quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

As Pontas do Arco-Íris


Hoje, 31 de Dezembro de 2009, depois do sol irromper após a chuva, a manhã sorriu em arco-íris... e, de repente, ocorreu-me: e se, afinal, uma das suas pontas fôr o final do ano e, a outra, o lugar onde nasce o Ano Novo? ...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Por um Saharaa Livre...



Conheci a luta do Povo Saharui na segunda metade dos anos 80 do já passado século XX, quando li o texto de António Vitorino de Almeida publicado pelo "O Jornal"... depois, encontrei em Badajoz um LP duplo, em vinil, claro!, gravado pela Frente Polisário e utilizei-o para o genérico do "Espaço Mulher" que mantive semanalmente, durante algum tempo numa das rádios regionais deste país, ao sul... Agora, depois da luta de Aminatou Haidar, enquanto aguardamos por um Sahara Livre, encontro, bom para a partilha em tempos que se querem de aproximação e cultura, elevação e discernimento, a voz de Mariem Hassan... um dos exemplos do heroísmo oculto que passa entre tanta (de)informação...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sinais para o futuro?!


O simbolismo é, na vida, na religião e na política, a dimensão de recurso dos indícios que recusamos negligenciar... mais ou menos, discreta ou evidentemente, lançamos mão do simbólico para aludir a factos capazes de destacar mensagens que actualizam o que, num determinado momento, pode não encontrar condições materiais de afirmação pública. Por isso, quase sempre, o simbólico é um acto de comunicação com o outro, expressão intencionalmente direccionada de um contacto assertivo com o exterior... e é exactamente nesta perspectiva que adquire relevância significativa, o conjunto de acontecimentos que marcam os últimos dias de 2009: a deportação de 4.000 cidadãos de etnia Hmong da Tailândia para o Laos, a execução de um cidadão britânico por posse de droga na República Popular da China, a detenção de um activista de direitos cívicos norte-americano na Coreia do Norte e a reivindicação da Al-Qaeda do recentissimo atentado falhado ao avião que se dirigia aos Estados Unidos e que despertou, de novo, o medo e a fobia da segurança no Ocidente. Tétrico, no meio de todos estes sinais, é o facto de, desta forma, se manipular a legitimidade do medo e se reduzir a esperança individual e colectiva no futuro que se vê condicionado nas aspirações de liberdade em que a democracia ainda nos permite acreditar.

Contributo para a Comprensão do Inesperado Paradoxo



"(...) O sentimento metafísico e o religioso são directamente opostos (...) O sentimento religioso é inteiramente irracionalizável, nem pode haver teologia, ou sociologia utópica, senão por engano ou por doença. O sentimento metafísico é racionalizável, como todo o sentimento de uma coisa definida, que basta tornar-se inteiramente definida para se tornar matéria racional, ou científica.(...)"


(Álvaro de Campos in

"Aviso por Causa da Moral")

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sons do Sul


... Tres Notas para Decir Te Quiero - um tema de Vicente d'Amigo...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Leituras Cruzadas

Quando a realidade nos interpela como acontece no que João Rodrigues escreve sobre "Confiança e Instituições" no Ladrões de Bicicletas, somos levados a pensar no estado da arte da nossa pertença a uma ideia de país (leiam-se "O Estado da Nação" de JMCoutinho Ribeiro no Delito de Opinião, "Esfera Armilar..." de Paulo Borges no Nova Águia e "Medricas" de Valupi no Aspirina B)... e o sentir que daí resulta leva-nos mais longe (leiam-se os textos "Uma Gota Rubra..." de Daniel Oliveira no Arrastão e "O Poder das Palavras" de Manuela Araújo no Sustentabilidade é Acção), deixando-nos entre o espanto (leiam-se os textos de Raimundo Narciso "Preservar a Memória..." no Memórias e de João Tunes "Uma Placa Escondida... e o resto" no Água Lisa) e a vontade de reagir... pelo menos como o fazem T.Mike em "Papa apela..." no Vermelho Côr de Alface, Rui Herbon no "Silent Night" em A Escada de Penrose e António Carlos Valera com "Ágora" e "O Sorriso de Mona Lisa" no Irrealidade Prodigiosa.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Sons de Dentro e de Fora...


... se, como dizia O Principezinho de St.Exupéry, "o essencial é invisível para os olhos", quem, dentro de nós, vê esse essencial invisível é, talvez, o sentir que se nos dá a conhecer através da voz... a voz de dentro, interior ou, em certos casos, também, a que é exterior... que o som dos belos sininhos que repicam cá dentro, no melhor de nós, nos permitam fruir com saúde e alegria, um Feliz Natal!... para dar o tom, aqui fica a interpretação de Plácido Domingo de uma "Ave Maria", composta por... Charles Aznavour! Um grande abraço e... até sábado!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um Pescador... em Belém!




