sábado, 28 de fevereiro de 2009

A urgência imposta pela crise...



A questão que se coloca ao mundo contemporâneo e, em particular, às democracias europeias, é a de saber se a crítica gratuita e a demagogia especulativa, mais ou menos agressiva, são os melhores caminhos para, efectivamente, se enfrentarem os dramas sociais que a crise económico-financeira internacional agrava quotidianamente e cujo peso recai de forma ineludivelmente amarga sobre os cidadãos. O problema não está na aimples constatação ou enumeração das injustiças... o problema está na impossibilidade de nos remetermos à passividade, em nome de interesses narcísicos que maior satisfação alcançariam se o mundo avançasse apenas ao ritmo dos desejos e projectos de cada um... por isso, o que, neste momento, está realmente em causa é a capacidade de nos solidarizarmos em volta de um projecto sustentável capaz de intervir na evolução desta crise, restabelecendo a confiança dos cidadãos, combatendo o desemprego e lutando contra a pobreza. Todos não seremos demais!... pelo interesse público, pela salvaguarda das condições de vida das populações, pela democracia! A defesa dos interesses corporativos e o egoísmo não são, nos dias que correm, atitudes sérias e justas a ter para com os cidadãos. Hoje, mais do que nunca, a solidariedade é um dever ético! Permitam-me que o sublinhe com a poderosa voz de Miriam Makeba e o lindissimo "Soweto Blues"!

Vital Moreira...


O Partido Socialista está de parabéns! Ter Vital Moreira como cabeça de lista às eleições europeias é dar à participação portuguesa no Parlamento Europeu o brilhantismo de um homem, indubitavelmente de esquerda, culto, autónomo e inteligente! A Europa precisa de homens assim! Estamos todos de parabéns!... por tudo isto: Parabéns, Vital Moreira!

O Congresso do Partido Socialista...

Depois dos recentes acontecimentos nacionais em que a comunicação social envolveu de forma empolgada o nome do Primeiro Ministro, recorrendo à pura especulação até um grau exponencial que chegou a levar alguns a pensar que poderia estar em causa a continuidade governamental, no discurso de abertura do Congresso do PS, ouviu-se José Sócrates assumir a determinação pela transparência política como se, finalmente, hoje, a verdade voltasse a não ser receada pelo exercício do poder que nos habituámos a ver dominado pela demagogia. Interessante, o discurso de António Costa, orador de primeira água e verdadeiro mobilizador, apresentou de forma incisiva a Moção cuja coordenação geriu, salientando de forma clara os grandes aspectos que esse documento contempla, sem incorrer no erro de se lhes referir de forma equívoca ou condescendente; refiro-me ao casamento homossexual, relativamente ao qual defendeu os direitos para todos (nomeadamente à constituição de família independentemente da orientação de cada um), demonstrando que o tema pode ser abordado sem qualquer enfoque fraccionário e, à questão da regionalização que, por razões de coerência estrutural, deverá criar condições para ser efectivamente levada a efeito, após novo referendo que, desta vez, se anuncia capaz de vencer. Importante, o discurso de Ana Gomes, defendendo uma acção reformista mais eficaz do sistema fiscal, da justiça e do combate aos off-shores e aos mecanismos que materializam a corrupção, acentuou (designadamente pelo carácter combativo da euro-deputada que levou a bom termo uma luta em que se empenhou, praticamente sózinha, no que se refere à investigação dos voos da CIA sobre território nacional) o denominador comum que tem atravessado os discursos deste Congresso e que, de Fonseca Ferreira a Jaime Gama, afirma como prioridade política dos socialistas, o desenvolvimento de medidas contra a crise e o combate ao desemprego. Defendendo também a reforma económica num quadro de estabilidade esteve Jaime Gama e, particularmente incisivo no que respeita ao combate à corrupção e à política de off-shores, Vera Jardim que foi claro na determinação política com que a Moção de José Sócrates se apresenta no que respeita a esta matéria. Até ao momento, relevantes foram ainda as intervenções de Vieira da Silva, defensor do combate à desigualdade, do reforço da protecção social e das políticas sociais sustentadas e a de António Vitorino, que afirmou a defesa do emprego, da coesão social e da luta contra a pobreza como eixos orientadores do próximo ciclo eleitoral, essenciais à futura acção governativa. Destaque também para o facto de, de Fonseca Ferreira a Francisco Assis (que desdramatizou a influência política do BE, reiterando a confiança nos portugueses), ter sido comum o reivindicar de uma maioria absoluta que, como dissera António Costa, é necessária à estabilidade governativa porque "os tempos não estão para governos fracos". Ouvidas foram também outras vozes conhecidas: Paulo Pedroso, Jorge Lacão, Augusto Santos Silva, António José Seguro e militantes/delegados anónimos, muitos deles referindo o nome de Ferro Rodrigues como o de um bom cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu... Finalmente, numa comunicação aos jornalistas, Fonseca Ferreira anunciou que irá apresentar uma lista própria à Comissão Nacional do PS e que os militantes que o apoiam irão organizar a partir de Março, uma corrente interna a designar por "Esquerda Socialista"... Não sei o que esperava a oposição ou a comunicação social deste Congresso que, a priori, consideraram este evento, uns, como Vicente Jorge Silva um não-acontecimento, outros, muitos, um unanimismo à volta do líder e que outros ainda reduziram à participação ou não de Manuel Alegre nos trabalhos... mas, efectivamente, um partido detentor de uma maioria absoluta, responsável pela governação, no contexto de uma crise internacional inédita e após uma campanha demolidora contra o seu Secretário-Geral e Primeiro-Ministro, está a realizar um Congresso adequado e digno do momento político que vivemos, no quadro do que é próprio ao funcionamento democrático... pelo menos, é isso que resulta do acompanhamento dos trabalhos que as televisões nos permitem... apesar do desalento e da decepção que isso provoca à oposição já que, se o BE preferiria constatar um efeito gravemente perturbador do evento resultante do facto de Manuel Alegre não ter estado presente, se tem que contentar com a auto-representação de que o PS o elegeu como principal inimigo e que, o PSD, pela voz da Dra Manuela Ferreira Leite se vê reduzido a ter apenas como comentário político expressões reveladoras de imaturidade democrática, como foram a afirmação de que uma cimeira informal europeia é mais importante do que o Congresso de um partido de governo com 3 actos eleitorais "à porta" e cujo desespero político lhe permitiu apenas ouvir no Congresso do PS a defesa da eutanásia e do casamento homossexual... Ridículo? Quem?
(este texto foi progressivamente actualizado até às 19.20h de hoje, sábado)

