quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Do Deus-Menino...


... o culto que, do Tibet, no Tecto do Mundo, passando pela Índia e pela Europa Central, conhecemos neste extremo ocidental da Europa, por Menino Jesus...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Noite de Natal...

Natal dos Adultos...


A Canção dos Adultos

Parece que crescemos mas não.
Somos sempre do mesmo tamanho.
As coisas que à volta estão
é que mudam de tamanho.

Parece que crescemos mas não crescemos.
São as coisas grandes que há,
o amor que há, a alegria que há,
que estão a ficar mais pequenos.

Ficam de nós tão distantes
Que às vezes já mal os vemos.
Por isso parece que crescemos
e que somos maiores que dantes.

Mas somos sempre como dantes.
Talvez até mais pequenos
quando o amor e o resto estão tão distantes
que nem vemos como estão distantes.

Então julgamos que somos grandes.
E já nem isso compreendemos.

Manuel António Pina (1983). O Pássaro da Cabeça. Lisboa: 
A Regra do Jogo

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Do Cante Alentejano como Património Imaterial da Humanidade...

... O Alentejo espera hoje que a Unesco integre o Cante na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

De um Ex-Primeiro Ministro a um País sem Política...

O ex-Primeiro Ministro José Sócrates está detido a aguardar julgamento em regime de prisão preventiva, após 4 dias de detenção que integraram buscas domiciliárias, presença perante o Juiz e interrogatório. As acusações são de fraude qualificada, branqueamento de capitais e corrupção. Os outros arguidos, detidos no âmbito da "Operação Marquês", foram condenados a prisão preventiva: no caso do motorista, indiciado por fraude qualificada, branqueamento de capitais e porte de arma ilegal e no caso do empresário amigo de J. Sócrates, indiciado por branqueamento de capitais e corrupção. Quanto ao advogado deste empresário foi proibido de contactar os arguidos, tendo sido privado de passaporte e compelido à obrigatoriedade presencial semanal perante as forças de segurança, sendo o único a não ser condenado a pena de prisão. Independentemente do chamado "circo mediático"montado à volta da figura do ex-Primeiro Ministro (ler aqui a crónica de Clara Ferreira Alves), da figura constitucional da "presunção de inocência" (ler aqui diversos depoimentos sobre a questão), das desigualdades provocadas pela suspeição de judicialização da política e de politização da justiça (ler aqui a crónica de Marinho Pinto) até "prova de culpa transitada em julgado" e da legitimidade (ou não) da exposição pública de um suspeito... a verdade é que, de facto, "ninguém está (nem pode estar!) acima da lei". Por isso, o mínimo que um Estado de Direito Democrático exige ou exigiria (pelo menos a partir de hoje!), de forma inquestionável, seria, naturalmente!, a igualdade de tratamento e de oportunidades perante a lei!... Por isso, muitos mais deveriam estar a aguardar julgamento em "prisão preventiva" - se os juízes tivessem o discernimento e a coragem de levar até ao fim, no rigor da lei e da objetividade assertiva e prudente dos factos e dos indícios, as dezenas de processos graves que, nos últimos anos, têm avassalado o país (BPN, PT, Vistos Gold, BES - só para referir os mais recentes!). O problema é que vivemos num pequeno quintal onde o tráfico de influências assenta em, digamos assim, relações de vizinhança!, onde todos os que chegam ao exercício da política, o fazem em meandros onde a promiscuidade com o poder económico e a comunicação social é considerada normal e onde a teia de contactos e compromissos se sobrepõe ao interesse da exatidão da análise política e da decisão jurídica. Como disse Clara Ferreira Alves muito fica por explicar e como disse Marinho Pinto fica a suspeita da relação entre "Justiça e Vingança". Contudo, para além do exercício legítimo de toda a racionalidade especulativa, a verdade é que precisamos de um país com pessoas mais cultas e mais sérias, capazes de separar e respeitar a divisão de poderes, de não imiscuir (e de não cederem à sedução aparentemente fácil de imiscuir) os interesses públicos e pessoais e de manifestarem um efetivo sentido de responsabilidade social e sentido de Estado, capaz de resistir a todas as tentações financeiras a que cedem os pequenos "barões" e "marqueses" que, à falta de heranças nobiliárquicas, pensam que o mercado lhes legitima a apropriação sem critério, nas tramas discretas do tráfico de influências. Quanto ao oportunismo político das decisões é um efeito colateral... se não houver factos, nem suspeitas com dimensão que justifiquem a constituição de enredos processuais fundamentados, não haverá prisões preventivas por "excesso de zelo" ou simples rigor analítico, desta natureza e desta dimensão (a não ser que estejamos perante "polícias políticas" de má-memória). Incontornável é o facto do exercício dos cargos públicos implicar um perfil humano e profissional de excepção, incorruptível. Quem o não tiver, por sistema ou fraqueza pontual, ficará sujeito a estas realidades. Faltam os outros!... A operação "Mãos Limpas" em Portugal "encalha" a toda a hora em esquinas, disfarçadas por apenas uma "demão" de cal... e ninguém, por razões várias, raspa a camadinha do calcário para revelar o que se facto se oculta sob o "branco"! Ao invés de fazerem de conta que não é com eles, cada um dos que se reconhecem neste quadro abstrato de caracterização genérica, deveria, amanhã de manhã, manifestar a sua indisponibilidade (até podia ser "por razões de saúde" ou "motivos pessoais") para continuar a exercer cargos públicos! Quem terá a coragem de o fazer? Aposto que ninguém!... É pena!... E é por isso que continuaremos a viver entre lógicas políticas mesquinhas de vingança, retaliação, cumplicidade e corrupção!... Além disso, vem, "a talhe de foice", a referência de que, para além do valor analgésico da tentação do dinheiro, predominam a vaidade, a arrogância, o orgulho e o excesso de autoestima entre os protagonismos do nosso panorama político partidário que gera, por exemplo, oposições aparentemente mais radicais... tricéfalas!!!... e a impedir que o país se una, concertado, firme e viável numa alternativa que nos devolva a esperança e nos faça acreditar que... PODEMOS!... portanto, tristemente, a moral da história é apenas esta: "A Oeste Nada de Novo!"

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Da Música como Linguagem Universal...


 ... para homenagear Carlos do Carmo pela atribuição do 1º Grammy a uma voz portuguesa, a Rádio Comercial convidou 35 vozes que dão luz e cor ao Fado e aproximam Lisboa do coração do mundo! Vale a pena ouvir... e ver!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sonoridades Intemporais...


... e a celebração do "Grammy Latino de Carreira" para Carlos do Carmo (ler aqui).

Sonoridades Femininas...

Na voz de Nana Mouskouri:

sábado, 15 de novembro de 2014

Repensar a Educação...

Excertos da minha intervenção na IV Edição do "Pensar com Arte" (Alandroal):

"(...) segundo o autor de “Peter Pan”, J.M. Barrie (com a qual, aliás, se inicia também a obra de Bruno Bettelheim, Psicanálise dos Contos de Fadas):
«Quando um bebê ri pela primeira vez, o seu riso quebra-se num milhão de pedaços que saem pulando por ai. É assim que nascem as fadas.»
 