(Dedicado a Manuel Alegre, o Autor e o Homem)



A Poesia Portuguesa, Camões, Sá de Miranda, António Ferreira, Bocage, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, fez-me pensar e defender, desde que me lembro de pensar sobre a matéria, que, no nosso país, a Filosofia se escreve sob a forma e sob os véus da linguagem poética. Por isso, hoje, quando o país, descrente, assiste ao que, nos seus palcos, se encena, ocorre-me o poema:
"Eu pescador que pesco por um instinto antigo
e procuro não sei se o peixe se o desconhecido
e lanço e recolho a linha e tantas vezes digo
sem o saber o nome proibido.

Eu que de cana em punho escrevo o inesperado
e leio na corrente o poema de Heraclito
ou talvez o segredo revelado
que nunca em livro algum será escrito.

Eu pescador que tantas vezes faço
a mim mesmo a pergunta de Elsenor
e quais águas que passam sei que passo
sem saber a resposta. Eu pescador.

Ou pecador que junto ao mar me purifico
lançando e recolhendo a linha e olhando alerta
o infinito e o finito e tantas vezes fico
como o último homem na praia deserta.

Eu pescador de cana e de caneta
que busco o peixe o verso e o número revelador
e tantas vezes sou o último no planeta
de pé a perguntar. Eu pescador.

Eu pecador que nunca me confesso
senão pescando o que se vê e não se vê
e mais que peixe quero aquele verso
que me responda ao quando ao quem ao quê.

Eu pescador que trago em mim as tábuas
da lua e das marés e o último rumor
de um nome que alguém escreve sobre as águas
e nunca se repete. Eu pescador."

(Manuel Alegre "O Oitavo Poema do Pescador"
in "Senhora das Tempestades - Livro III - O Livro do Pescador")

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Hot Club de Portugal e a Fénix



Steve Potts no Hot Club em Lisboa... o som e a imagem de uma eternidade que se não pode perder com a brevidade de um incêndio infeliz... Portugal tem que reconstruir o Hot Club... com urgência!... Pelo património musical português e por todos nós!... para que, qual fénix renascida, possamos voltar a um espaço ímpar da cultura portuguesa!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Quem tem medo de Manuel Alegre?

O que se tem especulado sobre as relações entre S.Bento e Belém, ou seja, entre o Governo e a Presidência da República, dá que pensar... de facto, o papel intervencionista do Presidente da República durante o ciclo eleitoral que terminou em Outubro, em defesa - ainda que mais ou menos velada - de um PSD sem programa e sem estratégia, e a actual vitimização de Cavaco Silva que, através da comunicação social, se tem procurado fazer nos últimos dias, conduz-nos a uma reflexão importante sobre as estratégias em curso relativamente às eleições presidenciais que nos vão ficando, cada vez, mais próximas. Para quem tem o interesse nacional como prioridade é fundamental não perder de vista, para além das tentações de protagonismo partidário, que a concertação estratégica e, acima de tudo, o desenvolvimento do país real que somos, tem que presidir às relações entre os orgãos soberanos da Nação, como garante de que ainda o somos, País e Pátria. Por isso, considerando, no actual quadro parlamentar português, a importância decisiva de uma Presidência da República capaz de defender, sem medo e sem cedências, a Democracia que o estado actual da economia fragiliza, e, por outro lado, a capacidade negocial que só a autoridade ético-política confere, penso que o nervosismo que as mútuas acusações da bipolaridade PS-PSD, exploráveis pelos media, viabilizam, reflectem, antes de mais, a consciência de que o capital de descontentamento dos sufrágios eleitorais do Verão, ainda sobrevive. Daí que considere que a vitimização e a frieza de Cavaco Silva face ao Governo e à Assembleia da República denotam o receio do apoio do PS à candidatura de Manuel Alegre à Belém... atitude que será, na verdade, a única atitude inteligente e estrategicamente eficaz, para assegurar a estabilidade indispensável ao repensar e reformar das políticas sociais e económicas de que o país, indiscutivelmente, precisa.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Contributos para a Teoria do Caos Económico-Social?