Human Steps...



Os passos humanos percorrem e preenchem os caminhos... os percorridos e os que há por percorrer... como o denota "Amjad" dos "La, La, La Human Steps", qualquer que seja o ponto de chegada, a caminhada é sempre mais um passo no sentido da compreensão de si e do mundo... uma dança que se basta a si mesma e encontra continuidade no olhar do outro.

Notícias do dia...

Além do Congresso do PS cujos trabalhos se iniciaram ontem e que merece a nossa atenção (ver aqui) para que se possa aferir do seu efectivo debate interno e do sentido inerente aos seus conteúdos que considero contrariarem a opinião de Vicente Jorge Silva (que, no Jornal das 9 da SICN de ontem, considerou o evento um não-acontecimento), o DN de hoje noticia três factos que merecem destaque. Um, referente às declarações de Pedro Passos Coelho ontem à noite, em Carcavelos, onde afirmou que o PSD está a perder votos para o BE (ler aqui)... estranha afinidade é o comentário que a constatação sugere e que coloca, como questão que se segue, a de saber se o Bloco considera o facto uma vitória e um elogio dada, nomeadamente, a sua persistência crítica sobre a proximidade da actuação política entre PSD e PS... outro, o facto do Vaticano não ter retirado a excomunhão ao bispo Williamson apesar do seu pedido de desculpas sobre o negacionismo do Holocausto por considerar insuficientes as palavras do prelado que se podem ler aqui... o terceiro, refere-se ao caso do negócio da CGD com Manuel Fino (ver aqui) a propósito do qual subscrevo as palavras de João Abel de Freitas no PuxaPalavra.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Sentimento de Guerra... o peso de uma herança!