(...) Universais, os arquétipos em que assenta a estrutura narrativa dos “contos” integram seres fantásticos, dotados de poderes desejáveis mas não controláveis pelos seres humanos, que sobreviveram ao tempo pelo facto de representarem referências culturais fundamentais quer para a coexistência pacífica indispensável à sobrevivência societária, quer para a compreensão dos desafios perante os quais a dinâmica da vida coloca, desde logo, as crianças, e as expõe ao longo de todo o seu crescimento e desenvolvimento. Analogicamente, para melhor entendermos o papel dos personagens imaginários que integram, de forma estruturante, a maior parte das histórias, podemos dizer que, no caso da religião, falamos de deuses e, no caso da razão que se pretende subjacente à condução do imaginário na estrutura narrativa dos contos, falamos de seres invisíveis, dotados de vida, por virtude da arte ficcional da efabulação. (...) A importância da narrativa para o desenvolvimento intelectual dos mais novos torna-se crucial se pensarmos que é a partir do que vão conhecendo do mundo exterior que os pequeninos seres vão estruturando a sua forma de organizar ideias e que toda a verbalização se constitui como elemento integrável nessa narrativa - uma vez que ainda não detêm critérios culturais que lhes permitam classificar o que ouvem e o que observam, como mais ou menos autêntico e que a tudo, nessa fase, conferem significado (...). Confrontadas com a diversidade de situações a que a interação humana as expõe, as crianças precisam de ter disponível na sua mente, um quadro de possibilidades múltiplas de ações/reações consideradas adequadas perante o novo e o inesperado (ou o repetido mas não compreendido), a que possam recorrer não só para resolver problemas de forma autónoma mas, também, como forma de reação para evitar a reprimenda que rapidamente interiorizam como atitude dos adultos face às suas respostas consideradas desadequadas. (...)
 
(...) [Porém, veja-se o que acontece] no caso das produções contemporâneas em que [o mundo do] fantástico [evidencia o] afastamento da realidade [através do protagonismo de] “monstros” ou outros seres de natureza sobre-humana (como é o caso de crianças que habitam áreas espaciais onde são dotadas de poderes extraordinários e que remetem para o “futuro”), sem o menor grau de proximidade com a vivência quotidiana das próprias crianças, (condição indispensável para que se operacionalize a transferência que viabiliza a “catarse” e a “sublimação”), porque a sua natureza, bizarra e aberrante, dificulta a adesão complexa das emoções, minimizando o efeito das narrativas que, por muito básicas e lineares, rapidamente vão cair no esquecimento de quem as vê ou as ouve, no registo multimédia dominante que caracteriza a sua transmissão. De certo modo, o mundo da narração e da literatura infantil caminhou no sentido de incentivar o distanciamento entre personagens e ouvintes (ou leitores), provavelmente pela crença quase positivista (extemporânea, porque deslocada no tempo!) de que o excesso de fantasia pode afastar as crianças da realidade. E este é, se me permitem, um erro crasso porque, efetivamente, o mérito e a competência da narrativa inerente aos contos ditos “de encantar” ou “de fadas”, consiste exatamente no anular desse distanciamento, pela densidade descritiva dos cenários e da pluralidade de situações a que os personagens estão sujeitos, permitindo à criança libertar-se do mundo condicionado da realidade e projetar apenas o que de mais íntimo e menos verbalizado a possui (sonhos, medos, dúvidas, curiosidades e inquietações), num processo de libertação de inibitórios sentimentos que deixa a nu e sem vergonha de ser exposto, o oceano de perguntas que pode, a pretexto dos dramas e tragédias dos personagens, colocar aos adultos, para obter respostas que utilizará, na solidão da sua individualidade, a título de contributos para a construção de um lento mas firme processo de auto-esclarecimento, decisivo para a formação da sua personalidade e para a criação de modelos de avaliação com que tem que ir, incontornavelmente, pensando o mundo. (...)
(...) Pela sua competência descritiva e complexidade narrativa, os chamados “contos de fadas” são histórias dotadas de um potencial imagético quase cinematográfico que, do ponto de vista antropológico, resultam de um trabalho sofisticado ao nível literário (pensemos em Hans Christian Andersen, Charles Perrault ou nos próprios Irmãos Grimm) sobre antigas crenças e superstições populares (estou a lembrar-me do filme “Os Irmãos Grimm” que tão bem caracteriza esta sua vertente) ou sobre problemas suscitados por realidades sociais complexas que colocam o indivíduo perante situações difíceis que urge resolver, como acontece, entre outros, nos “blocos” de casos que passo a citar: a)      Branca de Neve e os Sete Anões”, “Cinderela, a Gata Borralheira”, “A Bela e o Monstro” ou “A Bela Adormecida” em que a inexistência de uma figura materna protectora e a exposição a figuras como as “más madrastras”, as “más irmãs” ou as “fadas más” e os pais ausentes (no sentido físico ou figurado) colocam as protagonistas como figuras indefesas, perante sentimentos de injustiça e sofrimento; b)      Hansel e Gretel” (história também conhecida pelo título: ”A Casinha de Chocolate”), “Rapunzel”, “A Princesa no Monte de Vidro” ou o “Gato das Botas” em que os protagonistas são sujeitos a desafios que requerem a ousadia do espírito de iniciativa e do exercício da auto-estima; c)      A Sereiazinha”, “Aladino e a Lâmpada Maravilhosa”, “O Rapaz que tinha um Segredo” ou “A Leste do Sol e a Oeste da Lua” em que os desejos dos personagens requerem o voluntarismo e a determinação através da realização de sacrifícios que implicam o cumprimento de penosas tarefas; d)     Sinbad, o Marinheiro”, “Ali-Bábá e os Quarenta Ladrões”, “A Rainha das Neves” e “O Anel de Bronze”, em que o esforço e a coragem dos personagens são premiados com a realização dos seus desejos, muitas vezes de forma imprevista.
(...) O que caracteriza estas composições é sempre, de qualquer modo, um mundo complexo em que o personagem principal (uma criança ou um jovem) se apresenta vitimizado pelo facto de ter sido surpreendido por realidades que, pela sua natureza dramática, lhe impõem sacrifícios e criam ambientes de desesperança, permitindo à criança uma projeção por analogia do seu “desconcerto” face ao mundo dos adultos, cujas regras não são, naturalmente, evidentes, aos olhos da impetuosidade infantil. Esta cumplicidade com os personagens, num quadro de solidão e incerteza face à necessidade de alteração ou entendimento dessas realidades, encontra então, nos contos clássicos, respostas que são, regra geral, suficientes, no sentido de se constituírem como contributos preciosos para que a criança construa a tríade cognitiva e comportamental de que precisa para sobreviver e coexistir: 1)      ser paciente em relação à sua própria inquietude; 2)      desenvolver uma atitude pró-activa de auto-estima que lhe facilite a integração social pacífica, sem perder a consciência crítica; 3)      criar resiliência através da esperança decorrente de acreditar na resolução dos problemas.
Nos dias que correm, pedagogos e psicólogos, educadores e pais, parecem desejar e pretender que as crianças, através de uma espécie de “domesticação” forçada pela ocupação maximizada dos seus tempos livres, sejam conduzidas, automaticamente, aos resultados supra-enunciados - como se a personalidade de uma criança pudesse reduzir-se à produção de um “reflexo condicionado” pela simples ocupação estruturada do seu tempo, com práticas que, contudo, decorrem do leque de escolhas disponibilizado pelos adultos. (...) De facto, tal como se constata em relação a uma maioria significativa das novas gerações que, não tendo sido confrontadas com privações materiais (porque os pais conseguiram níveis de vida capazes de as resguardar das dificuldades de subsistência, com que, em particular em Portugal, as pessoas estiveram familiarizadas até aos anos 70 do século XX), não se revelaram mais competentes no que respeita à integração societária, desenvolvendo, inclusive, formas graves de violência de grupo que se reveem, por exemplo, no bullying e na violência no namoro e a que não é alheia (antes, pelo contrário!) a influência dos modelos comportamentais mediatizados pelos jogos tecnológicos, os media e a própria cinematografia onde a violência emerge como forma de comunicação e de resolução de conflitos, contrariando o que a sociedade e a escola procuram, teoricamente, refletir em termos de valores democráticos, designadamente, a solidariedade e o respeito pela diversidade. Cientes de que a educação determina (ainda que não de forma exclusiva!) aquilo que podemos designar por “visão do mundo” e que subjaz às atitudes e práticas das crianças e dos jovens, cabe por isso, trazer à reflexão a presente temática do papel da narrativa que os contos materializam, através da qual se promove a comunicação e a interação e se pode desenvolver a reflexão sobre as formas de responder às dificuldades, reforçando a resiliência e incentivando a não-violência. (...)
(...) De facto, apesar do mundo de hoje se encontrar repleto de materiais de lazer e entretenimento, a verdade é que, nos últimos anos, se acentuaram as desigualdades sociais e, consequentemente, em virtude do constante aumento de uma pobreza que se pensava pertencer ao passado, estão também em crescendo, as dificuldades no que respeita à igualdade no acesso aos meios didáticos. Porém, às nossas crianças falta também o tempo de partilha de reflexão que os contos podem permitir através da audição, leitura e debate nos ATL’s e nas escolas… e esse é um recurso que não podemos dar-nos ao luxo de dispensar porque, para além de recursos materiais, de afeto e de atenção, as crianças carecem, fundamentalmente, de espaço para o exercício da liberdade de pensar, ouvir e tentar compreender-se a si próprias e ao mundo onde vivem. E isso é trabalho de reflexão… é trabalho de reflexão, essa dimensão pedagógica muitas vezes subvalorizada e à qual urge conferir visibilidade, tornando-a uma prioridade do trabalho educativo, independentemente do escalão etário com que se trabalha.(...)
(...) As crianças precisam das fadas e da magia porque só o reino do imaginário lhes permite libertar-se dos constrangimentos do real quotidiano e só as narrativas com heróis com que se possam identificar, lhes viabilizam a possibilidade de encontrar formas de reação aos problemas e aos desafios que o dia-a-dia coloca. Nos “contos de fadas” não se ocultam os problemas sérios da vida como são a morte, a doença, a pobreza, a injustiça, a crueldade, a tristeza ou o desalento… mas, nos “contos de fadas” há também a celebração do esforço, da persistência, da bondade, da compensação pelo sacrifício, da alegria, da riqueza e do amor! Os “contos de encantar” são as narrativas em que “as fadas”, o acaso ou o mistério do inexplicável porque desconhecido, operam como promotores de factos que compensam os sacrifícios e o sofrimento, viabilizando a esperança e reforçando, no sub-consciente, a resiliência. É fundamental dar às crianças instrumentos que as não façam fugir de si próprias para se esconderem (distraídas em jogos desumanizados e repetitivos) mas que lhes permitam, pelo contrário, pensar, imaginar, distanciar-se de si próprias e do seu mundo para, pensando em personagens que lhes criam empatia em cenários complexos, se devolverem a si próprias mais ricas e com mais recursos para enfrentar os dias, as famílias, a escola e o mundo de competição e agressividade em que o ambiente social se está a transformar, cada vez mais vertiginosamente. Se pensarmos com cuidado, no mundo de encantar dos contos clássicos em que a magia e as “fadas” são fatores e personagens que interagem com o real, nenhum personagem resolve os seus problemas com violência (mesmo quando são vítimas da coação, da violência psicológica ou de maus-tratos) e sem passar por um período de dificuldades que, no final, consegue ultrapassar!… É essa a mensagem que é preciso que as nossas crianças interiorizem: tudo muda!... tudo é passageiro e todas as dificuldades se ultrapassam sem que necessitemos de recorrer à violência, com confiança, auto-estima, perseverança, esforço e… bondade! Por tudo isto, penso que não vale a pena insistir em desenvolver mais a mensagem que aqui vos trago: contem, leiam, comentem e estimulem a leitura, em todas as áreas deste magnífico trabalho que é a educação, dos chamados “contos de fadas”.(...)".
 



