, os prados húmidos, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencem à mesma família. Se vendermos esta terra, não ireis, decerto, ensinar aos vossos filhos que ela é sagrada. Como poderei dizer-vos que o murmúrio da água é a voz do pai do meu pai…
Também os rios são nossos irmãos porque nos libertam da sede, arrastam as nossas canoas, trazem até nós os peixes… E, além do mais, cada reflexo nas claras águas dos nossos lagos relata histórias e memórias da vida das nossas gentes. Sim, Grande Chefe de Washington, os nossos rios são nossos irmãos e saciam a nossa sede, levam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos.
Se vos vendêssemos a nossa terra, teríeis de recordar e de ensinar aos vossos filhos que os rios são nossos irmãos e também seus. E é por isso que eles devem tratá-los com a mesma doçura com que se trata um irmão. Sabemos que o homem branco não percebe a nossa maneira de ser. Para ele um pedaço de terra é igual a um outro pedaço de terra, pois não a vê como irmã mas como inimiga. Depois de ela ser sua, despreza-a e segue o seu caminho.
Deixa para trás a campa dos seus pais sem se importar. Sequestra a vida dos seus filhos e também não se importa. Não lhe interessa a campa dos seus antepassados nem o património dos seus filhos esquecidos. Trata a sua Mãe-Terra e o seu Irmão-Firmamento como objectos que se compram, se exploram e se vendem tal como ovelhas ou contas coloridas. O seu apetite devora a terra, deixando atrás de si um completo deserto.
Não consigo entender. As vossas cidades ferem os olhos do homem pele-vermelha. Talvez seja porque somos selvagens e não podemos compreender. Não há um único lugar tranquilo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desenrolar das folhas ou o rumor das asas de um insecto na Primavera.
O barulho da cidade é um insulto para o ouvido. E eu pergunto-me: que tipo de vida tem o homem que não é capaz de escutar o grito solitário de uma garça ou o diálogo nocturno das rãs em redor de uma lagoa? Sou um pele-vermelha e não consigo entender. Nós preferimos o suave murmúrio do vento sobre a superfície de um lago, e o odor deste mesmo vento purificado pela chuva do meio-dia ou perfumado com o aroma dos pinheiros.
Quando o último pele-vermelha tiver desaparecido desta terra, quando a sua sombra não for mais do que uma lembrança, como a de uma nuvem que passa pela pradaria, mesmo então estes ribeiros e estes bosques estarão povoados pelo espírito do meu povo. Porque nós amamos esta terra como uma criança ama o bater do coração da sua mãe.
Se decidisse aceitar a vossa oferta, teria de vos sujeitar a uma condição: que o homem branco considere os animais desta terra como irmãos.
Sou selvagem e não compreendo outra forma de vida. Tenho visto milhares de búfalos a apodrecer, abandonados nas pradarias, mortos a tiro pelo homem branco que dispara de um comboio que passa. Sou selvagem e não compreendo como uma máquina fumegante pode ser mais importante que o búfalo, que apenas matamos para sobreviver.
Tudo o que acontece aos animais acontecerá também ao homem. Todas as coisas estão ligadas. Se tudo desaparecer, o homem pode morrer numa grande solidão espiritual. Todas as coisas se interligam. Ensinai aos vossos filhos o que nós ensinamos aos nossos sobre a terra: que a Terra é nossa Mãe e que tudo o que lhe acontece a nós acontece aos filhos da terra.
Se o homem cuspir na terra, cospe em si mesmo. Sabemos que a terra não pertence ao homem, mas que é o homem que pertence à terra. Os desígnios terrenos são misteriosos para nós. Não compreendemos porque os bisontes são todos massacrados, porque são domesticados os cavalos selvagens, nem por que os lugares mais secretos dos bosques estão impregnados do cheiro dos homens, nem porque a vista das belas colinas está guardada pelos “fios que falam”.
Talvez um dia sejamos irmãos. Logo veremos. Mas estamos certos de uma coisa que talvez o homem branco descubra um dia: o nosso Deus é um mesmo Deus. Agora podeis pensar que Ele vos pertence, da mesma forma que acreditais que as nossas terras vos pertencem. Mas não é assim. Ele é o Deus de todos os homens e a sua compaixão alcança por igual o pele-vermelha e o homem branco.
Esta terra tem um valor inestimável para Ele e maltratá-la pode provocar a ira do Criador. O que é feito dos bosques profundos? Desapareceram. O que é feito da grande águia? Desapareceu também. Mas o homem não teceu a trama da vida: isto sabemos. Ele é apenas um fio dessa trama. E o que lhe faz, fá-lo a si mesmo.
Também os brancos se extinguirão, talvez antes das outras tribos. O homem não teceu a rede da vida. É apenas um fio e está a desafiar a desgraça se ousar destruir essa rede. Tudo está relacionado entre si como o sangue de uma família. E, se sujardes o vosso leito, uma noite morrereis sufocados pelos vossos excrementos. Assim se acaba a vida e só nos restará a possibilidade de tentar sobreviver."
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Carta do Chefe Índio Seattle ao Grande Chefe de Washington, Franklin Pierce, em 1854, em resposta à proposta do Governo norte-americano de comprar grande parte das terras da sua tribo Duwamish, em troca da concessão de uma reserva.
(via Rui Rebelo e Maria de Fátima Fitas no Facebook)
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Da Falta de Reflexão e Investigação Científica à Praxe Académica...
Vale a pena ler AQUI o artigo hoje publicado no jornal Público sobre a decisão institucional de deixar de investir nas ciências sociais... O país, vítima da crise e da incapacidade de autoestima e de afirmação, aceita e institucionaliza a incapacidade de pensar criticamente, sob argumentos que chegam à realidade absurda de ter que "parar" o país para pensar o problema das praxes académicas que são, inequivocamente!, o elogio da preguiça, da violência, da humilhação e da submissão a uma hierarquia gratuita, destituída de autoridade moral ... O problema da incompetência cultural e científica que subjaz às decisões e às práticas institucionais e sociais é um drama epidémico a que o país está a hipotecar a liberdade!... em nome de um passado sem luz e sem glória, por causa de um presente sem brilho e sem futuro!
Etiquetas:
Direitos Humanos; Sociedade; Política;
domingo, 2 de fevereiro de 2014
Meninos dos Bairros Negros... - Promessa de ouvir até ao fim...
... na voz do UXÍA... da Galiza...
... na voz de Mayra Andrade de Cabo Verde...
... na voz de Isabel Silvestre de Manhouce (Beira Alta)...
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