Difícil de fazer, o balanço sobre o número de vítimas na Guerra do Iraque deveria ser claro! Afinal, são 6 anos de Guerra!... 6 anos ao longo dos quais, como disse no seu mais recente discurso o Presidente dos EUA, Barack Obama, foram mais de 4.000 os soldados americanos mortos na guerra... entretanto, impõe-se a pergunta: e quantos soldados iraquianos morreram?... sem uma resposta exacta, sabemos contudo que, ia a guerra a meio (há cerca de 3 anos e meio), o balanço de vítimas civis variava, segundo as fontes, entre 100.000 e 150.000! Se o mundo está cansado desta guerra sangrenta e injusta, se o povo americano viu ocultados os funerais dos seus soldados mortos, pela comunicação social que tentou evitar, em assumida cumplicidade com a nada saudosa Administração Bush, a mobilização popular contra este conflito e o Governo norte-americano de então, qual será o sentimento do povo iraquiano? O que pensarão as suas populações feitas de homens, mulheres e crianças, iguais a todos nós? E o que sentirão quando, em todos os conflitos e particularmente na Palestina, projectarem os medos e desconfianças que se lhes materializaram na realidade quotidiana ao longo de todo este tempo? É urgente restabelecer a confiança entre os povos, as culturas e os Estados... porque, enquanto a guerra fôr o veículo relacional das relações político-económicas, não é sequer possível às populações percepcionarem a coexistência pacífica... os efeitos das guerras prolongam-se sempre muito além dos próprios conflitos... inquinando muitas vezes os processos e os períodos de paz.

Leituras Cruzadas...

Inadmissível é, efectivamente, o uso e abuso de alegadas faltas de memória em casos como o do BPN que João Abel de Freitas, no PuxaPalavra, resume de forma sintética e elucidativa... O caricato da situação torna extensível a outras dimensões sociais o teor da citação que Tomás Vasques escolheu para referir no Hoje Há Conquilhas... na realidade, ética e cultura estão muito aquém do que seria desejável numa sociedade laica e democrática do século XXI que, pelo menos no que se refere à expulsão do Bispo Williamson pelo negacionismo do Holocausto, a Argentina protagonizou obrigando a que, já em Londres, o dito prelado expressasse um pedido público de desculpas - quem o refere é João Tunes no Água Lisa "Antes Tarde que Nunca" e a noticia pode ler-se aqui...

De Praga ao Tibete... traumas, povos e culturas


Os povos manifestam, no que são e na forma como reagem, a personalidade cultural que os foi configurando ao longo da História em percursos feitos de conflitos, traumas, coexistências e vivências... Por isso nunca são evidentes nem lineares as suas formas de expressão, nem o deveriam ser as interpretações que deles e das suas culturas se fazem sem atender aos processos históricos em que radicam as razões dos comportamentos colectivos... Entre uma cultura de montanha, isolada e sempre em busca de um ritmo de integração na natureza que garanta o equilíbrio psicossomático e os efeitos da brutal ocupação chinesa que data de há quase 50 anos (1959), eivada de sentimentos de superioridade moral demonstrada pelo exercício da força, da crueldade e da aculturação forçada, o Tibete viu a sua cultura votada ao exílio, destituída do reconhecimento público da sua autonomia e da sua singularidade... Por outro lado, na Europa Central, o povo checo, entre ocupações alemãs e soviéticas ou o esmagamento da Primavera de Praga (leia-se o texto publicado no Praça Stephens), chegou à Europa Comunitária, simultaneamente ansioso e receoso da perda da sua soberania, acusado de um certo anti-europeismo, apesar de ser checa a actual Presidência da União Europeia. Num e noutro caso, as diferentes formas de manifestação de resistência cultural aos modelos envolventes revelam apenas as dificuldades de afirmação identitária em contextos onde a experiência lhes tem demonstrado a subjugação aos interesses vizinhos... como acontece aliás, nas diversas Comunidades Regionais de Espanha e mesmo em Portugal onde grande parte das opções políticas decorrem quase sempre dos condicionalismos determinados pelas relações internacionais... e esta é uma realidade a considerar quando se equaciona o futuro... porque, cada vez mais, emergem sinais de que o mundo globalizado de hoje pode vir a exigir um modo de ser e de estar regionalizado... e a única resposta que temos para percorrer com o mínimo de conflitos qualquer um dos caminhos que presente e futuro se conjugem para consolidar é, ainda e sempre, o máximo respeito pelos Direitos Humanos.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Losar - O Ano Novo Tibetano



A cultura tibetana celebra o Losar (Ano Novo) no dia 25 de Fevereiro... foi ontem!... contudo, se só hoje aqui se assinala esta época festiva que se requer de bons augúrios, convém que se saiba que o facto decorre de, este ano, estar em curso uma campanha internacional de solidariedade para com as vítimas da violência contra as manifestações e os protestos de monges, cidadãos e activistas dos Direitos Humanos no Tibete que se caracteriza, como forma de expressão, pela não celebração festiva do Losar... e como todas as formas artísticas são bons veículos das mensagens que transmitem, fica aqui a referência, não festiva, a título de evocação simbólica.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Provincianismo e Ignorância Salazarenta...