 
 
 
 

 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Um país desordenado...

Estamos na condição de país desordenado... desordenado em relação a tudo: à economia, à política, à cultura e a tudo o que daí decorre... Depois de ignorada a obrigatoriedade de fiscalização da qualidade do ar e da emissão de gases para a atmosfera, as grandes empresas poluentes negligenciaram as práticas de autocontrole, evidenciando uma completa ausência de responsabilidade social (a qual, como suspeitávamos, foi sempre encarada apenas como mera demagogia e marketing de propaganda do que se pode designar por: "politicamante correto")... Resultado: a emergência de uma calamidade ao nível da saúde pública com a eclosão do maior surto mundial da "doença do legionário" que disseminou a emissão da batéria "legionella" com tal dimensão que, a própria OMS, declarou o "surto" como problema grave de saúde pública!... Como se não bastasse e no contexto da prossecução do pretenso economicismo aplicado ao SNS (que ainda prevê encerramento de hospitais - para financiar a construção de pretensas substitutas mega-instalações hospitalares!) e da sua privatização, duas das maiores empresas nacionais com comparticipação pública (essenciais à manutenção de alguma soberania no que se refere à economia, uma vez que integram setores estratégicos como são o energético e o dos transportes), avançam a "passos largos" para um grau de privatização que deixa, obviamente de forma gravosa!, o país mais empobrecido - porque destituído de estruturas fundamentais à dinamização da economia: uma OPA sobre a PT e a privatização de 66% da TAP. Entretanto, a questão dos "vistos gold" (cuja razão de ser, do ponto de vista da justiça e da igualdade de tratamento e de oportunidades, não é, de todo, clara), que aos políticos "do arco da governação" não causavam dúvidas nem levantavam suspeitas (apesar da realidade, visível até na circulação das ruas, manifestar fundamentação para tal), revela-se uma rede de corrupção que integra altos quadros do Estado (designadamente, o Diretor do SEF, o Presidente do Instituto de Registos e Notariado e a Secretária-Geral do Ministério da Justiça) tendo sido detidos, ontem, 11 suspeitos de envolvimento em práticas ilegais que podem constituir-se como estruturalmente graves para a defesa da segurança e do interesse nacional... Num pequenino país, sujeito durante anos aos rigores da austeridade que incidiu apenas na diminuição dos direitos das pessoas e dos trabalhadores e no reforço continuado dos impostos, com o aumento exponencial do desemprego e da pobreza (25% das pessoas vive em estado de privação!!!!), a lógica ruinosa de destruição e desmantelamento social, político e económico que está a ser conduzida (com uma autoestima e uma cumplicidade assustadoras pelos aparelhos político-partidários nacionais!) chegou a um tal ponto que tudo é legítimo à crítica e à consciência da urgente necessidade de uma mudança radical!...

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sonoridades Intemporais...


... Inesquecíveis!... como tu :)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Da Liberdade das Escolhas Forçadas...

Dia 22 de Novembro, às 17h, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Slavoj Zizek profere a conferência: "The Freedom of a Forced Choice"... Incontornavelmente: A Não Perder!
 
Para quem não sabe, Zizek é o filósofo contemporâneo que, vivo, mais e mais radicalmente reflecte sobre a sociedade e a cultura dominante, equacionando e problematizando os axiomas e premissas em que assentam, propondo hipóteses alternativas ou, pelo menos, "dando a pensar" o que, em termos de cálculo, poderíamos designar por "probabilidades" e demonstrando os fundamentos racionais da desconstrução e da reconstrução que é indispensável à criação de condições subjetivas e objetivas para promover e realizar a mudança! (ler Aqui e Aqui sobre Salvoj Zizek)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Do Programa Económico do PODEMOS...