Quando em Portugal assistimos a uma quebra na produção de cereais de cerca de 40% e constatamos um decréscimo de consumo de pão da ordem dos 30%, é caso para se perguntar se estaremos a avaliar com realismo a crise económica e, consequentemente, social, que estamos a viver. O número de pessoas sem-abrigo, a pobreza, o custo e o nível de vida dos portugueses, denotável, de modo inequívoco, no desemprego que já ultrapassou a faixa dos 10%, constituem sinais evidentes de uma emergência social a que urge dar resposta imediata com o desenvolvimento de medidas excepcionais de combate à crise cuja natureza, sabemo-lo todos!, é, simultaneamente, nacional e internacional. Contudo, não se vislumbram mudanças significativas, no curto ou no médio prazo. Infelizmente, pelo contrário, constatamos uma espécie de disfuncionalidade injustificável em realidades tais como a que hoje vi anunciada na SICNotícias, sobre o facto do investimento destinado ao turismo ter a região de Lisboa a absorver 70% do orçamento estimado!!!... Assimetrias regionais, desenvolvimento sustentado, equilíbrio e coesão social - ficam assim como arcaismos dos modelos de desenvolvimento num país que nos esforçamos por pensar empenhado em sobreviver e consolidar o tecido social?... é que, para o caso de se não lembrarem, o tecido social somos, todos!, nós!!!

O Clima - entre a solidariedade e a escravatura


Hoje é Dia Internacional da Solidariedade! ... Felizmente, assinalamos a data... infelizmente, somos incapazes de gerir os problemas da Humanidade com a seriedade, o rigor e a boa-fé que nos requer a vida de Todos os Cidadãos do Mundo e a sobrevivência do Planeta. A Cimeira de Copenhaga foi a desilusão dos milhares de pessoas que, por todo o planeta, reivindicaram um acordo vinculativo e eficaz na redução de emissões de carbono e no cumprimento de todas as medidas reconhecidas como indispensáveis à sustentabilidade planetária. Uma desilusão previsível, registe-se... infelizmente, claro! Porque enquanto os políticos e os economistas de todo o mundo não assumirem as suas responsabilidades sociais no que respeita à coexistência dos povos e das culturas, a obtenção de acordos internacionais desta dimensão será sempre uma interrogação a que escapará um grande número de governantes, defensores de economias nacionais assentes em formas industriais de produção que justificam, na sua perspectiva etnocêntrica, o bloqueio. Entre o esforço de solidariedade, a consciência da gravidade do problema das alterações climáticas e a escravatura político-financeira das economias nacionais ao sistema de gestão monetária mundial que é decisivo alterar segundo critérios sociais e não economicistas, ficamos, todos, reféns de uma interdependência de benefícios constantemente adiados.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Na dúvida...



... porque, por vezes, ficamos entre o riso e as lágrimas, vale a pena repetir os ecos do mesmo sentir... aqui, com "É pra rir ou pra chorar" de Gabriel, o Pensador.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Da Corrupção em Portugal

Gostei de ouvir Vera Jardim, hoje, no programa Dia D, da SIC. Raramente se tem a oportunidade de ouvir um político, ex-ministro, deputado, agora responsável pelos trabalhos da Comissão que, na AR, vai estudar o dossier da corrupção, falar com tanta clareza sobre o problema. Fica assim claro, para os portugueses, que nem todos negligenciam o problema e que, de facto, há matérias em que se devem tomar novas medidas, inspiradas designadamente em procedimentos já em vigor em muitos países europeus. Porém, do que de mais útil foi dito, nomeadamente por corresponder à agenda das preocupações dos cidadãos relativamente ao enriquecimento ilícito e às práticas da corrupção, destaco a diferença entre dois conceitos, a saber, as modalidades designadas "corrupção branca" e "corrupção negra", cuja distinção nos permite discernir as abordagens que a sociedade pode e deve fazer, para uma avaliação justa do problema. De facto e com razão, os índices de percepção da corrupção a que aludimos num post anterior, encontram razão de ser não apenas na visibilidade mediática dos casos que, cada vez mais, se vão conhecendo mas, também, na confusão conceptual em que radica a representação social do fenómeno. Antes de mais, convém reconhecer que, na cultura tradicional portuguesa, o agora designado "tráfico de influências" era inerente à orgânica social, como resultado recorrente da pequena dimensão territorial do país, cujo tecido social facilmente se revia - e ainda se revê - em redes de interconhecimento reconstituíveis, sem necessidade de recurso a investigações policiais da especialidade, capazes de emergir por acção de um olhar socialmente crítico e, consequentemente, distanciado. Neste contexto, a negligência processual com que se elaboravam juízos era - e ainda é - responsável pelo facto do senso comum não identificar práticas socio-culturais com indícios susceptíveis de suspeição da corrupção... e é neste contexto que se pode e deve compreender a "corrupção branca", enquanto realidade complexa que implica o desenvolvimento de uma cultura de cidadania assente na transparência e na ética, capaz de nos permitir "filtrar" a elevada taxa de percepção da corrupção, em nome do rigor, da igualdade e da justiça. Porém e além do mais, a distinção desta dicotomia conceptual, tem o mérito de evidenciar a chamada "corrupção negra" em que o enriquecimento ilícito desempenha o papel de indicador fundamental na detecção de práticas que configuram inequivocamente os contornos do crime e que se ocultam na indistinção generalizada dos dois conceitos. Preto no branco, a realidade carece urgentemente de ser percepcionada objectivamente, para além da grande mancha cinzenta que parece cobrir, homogeneamente, a sociedade portuguesa.