Transcrevo:
"A maioria dos portugueses despertou pela primeira vez para as mudanças da realidade politica em Espanha no passado fim-de-semana, quando o Podemos apareceu pela primeira vez nas intenções de votos à frente de PSOE e do PP. Conheça o que defende o movimento de Pablo Iglésias para as áreas económicas.
 
Redução da jornada de trabalho para 35 horas, diminuição da idade de reforma ou a criação de uma agência de “rating” europeias são algumas das políticas que o Podemos tem no seu programa, disponível na internet. Os gestores ouvidos pela Renascença dizem que uma coisa são as propostas que estão no papel de um programa e outra as medidas que a realidade obriga a escrever. Ainda assim, aqui fica para memória futura.

1. Programa de investimentos e políticas públicas para a recuperação económica, a criação de emprego. A reconversão do modelo produtivo que crie uma economia baseada na inovação e contribua para o bem comum tendo em conta os critérios de responsabilidade social, ética e ambiental.

2. Promoção do protagonismo das pequenas e médias empresas na criação de emprego, dando importância ao papel das instituições da economia social. Uma política de contratação pública favorável às pequenas e médias empresas que inclua cláusulas sociais na adjudicação dos contractos.

3. Redução da jornada de trabalho para as 35 horas semanais e diminuição da idade de reforma para os 60 anos.

4. Proibição dos despedimentos em empresas com benefícios fiscais
5. Auditoria dos cidadãos à dívida. Perceber quais as partes ilegítimas e interpor processos. Reestruturar o restante montante.

6. Conversão do BCE numa "instituição democrática" para o desenvolvimento económico dos países. Criação de mecanismos de controlo democrático, através dos parlamentos nacionais. Modificação dos estatutos desta instituição com a incorporação de objectivos prioritários que passem pela criação de emprego, prevenção de ataques especulativos e de apoio ao funcionamento públicos dos estados, através da compra de dívida nos mercados primários.

7. Criação de uma agência europeia de “rating” que substitua as três que agora determinam a política económica da UE. O Podemos quer que esta instituição funcione longe dos interesses das empresas privadas.

8. Sistema financeiro deve-se reorientar para consolidação de uma banca ao serviço dos cidadãos, com a democratização das caixas de aforro e dos bancos. Ampliação das competências do Banco de Fomento no apoio às PME. E proibição de instrumentos financeiros propícios à especulação como os fundos abutres.

9. Nacionalização de sectores estratégicos da economia. Recuperação do controlo público de sectores estratégicos como as telecomunicações, a energia, a alimentação, o transporte, a saúde, e a educação para que a população acesso universal a estes serviços. Limitar as privatizações de empresas reconhecendo o poder patrimonial que os contribuintes têm sobre as empresas públicas, portanto todas as privatizações devem estar sujeitas a um referendo.

10. Intercâmbio de informação fiscal entre as administrações tributárias europeias com sanções para quem não cumpra.

11. Obrigatoriedade de todas as multinacionais e as filiais apresentarem contas em termos globais e divididas por países. Estabelecimento de um novo modelo para evitar a dupla tributação e prevenir a fraude fiscal. Tipificar o delito fiscal a partir dos 50 mil euros e aumentar os meios de combate à evasão fiscal. Endurecimento das sanções por este delito, penalizando as entidades financeiras que ofereçam produtos que facilitem a evasão fiscal.

12. Impostos às grandes fortunas e fiscalidade progressiva sobre os rendimentos. Política tributária justa e orientada para a distribuição de riqueza que sirva um novo modelo de desenvolvimento.

13. Direito a um rendimento mínimo para todos com um valor mínimo superior ao limiar da pobreza."
 
(fonte: Rádio Renascença - excertos do texto de 07-11-2014 assinado por João Carlos Malta
via Renato Teixeira no Facebook)

domingo, 9 de novembro de 2014

Da Queda do Muro de Berlim - "Duas Vidas"

No 25º aniversário da queda do Muro de Berlim, fica a sugestão do excelente filme norueguês "Duas Vidas", onde se conta o drama humano implicado pela infiltração de membros da polícia política alemã STASI em famílias norueguesas... A ver!

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Sonoridades intemporais...



... Morreu Manitas de Plata... Morreu?!... Perene, a obra confere eternidade ao efémero...

(o vídeo chegou via Nuno Ramos de Almeida)

domingo, 2 de novembro de 2014

PODEMOS!... a 1ª Força Política nas Sondagens em Espanha!

Em Espanha, está a tremer o panorama político partidário do "arco da governação", perante o "PODEMOS" que já surge, nas sondagens, como potencial primeira força política, deixando para trás o PSOE e o PP... Imprevisível no tradicional quadro político-partidário europeu (apesar do precedente exemplo do SYRIZA na Grécia), o problema coloca a todos os partidos, povos e cidadãos europeus a questão: Como?... como é que isto é, de facto!, possível?... A resposta é simples: porque, para além de diagnósticos e críticas, o PODEMOS tem propostas e medidas para responder às necessidades das populações e das pessoas e à chamada "crise de financiamento" da vertente social do Estado, apresentando sugestões viáveis para o incentivo ao investimento e à criação de emprego, sem medo de enfrentar banqueiros e grandes empresas a quem exigem um pagamento proporcional ao lucro e ao volume de negócios, com a legitimidade requerida pela responsabilidade social que cabe a TODOS os agentes sociais - sem excepção! PODEMOS!... apesar de, em Portugal (quiçá, demonstração de mais um reflexo da inércia cultural -identitária?!- subjacente às pretensas dificuldades de aprendizagem da matemática das nossas crianças que bloqueiam perante a colocação de problemas ao invés de discernirem soluções -por medo, insegurança, dependência, cobardia e falta de autonomia e autoestima!?!), continuarmos "às voltas sobre nós próprios" a identificar problemas velhos, de há muitas décadas!, recusando dar o passo "em frente", que nos pode libertar da armadilha da ilusão do "fado" ou da "sina", resgatando o passado, recriando o presente e construindo o futuro! VALE A PENA LER AQUI, no EL PAÍS! porque sim: PODEMOS!

Sonoridades Femininas...

... com coração... p'ra ti...

sábado, 1 de novembro de 2014

Uma Viagem no Tempo...



Nasci 2 anos depois de Fernando Lopes ter realizado este filme, cuja luminosidade da imagem, a branco e preto, se valoriza entre o cante e o silêncio.
Esta é a autêntica cidade viva da minha infância - do Café Arcada e dos arcos cheios de homens (esse género que dominava, quase em exclusivo!, o espaço público), da Praça do Geraldo cruzada por autocarros azuis com tejadilho branco, da Feira de S.João com vendedores de tapetes de buinho, de cantarinhas e panelas de barro, de tachos e alambiques de cobre, de bóias e bolas de praia (a minha tinha a cabeça de um pato)... o mesmo circo e até o mesmo carrossel...
Évora, a das igrejas, dos espaços abertos, dos labirínticos circuitos de ruas desertas e das paredes muito brancas... Évora, a dos telhados altos, recortados e cruzados, a dos recantos por onde tanto passeei, calmamente pela mão do meu avô e, mais depressa, pela da minha tia, entre perguntas e respostas, entradas na Gráfica para comprar os pequenos livros das histórias que me encantavam os dias e os bolinhos da Académica e da Bijou...
Évora, a misteriosa princesa feita de portas desenhadas, janelas rendilhadas, corínticas colunas viradas ao céu e silêncios que persistem eternos.
Évora, uma espécie de encantado intervalo no penoso trabalho dos campos, durante os rigores do estio, quando o pó enchia a boca dos trabalhadores sem terra e, tantas vezes!, sem pão.
Évora, coração do Alentejo.
 
(o meu agradecimento ao Rui Arimateia que partilhou, no Facebook, este filme que, se me permitem a sugestão, se pode ver também, de uma forma extraordinária, se lhe retirarmos o som)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Do Orçamento de Estado 2015...

Se méritos socio-económicos positivos não tem, a verdade é que a discussão sobre o Orçamento de Estado para 2015 revitalizou o debate político em Portugal, devolvendo ao país um PS com capacidade crítica e analítica. De facto, há muito que se não ouviam intervenções substantivas como as de Vieira da Silva e de Ferro Rodrigues (as quais, apesar de terem sido transmitidas em direto na televisão, não consegui, à data inicial deste escrito, encontrar disponíveis na internet mas cujos links, posteriormente, um leitor me indicou tal como se pode ver abaixo) que fizeram, com rigor e qualidade, o diagnóstico do país real que somos porque para aqui fomos conduzidos e a que se seguiu o indispensável compromisso de António Costa sobre o cumprimento da Constituição, determinado pela decisão do TC, relativamente à reposição dos cortes salariais que o actual Primeiro-Ministro insiste em espartilhar, de acordo com interesses que ferem a justiça, a legalidade e a boa-fé requeridas pela defesa do Bem-Comum. E se do debate vale a pena voltar a salientar a qualidade da intervenção de Vieira da Silva (ouvir aqui) e o discurso de Ferro Rodrigues (ouvir aqui), a verdade é que é necessário muito mais trabalho e reflexão para a apresentação de propostas credíveis e viáveis por parte do PS, para que um programa orçamental alternativo justifique a confiança dos portugueses - que, da contundência das intervenções de ontem e hoje, pode sentir o começo do atear de alguma esperança. Entretanto, merece registo a referência de Passos Coelho à viragem económica que o Governo anuncia para 2015 porque, se era para "levar a sério", pensando no calendário eleitoral legislativo do próximo ano, o momento escolhido para o anúncio tem a credibilidade... de uma brincadeira própria do Halloween?!

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"Os Gatos Não Têm Vertigens"...

"Os Gatos não têm Vertigens" é, provavelmente!, o melhor da produção cinematográfica portuguesa dos nossos dias!. Incontornável, pelo extraordinário, doloroso e compassivo retrato da sociedade portuguesa dos nossos dias, o filme é, de facto!, a obra maior de António-Pedro Vasconcelos.
Com uma interpretação magistral de Maria do Céu Guerra, esta é uma história e uma forma de a contar que deixa, aos espectadores, um sentimento singular e ímpar de reconciliação com a vida, para além de todas as dores e de todos os dramas.
Da solidariedade inter-geracional à solidão e à crueldade, das relações sociais, interpessoais e familiares aos comportamentos individuais e de grupo, disfuncionais e desviantes, agravados pela(s) crise(s), num jogo complexo de linguagens, olhares e sentires, resgatados  à realidade sem rodeios, o argumento do filme brilha na expressão global do jovem José Afonso Pimentel e emerge, pontilhado de autenticidade, com as prestações de Nicolau Breyner, Fernanda Serrano, Ricardo Carriço e de personagens como "Fintas" e a sua mãe, em papéis secundários que acabam por o não ser pelo protagonismo com que ilustram o quadro da vida e da cidade.
"Os Gatos não têm Vertigens"!... Um filme de título improvável que faz, contudo!, todo o sentido e que marca, indelével mas inquestionavelmente, o cinema português do século XXI, registando, sem demagogia, a sociedade que somos neste tempo estranho que é, afinal, o presente!... Uma obra gratificante pela sóbria, delicada e intensa exaltação da solidariedade e, como tão bem disseste, dos "bons sentimentos". A não perder!

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Sonoridades Femininas...



... um presente de encantar trazido pelas fadas :)

(via António Pinho e Melo no Facebook)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Diwali - Tempo de Festejar a Luz...

 
Hoje celebra-se no calendário hindu mas, também, entre sikhs, budistas e jains, o Diwali, conhecido como Festival das Luzes, símbolo da energia positiva que se renova, coletivamente, todos os anos.
 
"Que o Festival das Luzes preencha todas as vidas com o brilho da felicidade e da alegria!"
 
(para conhecer melhor o sentido do Diwali ler aqui).

terça-feira, 21 de outubro de 2014

As comunidades indianas migrantes...



... fotógrafo justamente conceituado deste país maravilhoso que é a Índia, um dos maiores e melhores espelhos da Humanidade, onde a democracia e o sucesso se consolidam, vencendo e mudando progressiva mas, solidamente, uma espécie de caos que parecia eterno, vale a pena conhecer o trabalho de Pablo Bartholomew que, sendo datado e carecendo de alguns anos relevantes no desenvolvimento deste país-continente, é, ainda assim, notável para que possamos conhecer melhor o mundo em que vivemos...

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sonoridades Femininas...

... (via Maria de Fátima Fitas no Facebook)

sábado, 18 de outubro de 2014

Kobani - A Corajosa Luta das Mulheres Kurdas...


... porque, como elas próprias dizem, ´não há diferença entre homens e mulheres"!... particularmente quando se trata do direito à vida, à dignidade, à defesa dos direitos humanos e da paz!...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Da Crise e das "Ajudas" a Portugal e à Grécia como Resgastes de Bancos Alemães

A notícia, chocante!, decorre da entrevista que, Philippe Legrain concedeu a propósito do lançamento do seu livro European Spring: Why our Economies and Politics are in a mess (ou seja: "A Primavera Europeia: Porque estão uma confusão as nossas Economia e Políticas"). Philippe Legrain foi conselheiro de Durão Barroso, enquanto Presidente da Comissão Europeia e regista, sem dissimulações ou equívocos, a natureza da estratégia das chamadas "ajudas" a Portugal e à Grécia que nos conduziram à pobreza, à inércia e à dependência em que hoje se encontram os países do sul europeu. Publicada no jornal Público, a notícia que aqui transcrevo pode ser lida aqui:
 