A Urgência da Criatividade e o Bloqueio Educativo - bases para uma reflexão sobre o atavismo económico-social

Soube-se hoje que Portugal é o 3º país com mais elevado número de empregos perdidos no 3º trimestre de 2009... compreende-se assim mais uma das faces do desemprego e da ineficácia efectiva das formas de combate ao flagelo que, a jusante e a montante da "crise", se manifesta persistente no nosso país onde, há muito, a produtividade continua a "perder terreno" para a inércia endógena de uma economia que sobrevive pelo recurso a receitas artificiais e penalizadoras da vida e do esforço dos cidadãos, indispensáveis apenas porque, pura e simplesmente, não se desenvolvem alternativas produtivas revitalizadoras da dinâmica social. O problema não é um exclusivo da realidade portuguesa mas adquire contornos mais graves na medida em que essa gravidade é proporcional ao grau de sustentabilidade consolidada de cada economia nacional. Um dos problemas que estão na origem desta fonte de anomia social, aparentemente reconhecido por todos mas para o qual se não encontra capacidade de resposta nas instituições vocacionadas para o efeito, reside na educação e na sua falta de estímulos à criatividade que mantém, colectivamente deficitário, o investimento na inovação. A este propósito, como contributo relevante para a reflexão séria sobre as causas e o diagnóstico desta dimensão societária que o conhecimento - que tanto se proclama! - não assume, vale a pena registar e divulgar a sugestão que, em boa-hora, nos chegou através da Fada do Bosque, a propósito de um vídeo que pode ser visto AQUI.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O "Vulcão"




Chama-se Custódia Gallego e interpreta, até 20 de Dezembro, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D.Maria II, a peça "Vulcão" escrita por Abel Neves e encenada por João Grosso. Quem não viu, devia ir ver... porque se trata de um trabalho que devolve ao teatro a profundissima dimensão humana que o dignifica como Arte Nobre da Representação e da Vida... e se o texto é muito bom, a relembrar grandes clássicos da abordagem relacional dos seres humanos no mundo complexo dos sentimentos, dos juízos e das práticas, a encenação é perfeita na rigorosa adequação de uma espécie de luva que cabe apenas na mão para que foi desenhada, com uma luminotecnia e uma sonoplastia exactas, capazes de reforçar e redobrar a força dramática de Custódia Gallego - uma actriz que é uma força da natureza como há muito se não via... num monólogo com cerca de 90m, uma mulher, sózinha em palco, a uma muito reduzida distância dos espectadores, rasga a noite e preenche o espaço, com uma voz, um rosto e um corpo que, na sua profunda e densissima solidão, anima personagens, acções e sentires de uma narrativa a que se assiste, sem dela se ver senão a personagem que encarna, Valdete. "Vulcão" é inesquecível, imperdível e, como tal, ficaremos, seguramente, mais pobres se perdermos a oportunidade de conhecer esta obra e esta representação. Está de parabéns a dramaturgia portuguesa e o mundo da arte em Portugal!... Deixo-vos um excerto do texto de Abel Neves, publicado no programa: "(...) A verdade é que todos nós praticamos a arte do monólogo, uns mais do que outros, mais em murmúrio uns do que os outros, uns mais capazes de se fazerem ouvir, muitos irremediavelmente perdidos no enigma deste mundo. (...) "Vulcão" não é mais do que uma história que nunca existiu, mas que a fascinante disponibilidade de corpo e espírito de uma actriz consegue trazer ao palco para que possamos, talvez, não só restaurar - e para melhor - as arruinadas vidas de muitos, como precaver-nos - em muitos casos também - contra os malefícios de algumas acções e que, afinal, até têm bom remédio. Não é que o teatro faça milagres, porque os não faz, mas ajuda a pensar outras vidas, possíveis e melhores, e a clarear horizontes. Nós, os que com o público andamos no teatro, ainda vamos acreditando nisso."... Eu também!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Leituras Cruzadas