"Philippe Legrain, foi conselheiro económico independente de Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, entre Fevereiro de 2011 e Fevereiro deste ano, o que lhe permitiu acompanhar por dentro o essencial da gestão da crise do euro. A sua opinião, muito crítica, do que foi feito pelos líderes do euro, está expressa no livro que acabou de publicar “European Spring: Why our Economies and Politics are in a mess”.
A tese do seu livro é que a gestão da crise da dívida, ou crise do euro, foi totalmente inepta, errada e irresponsável, e que todas as consequências económicas e sociais poderiam ter sido evitadas. Porque é que as coisas se passaram assim? O que é que aconteceu?
Uma grande parte da explicação é que o sector bancário dominou os governos de todos os países e as instituições da zona euro. Foi por isso que, quando a crise financeira rebentou, foram todos a correr salvar os bancos, com consequências muito severas para as finanças públicas e sem resolver os problemas do sector bancário. O problema tornou-se europeu quando surgiram os problemas da dívida pública da Grécia. O que teria sido sensato fazer na altura – e que era dito em privado por muita gente no FMI e que este acabou por dizer publicamente no ano passado – era uma reestruturação da dívida grega. Como o Tratado da União Europeia (UE) tem uma regra de “no bailout” [proibição de assunção da dívida dos países do euro pelos parceiros] – que é a base sobre a qual o euro foi criado e que deveria ter sido respeitada – o problema da Grécia deveria ter sido resolvido pelo FMI, que teria colocado o país em incumprimento, (default), reestruturado a dívida e emprestado dinheiro para poder entrar nos carris. É o que se faz com qualquer país em qualquer sítio. Mas não foi o que foi feito, em parte em resultado de arrogância – e um discurso do tipo ‘somos a Europa, somos diferentes, não queremos o FMI a interferir nos nossos assuntos’ – mas sobretudo por causa do poder político dos bancos franceses e alemães. É preciso lembrar que na altura havia três franceses na liderança do Banco Central Europeu (BCE) – Jean-Claude Trichet – do FMI – Dominique Strauss-Kahn – e de França – Nicolas Sarkozy. Estes três franceses quiseram limitar as perdas dos bancos franceses. E Angela Merkel, que estava inicialmente muito relutante em quebrar a regra do “no bailout”, acabou por se deixar convencer por causa do lobby dos bancos alemães e da persuasão dos três franceses. Foi isto que provocou a crise do euro.
Como assim?
Porque a decisão de emprestar dinheiro a uma Grécia insolvente transformou de repente os maus empréstimos privados dos bancos em obrigações entre Governos. Ou seja, o que começou por ser uma crise bancária que deveria ter unido a Europa nos esforços para limitar os bancos, acabou por se transformar numa crise da dívida que dividiu a Europa entre países credores e países devedores. E em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos para os credores imporem a sua vontade aos devedores. Podemos vê-lo claramente em Portugal: a troika (de credores da zona euro e FMI) que desempenhou um papel quase colonial, imperial, e sem qualquer controlo democrático, não agiu no interesse europeu mas, de facto, no interesse dos credores de Portugal. E pior que tudo, impondo as políticas erradas. Já é mau demais ter-se um patrão imperial porque não tem base democrática, mas é pior ainda quando este patrão lhe impõe o caminho errado. Isso tornou-se claro quando em vez de enfrentarem os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas. Foi claramente o que aconteceu em Portugal. As pessoas elogiam muito o sucesso do programa português, mas basta olhar para as previsões iniciais para a dívida pública e ver a situação da dívida agora para se perceber que não é, de modo algum, um programa bem sucedido. Portugal está mais endividado que antes por causa do programa, e a dívida privada não caiu. Portugal está mesmo em pior estado do que estava no início do programa.
Quando diz que os Governos e instituições estavam dominados pelos bancos quer dizer o quê?
Quero dizer que os Governos puseram os interesses dos bancos à frente dos interesses dos cidadãos. Por várias razões. Em alguns casos, porque os Governos identificam os bancos como campeões nacionais bons para os países. Em outros casos tem a ver com ligações financeiras. Muitos políticos seniores ou trabalharam para bancos antes, ou esperam trabalhar para bancos depois. Há uma relação quase corrupta entre bancos e políticos. No meu livro defendo que quando uma pessoa tem a tutela de uma instituição, não pode ser autorizada a trabalhar para ela depois.
Também diz no seu livro que quando foi conselheiro de Durão Barroso, o avisou claramente logo no início sobre o que deveria ser feito, ou seja, limpar os balanços dos bancos e reestruturar a dívida grega. O que é que aconteceu? Ele não percebeu o que estava em causa, ou percebeu mas não quis enfrentar a Alemanha e a França?
Sublinho que isto não tem nada de pessoal. O presidente Barroso teve a abertura de espírito suficiente para perceber que os altos funcionários da Comissão estavam a propôr receitas erradas. Não conseguiram prever a crise e revelaram-se incapazes de a resolver. Ele viu-me na televisão, leu o meu livro anterior (*) e pediu-me para trabalhar para ele como conselheiro para lhe dar uma perspectiva alternativa. O que foi corajoso, e a mim deu-me uma oportunidade de tentar fazer a diferença. Infelizmente, apesar de termos tido muitas e boas conversas em privado, os meus conselhos não foram seguidos.
Porquê? Será que a Comissão não percebeu? A Comissão tem a reputação de não ter nem o conhecimento nem a experiência para lidar com uma crise destas. Foi esse o problema?
Foram várias coisas. Claramente a Comissão e os seus altos funcionários não tinham a menor experiência para lidar com uma crise. Era uma anedota! O FMI é sempre encarado como a instituição mais detestada [da troika], mas quando foi juntamente com a Comissão à Irlanda, as pessoas do FMI foram mais apreciadas porque sabiam do que estavam a falar, enquanto as da Comissão não tinham a menor ideia. Por isso, uma das razões foi inexperiência completa e, pior, inexperiência agravada com arrogância. Em vez de dizerem “não sei como é que isto funciona, vou perguntar ao FMI ou ver o que aconteceu com as anteriores crises na Ásia ou na América Latina”, os funcionários europeus agiram como se pensassem “mesmo que não saiba nada, vou na mesma fingir que sei melhor”. Ou seja, foram incapazes e arrogantes. A segunda razão é institucional: não havia mecanismos para lidar com a crise e, por isso, a gestão processou-se necessariamente sobretudo através dos Governos. E o maior credor, a Alemanha, assumiu um ponto de vista particular. Claro que isto não absolve a Comissão, porque antes de mais, muitos responsáveis da Comissão, como Olli Rehn [responsável pelos assuntos económicos e financeiros], partilham a visão alemã. Depois, porque o papel da Comissão é representar o interesse europeu, e o interesse europeu deveria ter sido tentar gerar um consenso de tipo diferente, ou pelo menos suscitar algum tipo de debate. Ou seja, a Comissão poderia ter desempenhado um papel muito mais construtivo enquanto alternativa à linha única alemã. E, por fim, é que, embora seja politicamente fraca, a Comissão tem um grande poder institucional. Todas as burocracias gostam de ganhar poder. E neste caso, a Comissão recebeu poderes centralizados reforçados não apenas para esta crise, mas potencialmente para sempre, que lhe dão a possibilidade de obrigar os países a fazer coisas que não conseguiram impor antes. É por isso que parte da resposta é também uma tomada de poder."
(o conhecimento da notícia chegou via Senhor General José Loureiro dos Santos no Facebook)

sábado, 11 de outubro de 2014

Do Nobel da Paz à Violência...

Um dia depois de ter sido atribuído a Malala Yousafzai (paquistanesa) e a Kailash Satyarthi (indiano), o Prémio Nobel da Paz 2014, pelo protagonismo na luta contra a crueldade, a ignorância e a defesa dos direitos das crianças, surge, brutal!, a notícia da Unicef que se pode ler aqui e que passo a transcrever:
 
"O Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF chamou hoje a atenção para «a magnitude da violência» contra as adolescentes, a propósito do Dia Internacional da Rapariga, que se assinala no sábado. Quase metade das adolescentes considera que, nalguns casos, é admissível que um parceiro bata na mulher, indica um relatório da UNICEF.
 
Quase uma em cada quatro raparigas adolescentes é vítima de violência física”, ou seja, aproximadamente 70 milhões, entre os 15 e os 19 anos, recordou num comunicado.
 
A agência da ONU faz uma nova compilação da dados já divulgados, nomeadamente no relatório apresentado publicamente no início de setembro “Escondido à vista (Hidden in plain sight)”, o maior trabalho alguma vez realizado sobre violência contra as crianças, baseado em dados de 190 países.
 