Neste momento poderemos interrogar-nos: estaremos perante as consequências da chamada crise que tem atravessado o mundo ou estamos, apenas e de facto, a enfrentar os efeitos do sistema económico-financeiro pelo qual se optou, num fascínio de mercados e tecnologias, próprio dos deslumbrados jogadores que se perdem nos casinos do planeta, jogando a roleta ou o poker com a vida dos que não passam de mão-de-obra aos olhos dos apostadores, perdendo o estatuto de cidadãos?... A verdade é que, no último ano emergiu, como se de um surto se tratasse, o extraordinário número de 20 milhões de pessoas desempregadas e abriu-se a possibilidade do número dos que nessa situação se encontram, em estado de longa duração, ascender aos 43 milhões. Entretanto, enquanto o mundo se defronta com constatações como a que refere Filipe Tourais no País do Burro, por cá, continuamos centrados nas pequenas perspectivas que nos oferece o nosso pequeno espaço doméstico onde só se limpam os cantos da casa que pensamos úteis à imagem que queremos que os outros construam de nós, como bem ilustram as observações de Sérgio de Almeida Correia no Delito de Opinião e como nos explica e deixa perceber JMCorreia Pinto no Politeia. De facto, sem que se perceba a pertinência e a excepcionalidade de alguns fenómenos que não ultrapassam a dimensão da vassalagem, o país continua a surpreender-nos inutilmente com "fait-divers" que mais não são que manobras de distracção alienantes e gratuitas (leiam-se as observações de T.Mike no Vermelho Côr de Alface)... talvez para contornar leituras que se podem sistematizar sob a forma que nos é apresentada por Valupi no Aspirina B mas que, seguramente, poderiam ser enunciadas em sentido contrário, exactamente porque, de tão inquinada a verdade e a justiça, mais nos não resta do que "duvidar, duvidar sempre", "de tudo e do seu contrário"... quem ganha? Perdemos todos... porque a ambiguidade e promiscuidade dos nossos mecanismos de controle social nos deixa apenas o sentimento do eterno empate técnico, que tanto apraz aos jogadores e tanto penaliza a República e os cidadãos... Boa notícia, a ajudar-nos a aguentar tanta ligeireza de espírito e tanto desprezo pela inteligência dos cidadãos é a que nos traz Eduardo Pitta no Da Literatura e o esforço de inovação que significa o aparecimento de um novo partido que fará rir muitos portugueses mas que, por exemplo, na Alemanha, tem já uma boa expressão eleitoral provavelmente por ajudar a percepcionar a vida de uma forma mais desinteressada, mais humana, mais solidária e mais holística (leia-se o texto de Paulo Borges no Nova Águia)... Porque, de facto, vale a pena investir no que, além de muito urgente, é, acima de tudo, importante... causas em que não podemos deixar de nos empenhar, em nome da sobrevivência, do presente e do futuro: por exemplo, as da luta contra as alterações climáticas e contra a pobreza (vejam-se as chamadas de atenção de Manuela Araújo no Sustentabilidade é Acção). Felizmente, nem todos os povos (como bem sinaliza Raimundo Narciso no PuxaPalavra), nem todos os cidadãos (como bem denota Loubna Houssein que escapa à fúria fundamentalista do Sudão e está agora em Paris, livre para viver como é devido a todos os cidadãos do mundo), nem todas as culturas!, se deixam seduzir e escravizar pelas manobras demagógicas do poder... e, neste contexto, vale bem a pena assinalar a presença dos Tibetanos na Cimeira de Copenhaga para defender e lutar contra a destruição do "Tecto do Mundo", o Planalto do Tibete (o facto é notícia no texto do Grupo de Apoio ao Tibete que se pode ler AQUI).

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Minaretes e Sinos versus Liberdade e Laicidade...










Minaretes, Sinos, Campainhas... símbolos de "chamamento", sinais de exercício de um poder dirigido a outrem... no espaço público, torres de igrejas e minaretes assinalam o local em que sacerdotes e almuadem chamam os fiéis à oração... igrejas e minaretes sacralizam o espaço, numa apropriação consentida pelo costume e a História dos povos, das culturas e dos lugares... Nos dias que correm, em sociedades que se pretendem laicas, democráticas e livres, sociedades que compreenderam já a natureza da necessária coexistência pacífica entre crenças, religiões, ideologias e identidades para a preservação de uma Humanidade que reconhecemos multicultural, sociedades em que o diálogo inter-religioso e a liberdade religiosa perceberam, unidos na sua diversidade e na prioridade do reconhecimento ao direito à paz e à igualdade, que a esfera do religioso pertence à dimensão dos direitos de cidadania, privados, com o direito ao respeito e ao reconhecimento de todos... não faria mais sentido, deixar igrejas e minaretes, sons de sinos e vozes de almuadem, no registo da construção histórica das sociedades em que vivemos? Ou valerá a pena reeditar guerras e conflitos (provocados, quiçá, intencionalmente, para o efeito) entre a diversidade do pensamento religioso, pretexto manipulável para o incendiar de conflitos sociais?... Não será mais adequado ao espírito democrático das sociedades laicas, a não exibição pública do poder religioso, dúbio poder de exercício da apropriação do espaço?... Porque a laicidade respeita a diversidade, garante a não-discriminação e permite o respeito e o reconhecimento da diferença, não seriamos todos mais iguais e mais livres se soubessemos resistir à tentação de exibir as fontes do nosso etnocentrismo e da nossa perigosa vontade de poder?

Aprendizagens e Reflexões em Jeito Latino...


... ler a imprensa, em Portugal, é dos exercícios intelectualmente menos estimulantes em que podemos investir... tempos houve em que lia 2 jornais diários nacionais todas as manhãs e todos os semanários, além de outra imprensa geralmente espanhola ou francesa... hoje, com facilidade sinto inútil a leitura dos jornais portugueses onde o rasgo cívico, intelectual e a própria liberdade de opinião mal encontram espaço para se pronunciar, entre linhas repetitivas e assuntos gastos até à exaustão... não, não se trata de não relevar o que é relevante e de o discutir exaustivamente... trata-se de alargar o leque de leituras e de interpretações, de promover uma informação diversificada e de qualidade e, mais que tudo, de, efectivamente, se reflectir na imprensa o mosaico de diversidade que somos... cultural, ideológica, intelectual... a ausência de um jornalismo sério de investigação e de uma opinião sustentada, reflectida e vária, cansa quem não procura a imprensa para, apenas, a reproduzir... porque quem busca informação quer pensar e não ler para saber como pensar... porque o que a liberdade e a democracia nos permitem é o direito de pensar que se não esgota - e muitas vezes nem sequer se revê- nos modos que nos induzem a deduzir... e quando falo na imprensa, falo na restante comunicação social que, no nosso país, progressivamente, se reduz à reprodução de uma agenda de interesses, cada vez mais óbvia e castradora... queixam-se da falta de leitores?... não me surpreende... bons leitores exigem melhores leituras... desculpem-me os bons e cada vez mais raros profissionais... mas, depois de ter lido o El Pais de hoje não resisti ao desabafo... ficam 4 exemplos de notícias e opiniões que vale a pena registar, entre muitos outros que vale a pena destacar dessa minha leitura: sobre a vitória de Evo Morales na Bolívia, sobre Victor Jara, sobre Haidar e a luta por um Sahara livre e o texto, brilhante, de Manuel Vicent... depois de lermos "nuestros hermanos" dá vontade de perguntar: O que cantam os poetas lusos de agora?... e, indo um pouco mais além, que cantamos nós, os europeus de hoje? ...

domingo, 6 de dezembro de 2009

O Apelo da Memória e o Sentido do Simbólico



"Plegaria a un labrador" é o cântico inesquecível de uma voz que pertence aos nossos dias e à eternidade da nossa História, num tempo em que a terra e os "campesinos" sofrem o genocídio de uma modernidade que não encontrou, apesar de tudo, uma forma equilibrada de nos permitir viver o Mundo com os direitos que temos e as justas expectativas que construimos... Victor Jara teve ontem o seu segundo enterro como bem se escreveu no El País que Osvaldo Castro nos fez AQUI chegar... Hoje, numa sociedade que vive ainda para a auto-gestão dos mal-distribuídos recursos, cabe lembrar o Direito de Todos a um Mundo Melhor, um Mundo que seja, de facto, pertença dos Cidadãos... nos dias que antecedem a Cimeira de Copenhaga que, por tantas cidades, tem levantado a voz de milhares em nome da urgente intervenção no que ao Clima se refere, lembremo-nos que o Ambiente, a Natureza, a Terra, a Sociedade, a Economia e, consequentemente, a Vida de Todos também depende de nós... se não nos aquietarmos às determinações financeiras com que se preocupam os gestores económicos e políticos, fazendo das cidades os reinos do betão onde se guardam dinheiro e instrumentos da sua reprodução, ao preço da vida dos reféns... simples cidadãos... que somos nós!