“Cerca de 120 milhões de raparigas menores de 20 anos (cerca de uma em cada 10) tiveram experiências de relações sexuais forçadas ou outro tipo de atos sexuais forçados”, assinalou.
A UNICEF lembrou ainda que “mais de 700 milhões de mulheres hoje vivas casaram antes dos 18 anos” e “mais de uma em cada três (cerca de 250 milhões) entraram numa união antes dos 15 anos”.
No comunicado, a organização revela igualmente preocupação com as “perceções erradas e prejudiciais sobre a aceitação da violência, particularmente entre as raparigas”: a recusa de relações sexuais, o sair de casa sem autorização, discutir ou queimar o jantar são justificação para que um homem bata na companheira para quase metade das raparigas entre os 15 e os 19 anos, de acordo com os dados.
“Estes números refletem uma mentalidade que tolera, perpetua e até justifica a violência – e devem fazer soar um alarme a toda a gente, em todo o lado,” afirmou Geeta Rao Gupta, directora-adjunta da UNICEF.
 
Manter as raparigas na escola para que adquiram “competências cruciais”, dialogar com as comunidades e reforçar os serviços judiciais, criminais e sociais podem prevenir a violência, aconselha a organização."
(via Diário Digital/Lusa)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

PODEMOS - Um Rasgo de Coragem...

Provavelmente, haverá quem estranhe o quão pouco tenho escrito sobre a política nacional, a governação e a própria oposição, apesar da gravidade com que vertiginosamente quebram e desfazem o que resta do país... Pois... confesso que é intencional porque, sinceramente, não tenho vontade de perder tempo com intrigas e conversinhas "de café", a propósito do que é, por natureza, profundamente sério! Não tenho, por isso, qualquer motivação para gastar tempo a falr ou a escrever sobre quem é completamente incapaz de pensar solidária e objetivamente, ignorando a falta de nobreza e de responsabilidade social inerente às práticas que trocam a vida das pessoas e a soberania de um povo pelos interesses dos mercados e dos credores internacionais, sem argumentação minimamente válida, numa demonstração absoluta de inércia mental e cultural, capaz de optar pela crueldade, fingindo-a trágica, como se um destino pré-racional se tratasse... Talvez o meu silêncio seja a expressão da minha revolta e da minha decisão de não pactuar de forma alguma com este regime... entretanto, felizmente, vamos encontrando sinais de atitudes corajosas como convém à humanidade e à vida... e disso são pequenos exemplos a intervenção de Pablo Iglesias e as abordagens frontais do movimento espanhol PODEMOS que está em fase de preparação das Jornadas para o seu processo de constituição e que, aqui, partilho:
"Señora Morgerini, decía Woody Allen que no podía escuchar a Wagner porque le entraban ganas de invadir Polonia, y en esta comisión algunos escuchan tanto a Wa...gner que le entran ganas de invadir Rusia. Le pregunto si la actitud europea tan beligerante hacia Rusia no le parece que contrasta con la tolerancia y benevolencia europea respecto a Israel que incumple continuamente los derechos humanos y la legalidad internacional".
 
... Da sistematicidade da denúncia não corporativa do PODEMOS, temos também exemplo aqui:
"Falta de transparencia, de control para no permitir la corrupción del 1% enriquecido y, obviamente, falta de democracia por parte de los partidos del 78. Esto define los titulares sobre los avances en la investigación de las tarjetas Blacks... de Caja Madrid.
-Caja Madrid también concedió 62 millones en préstamos a 34 usuarios de las tarjetas.
-La dirección de Caja Madrid se negó a entregar a uno de sus consejeros un listado con movimiento de su tarjeta corporativa, esas que ahora investiga corrupción.
-Virgilio Zapatero, el exconsejero de la entidad financiera, acusa al PSOE de no buscar la verdad en el caso de las tarjetas y asegura que las declaraciones de Pedro Sánchez sobre el tema parecen buscar titulares de prensa más que la verdad y la justicia.
- El PP no dice cómo investigará si sus afiliados usaron la tarjeta Black de Caja Madrid, eso sí, les conceden el beneficio de la duda porque "muchos podían pensar que eso era legal".
 
.. e aqui:
"Un Tribunal de Cuentas donde de 600 empleados 100 tienen lazos de parentesco, y en el que los 12 miembros de la cúpula directiva son elegidos por los partidos de la casta y cobran una media de 112.000 al año, es una vergüenza. Estas prácticas violan la igualdad de oportunidades que sanciona la Constitución para el acceso a los puestos públicos.
¡Podemos y debemos acabar con esto!
"
 
...Saudável é também ver os argumentos de quem, com prestígio e honra, se lhes associa, com orgulho, declarando que as propostas do PODEMOS concretizam o que, até aqui, era uma espécie de argumentos censurados pelo(s) regime(s)... LER AQUI.

domingo, 5 de outubro de 2014

Sonoridades femininas...

... Para ti... de e rumo a Zion :)

Da República...

(via Maria Albertina Silva no Facebook)

Sonoridades...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Da homenagem a Mahatma Gandhi à Saudação a Alfredo Bruto da Costa

Mahatma Gandhi, de seu nome Mohandas Gandhi, o Gandhiji de todos os que nele reconheceram o grande, imenso e inesquecível trabalho que fez em prol da Índia e do Mundo, nasceu, faz hoje 145 anos, em Porbandar, na Índia. A homenagem pelo seu inexcedível esforço e pela luta indefectível com que concretizou a Não-Violência como prática política, é, por isso, incontornável.
A propósito de uma das frases que o celebrizaram, aproveito a oportunidade para saudar publicamente o Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa que, ao entrar no Conselho de Estado, dignifica um dos mais simbólicos órgãos de soberania da República Portuguesa. Pena é que não seja um cargo permanente porque de tudo o que vai ensinar, muito mais haveria a aproveitar por todos quantos aí irão aprender, perdendo o direito a invocar o desconhecimento do diagnóstico e das soluções que configuram a prioridade inequívoca da intervenção política enquanto intervenção social. Porque é urgente -e é possível!- uma Humanidade Melhor!

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

António Costa - "Este Cravo é Vosso"

António Costa é o novo Secretário Geral do Partido Socialista. Com uma vitória esmagadora sobre a liderança de António José Seguro que, nos últimos anos, retirou toda a visibilidade e credibilidade ao único partido com um historial capaz de vencer eleições legislativas e, no caso, vencer a coligação PSD/CDS, a frase da noite foi: "Este cravo é vosso!"!... E é... é um cravo que pertence a todos os portugueses que se mobilizaram para ir votar nas primeiras eleições primárias realizadas em Portugal e que dão a António Costa o protagonismo de ser o primeiro candidato a Primeiro-Ministro escolhido pelos cidadãos e não, apenas, pelos militantes de um partido.
A escolha do cravo e a frase que proferiu fazem jus à confiança que a sociedade nele depositou e acredito que António Costa honrará o povo e o cravo, como político inteligente, inovador, dotado de capacidade de iniciativa, capaz de trabalhar por objetivos e de os concretizar! António Costa é, além de uma pessoa muito inteligente, um homem de princípios e um homem de cultura! Foi bonito vê-lo com o cravo, ladeado por Manuel Alegre e Ferro Rodrigues! A sério: "Foi bonita a Festa, pá!"... agora, só falta o programa para fazer vencer o país, aproveitando os fundos estruturais da forma séria e competente que o País merece e propondo as reformas que devolverão alguma da dignidade perdida às condições de vida e aos serviços públicos que a Constituição consagrou como um Direito de Todos!... ah, sim... e transformar o Partido Socialista - ou, pelo menos, dinamizar processos no PS capazes de o tornarem um partido que o mereça... e ao Cravo... que é, como bem disse: Nosso!.  