Património Poético...


... de Federico Garcia Lorca, "Romance de la Luna, Luna" (do "Cancionero Gitano" 1924-1927)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ilusionismos... entre a demagogia e a eficácia

Mais de 10% de desemprego é, de facto, para um pequeno país como o nosso, uma calamidade social que, por ser previsível, não se torna, por isso, menos dramática mesmo se comparada com taxas de desemprego de outros países europeus cujas economias detêm, apesar de tudo, um grau de sustentabilidade e, consequentemente, de recuperação, que em pouco ou nada se compara com o nosso!... assinalem-se as boas medidas que o PM anunciou na AR sobre o aumento do salário mínimo e a diminuição das contribuições sociais para as empresas como incremento à empregabilidade... medidas que são, apesar de tudo, paliativos! ... de resto, considerando que toda a arquitectura económico-social, a ser revista com rigor em termos de rentabilização das potencialidades inerentes à legislação vigente no nosso país, poderia contribuir para diminuir as formas de desperdício da produtividade que ainda temos e para aumentar a confiança dos cidadãos nas instituições nacionais - que tão necessária é ao investimento pessoal e social na revitalização económica - seria desejável que o combate à corrupção e ao tráfico de influências insistisse na fiscalização dos procedimentos públicos e que a transparência fosse regra de prática corrente, com fácil e regular acesso para a opinião pública, não apenas para o sector privado mas, para o sector público!... ao invés de se valorizarem códigos de boas práticas que, na realidade, não passam de de placebos porquanto o problema não é o desconhecimento da correcção de procedimentos mas, isso sim, o seu efectivo cumprimento... além disso, o excesso de "letra morta" descredibiliza o investimento nos procedimentos e aproxima-os da interpretação demagógica. Entre Ser e Parecer ou entre Eficácia e Demagogia corremos o risco de, com boas intenções, mais não fazermos do que promover manobras de distracção, que em nada contribuem para a urgente mudança que é indispensável ao funcionamento executivo e que radica, por muito que se fomente a propaganda, numa espécie de benévola mas indiscutível inutilidade que recorre à ilusão consentida... mas que, afinal de contas, persiste na continuidade da resistência à mudança...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Violência de Género no Espaço Doméstico, o lado invisível do não-dito



... a luta das mulheres é um combate silencioso contra os medos... os medos da sua própria fragilidade e os medos escondidos nos homens pela representação masculina do mundo em que vivem, onde lhes cabe o papel de proprietários e guerreiros... o mais extraordinário é que, já no século XXI e depois de tanta visibilidade, tanta legislação e tanta campanha, homens e mulheres continuem a recorrer à imposição da sua vontade pela força e à sua aceitação pela tolerância e a negligência no reclamar e praticar, de facto, os direitos de igualdade de género que as sociedades democráticas procuram valorizar... O assédio, a reacção instintiva, os modos de tratamento, as alusões em discurso indirecto, o imaginário popular e a sociedade de consumo, continuam presentes no nosso quotidiano sem que, grande parte das vezes, disso nos apercebamos e sem que isso nos suscite reacção... e quando acordamos para a realidade sempre que o crime público nos entra pela casa dentro, através da televisão ou dos jornais, não projectamos nessas realidades o extremar de atitudes que conhecemos e que vamos relativizando... como num jogo de espelhos que confunde os inseguros e os mais jovens, entre a promoção dos direitos que a sociedade vai apregoando, taciturna, e o exacerbar de uma cultura de moda que leva ao limite as representações tradicionais sobre homens e mulheres (a imagem sensual no vestuário e na postura corporal que acentua, dicotomicamente, a fragilidade feminina e a virilidade masculina), vivemos ainda um mundo onde a própria participação profissional feminina no mercado de trabalho se deixa reduzir às representações tradicionais da divisão sexual do trabalho... por isso, é fácil perceber a solidão silenciosa das mulheres que é, afinal, o lado invisível da violência social no espaço doméstico, na família e na transmissão educacional onde o exemplo continua a ditar a aprendizagem do não-dito.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Violência Contra as Mulheres



Muito se tem falado na violência doméstica e na violência de género, nomeadamente porque o passado dia 25 de Novembro assinala, simbolicamente, a preocupação social e política com o fenómeno. Entretanto, são cada vez mais os casos públicos destas formas de violência pela visibilidade que a comunicação social lhes confere e pela capacidade que as vítimas vão adquirindo no que à confiança institucional respeita, registado que é o aumento, por um lado, da quantidade de denúncias e, por outro lado, da produção legislativa nesta matéria. A discussão do problema é, porém, muito mais vasta e se a prioridade é, de facto, assistir às vítimas e prevenir a recorrência destes crimes ditos passionais, a verdade é que esta realidade é quase sempre reflexo de enormes dificuldades de afirmação pessoal e identitária por parte dos intervenientes que neles se envolvem, em contextos caracterizados por uma excepcional vulnerabilidade, directamente associada às afectividades que as carências socio-individuais configuram e os cidadãos tentam ultrapassar num mundo de silêncios personalizados em conflito com o mundo... Não há esquerda nem direita, nem religião ou ideologia nesta conflitualidade violentissima que grassa na privacidade e no espaço público... há, isso sim, uma dimensão cultural que permite encarar o outro com sobranceria e hipervalorizar o "próprio" como detentor do poder, para além de todos os valores e juízos que possam ser defendidos e enunciados... a violência é sempre expressão de uma representação de direito ao seu exercício e salvo situações extremas de auto-defesa, visa sempre exercer esse poder sobre o outro e... vencer. Independentemente de outras abordagens que aqui iremos , eventualmente, fazer sobre o tema, dá a pensar a possibilidade legitimada pela cultura tradicional da representação masculina da mulher assentar ainda numa perspectiva da sua dependência individual... uma espécie de infantilização da mulher, mãe e filha, objecto da protecção e da condescendência do mais forte... como se as mulheres não tivessem direitos de opção, opinião e decisão própria, como se todos eles dependessem da concordância masculina!... Infelizmente, o problema não se esgota na sociedade portuguesa e merece, também por isso, maior reflexão.

Para além do manto diáfano da fantasia...




A desertificação social dos territórios do interior é, em Portugal, na Europa, na América do Sul, na China e na Índia (para só citar os exemplos mais relevantes), o maior drama das sociedades contemporâneas e, consequentemente, da sociedade portuguesa... por muito que o ignorem, minimizem ou relativizem os políticos! O problema das megacidades que proliferam no planeta (de S.Paulo a Bombaim, da Cidade do México a Beijing, de um a outro continente, de norte a sul, de leste a oeste) persegue as tendências demográficas de um mundo que selecciona como território de eleição, o espaço urbano onde se concentram os investimentos económicos e financeiros que criam emprego e alimentam sonhos e expectativas, projectando ansiedades e ambições e transferindo desesperanças. Abandonada, a agricultura deixou sem futuro, pelo menos, duas ou três gerações... sem alternativas viáveis quer no campo, quer na cidade! ... consequências?... campos abandonados, anomia e êxodo rurais, desemprego urbano e um esvaziamento populacional de mais de um terço dos territórios nacionais... Não se trata, naturalmente, de "ressuscitar" a velha actividade agrícola tradicional; trata-se, isso sim, de saber que futuro económico e social vamos construir para, no presente e no futuro, responder às necessidades de uma população que não pode continuar a aumentar o número de habitantes das concentrações urbanas que, sem emprego ou habitação, alimentam os bairros sociais e clandestinos, as redes de excluídos e pobres que, mais ou menos directamente, engrossarão, inevitavelmente, as fileiras de uma economia paralela que hoje, nas megacidades, atinge já proporções desconhecidas mas quase, seguramente, a roçar a maioria silenciosa das suas gentes... Repito: ignorar e relativizar o problema é esconder a cabeça na areia! ... e, que eu saiba, ainda somos muitos os que preferem a condição humana ao estatuto de avestruz!... Talvez por isso me canse a política das intrigas, das suspeitas e da má-fé, da injustiça, da impunidade e da retórica demagógica e sobranceira em que os "poderosos" (no sentido dos que têm acesso ao poder, pelas várias vias de acesso que permitem a sua aproximação) se escutam e destratam, uns aos outros, convictos de que dispersam a atenção da opinião pública - para o que concorre, definitivamente, a cobertura que lhes é garantida pela comunicação social que atentamente lhes segue os interesses, sem razão e sem reserva... Entretanto, o mundo continua a girar e se não houvesse campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome, o próximo Natal seria o grito de fome de muitos e muitos concidadãos que já acorrem, sufocados pela pobreza, ao que seriam "petisquinhos" do 1º de Maio na Alameda (sim, eu vi!!!) para poderem ter a refeição do dia, convictos ainda de que, um dia, tudo será melhor, para todos...
(Este post foi também publicado AQUI)