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Histórias Inesquecíveis...


... hoje, recuperei um exemplar da 1ª edição de "Bela e Sebastião", da autoria de Cecile Aubry, publicado em Portugal em 1968, o ano em que a RTP transmitia, às 19h, a série do mesmo nome, de uma beleza ímpar pela autenticidade que transparecia das interpretações e dos cenários... Partilho aqui o genérico dessa série inesquecível que me fez apaixonar pela leitura de livros "a sério" e aproveito para deixar recordar quem dela se lembra, com algumas das suas imagens originais que são, naturalmente, fáceis de identificar por serem a preto e branco!... Entretanto, parece que há um realizador que decidiu voltar a filmar a história tal como foi contada nesta série que correu a Europa em 68... espero que seja verdade e que a qualidade não desmereça as vantagens que a tecnologia contemporânea proporciona!... porque, há uns anos, alguém se lembrou se fazer uma série de desenhos animados inspirada nesta magnífica história, retirando-lhe o dramatismo e a beleza que a tornam única e eu, simplesmente, fui incapaz de ver!... Senhoras e Senhores, "Bela e Sebastião" :))

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sonoridades Femininas...


... uma versão acústica de "Bimpé" na voz de Bukola Elemide ou Aṣa (pronunciado "Asha"), cantora e compositora francesa de origem nigeriana...

Sonoridades...




(via Rui Arimateia no Facebook)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Agradecer as Palavras, a Intenção e o Tempo...

Como agradecer, em simultâneo, todas as belas palavras, imagens e mensagens, expressões de amizade, antiga, recente ou virtual que, como um rito de encantamento, me dirigiram tod@s quant@s me felicitaram, no passado domingo, pelo meu aniversário? Talvez com a imagem mais pura da beleza! A tod@s o meu muito obrigado! 

... porque: "O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração"
(in "O Principezinho" de Antoine de St. Exupéry)


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Da Literatura como Construção da Cidadania - "Anuro, o Sapo, Sapinho..."

A convite do meu amigo António Luís Carlos, o premiado autor de literatura infantil Carlos Canhoto, escrevi o texto que agora, aqui, partilho! Recomendo vivamente a sua leitura atenta, em casa, nas escolas e em todos os espaços onde haja crianças e se cumpra a missão de as educar com o objetivo de delas fazermos cidadãos melhores, capazes de ajudar a resgatar a esperança do mundo em que vivemos! Depois de o lerem, espero que o comprem porque é, de facto, uma obra-prima da literatura infantil!
" A Literatura Infantil é uma festa!... Tem que ser uma festa! Tem que ser uma festa porque, enquanto instrumento de transmissão e valorização do conhecimento, enquanto veículo de aprendizagem e meio de formação, a literatura infantil tem a extraordinária responsabilidade social de ajudar a configurar as formas de ser e de estar dos mais pequenos, de lhes parametrizar os gostos estéticos e os juízos, as tendências e a ética.
Nesse jogo complexo de interações entre o objeto que é o livro infantil e a criança que o lê, há uma densidade carregada de sentido de que o autor tem que ser, necessariamente, consciente porque é essa densidade de “mais-valia”, com a capacidade transformadora de acrescentar qualquer coisa ao que se sabe, que as crianças procuram nos livros e nas histórias.
Se o livro desaparecer como tantos vaticinam, a perda e o retrocesso do ritmo de aprendizagem seria tal que, provavelmente, aumentaria exponencialmente o grau de agressividade e de violência social a que estamos constantemente sujeitos, também nas escolas sob a forma de bullying e assédio em função das mais discriminatórias e gratuitas razões – particularmente, porque os jogos tecnológicos com que as crianças e os adolescentes se distraem, veriam significativamente aumentado o seu grau de influência, em termos de capacidade alienante e de ameaça face ao desenvolvimento integral e harmonioso que é preciso promover nas populações mais jovens.
De facto, os jogos electrónicos assentam no desafio, na concorrência e na competitividade enquanto os livros assentam num estrutura narrativa consistente que requer reflexão e, por isso, os jogos despertam adrenalina e tensão ao invés dos livros que despertam tranquilidade e imaginação.
Carlos Canhoto, pseudónimo do autor do livro que hoje aqui vamos apresentar, materializa, com o suporte cromático vivo e simples da excelente ilustradora Rita Goldrajch a competência pedagógica e a natureza intrínseca da literatura infantil através de histórias que, com os pés assentes na terra, fazem sonhar, a propósito de realidades simples.
Carlos Canhoto descobre, revela e pinta narrativamente a realidade do mundo que habitamos e do chão que pisamos, conferindo-lhe a beleza que só a poesia do olhar pode encontrar. É disso que é testemunho a história de Anuro, o sapo sapinho que tinha um tesouro, um tesouro que, apesar de conhecido, se manifesta estranho, surpreendente e encantado perante a maneira de o contar.
Esta é uma arte rara, a de contar o mundo como se de um conto de fadas se tratasse (e talvez assim seja, se pensarmos na extraordinária oportunidade que temos de embelezar e aperfeiçoar a realidade dos dias) e conseguir transmitir essa ideia a todos, em particular, os mais novos.
Anuro é o sapo, sapinho que não precisa de se transformar em Príncipe, porque é belo e bom tal como é! Anuro é o sapinho que nos faz gostar, respeitar e sentir ternura até pelos sapos…
Anuro é um antídoto contra a discriminação introduzida nos pequenos espaços públicos para afastar pessoas de etnia cigana!
Anuro conquista, convence… e vence! Vence o mercado, a produção em massa, os clichés que sempre se deixam dizer nestas palavras.
Anuro é uma história simples, verdadeira, ilustrada com uma intensidade sem par que, compondo o seu próprio mundo, o partilha e que as Edições Poejo, com brio, dão hoje à estampa e a todos os públicos que tanto dele podem, construtivamente, aproveitar.
Anuro vai ser, talvez, o primeiro sinal de mudança que remete para a revalorização da natureza enquanto paisagem e terra firme da criação, dos alimentos saudáveis e da alegria.
E se dúvidas houvesse sobre a eficácia e a concretização dos objectivos expostos, Carlos Canhoto dá a resposta com um conjunto de iniciativas anexas à história de Anuro, que o tornam exemplar na concretização de todas as iniciativas pedagógicas: Anuro traz um jogo para os mais pequenos jogarem, uma canção (belíssima!!!) para todos cantarmos e um espaço em branco para que se possa pintar – recursos através dos quais Anuro se transforma num sapinho personalizado de fácil e empática apropriação afectiva por todos os leitores, qualquer que seja a sua idade.
E é de leitores, narradores, animadores e professores que, agora, Anuro precisa para que seja possível conferir mais beleza à realidade e mais sentido a todas as coisas…
… como o vem fazendo António Luís Carlos, um inventor dos dias e um criador de sonhos que, como uma espécie de alma guardiã e protectora, passa há décadas sobre as casas e as gentes, na forma de uma sombra discreta promotora da esperança que atravessa os campos que habita como um fôlego e que, como uma luz, dá, serena e discretamente, à comunidade, a vida, a cultura e a alegria com que, decisivamente, contagiou e fez crescer Mora.
Votos de Boa Leitura para todos os que irão conhecer e amar Anuro, o Sapo, Sapinho!"
Este meu texto de apresentação de "Anuro, o Sapo Sapinho" foi publicado no Jornal online "Alentejo em Linha" que vale a pena conhecer e pode ser lido também AQUI