É confrangedor que o bom-senso, a razoabilidade e a objectividade analítica estejam tão ausentes dos procedimentos de pessoas com responsabilidades na ordem pública (refiro-me ao caso da magistrada de Torres Vedras e ao da PSP de Braga)... confrangedor ao ponto de aí serem, ainda que injustamente, projectadas responsabilidades políticas que transcendem as actuações locais em que se esgota a esfera de intervenção dos protagonistas destes episódios infelizes!... Provincianismo ou conservadorismo de costumes que facilmente nos faz pensar na dimensão das heranças salazarentas que se guardam por aí, no inconsciente colectivo e na ideologia dissimulada de muitos quase insuspeitos que, entre nós, praguejam e vociferam como se lhes assistisse qualquer autoridade moral... a mesma, provavelmente, que justifica que, nos tempos que correm, se ocupem em manobras e congratulações por beatificações como a de Nuno Álvares Pereira...

A Crise - entre o mérito de Obama e a política em Portugal...

Não ouvi mas, pelo que Carlos Santos descreve e comenta em O Valor das Ideias, o discurso de Obama relançou a esperança e renovou a concentração nacional de esforços no combate contra a crise e o desemprego, sem demagogia e com seriedade. Não me surpreende. Desde que, em Outubro de 2007, li "A Audácia da Esperança" compreendi que Barack Obama tem um perfil carismático de cidadão culto, inteligente e rigoroso, cuja auto-confiança assenta num forte sentido ético valorizador da causa e do serviço público... um homem que conhece demasiado bem a realidade americana para a não levar a sério, consciente dos custos sociais dos modelos económicos vigentes e determinado em devolver os EUA ao povo americano. Por isso, congratulo-me com o sucesso do seu discurso de ontem... Obama merece e nos tempos que correm, precisamos desesperadamente de determinação e confiança!... ocorre-me, neste contexto, que, ao contrário do que está a acontecer em muitos países, em Portugal, apesar da dimensão e fragilidade da nossa economia, a crise surge como oportunidade para o empenho da oposição no divisionismo e no ataque político gratuito, sem alternativas e simplesmente demagógico... é pena!... seria útil, positivo e naturalmente preferível, podermos constatar a maturidade política entre os que se perfilam para ascender a representantes de uma população cujos interesses não são a sua primeira prioridade... seria, por isso, interessante perguntar e ouvir essa mesma população sobre se pretende que o seus representantes sejam apenas bons demagogos ou políticos competentes com sentido de responsabilidade e de Estado... esclareça-se que a diferença entre uns e outros consiste na viabilidade das soluções económico-financeiras apresentadas e na política social que lhes pode ser associada!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Expressões culturais...



Ouvir e ver os "Ciganos de Ouro", expressão mediterrânica da cultura cigana!...

Outro Brasil...


No Brasil há mais vida para além do Carnaval... os Sem-Terra sabem isso e por saberem que a vida é muito mais do que todos os carnavais, na esperança de serem ouvidos, entraram pelas terras dentro... por cá, ouvimos e vemos, apenas, o Carnaval... porque as dores do mundo são demasiado penosas, insignificantes ou assustadoras para quem prefere dissimular as realidades na ilusão dos carnavais?... a notícia chega do Brasil e pode ser lida aqui.

Perguntar, esclarece... o ruído, não!

Enquanto o desemprego aumenta desmedidamente por todo o mundo (em Espanha situa-se já nos 16%, atingindo mais de 3 milhões de pessoas) e, naturalmente, também em Portugal... mas, por terras lusas, toda a oposição esquece as respectivas divergências ideológicas para corroborar, em indistinto uníssono, acusações de má governação... entretanto, todos os países continuam a investir em esforços de sustentação da arquitectura financeira para evitar o total colapso das economias (leia-se o texto de José Manuel Dias no Cogir)... mas, o panorama partidário português recusa-se a pensar a questão... por desconhecimento, má-fé ou efectiva inexistência de alternativas sustentadas e sustentáveis?

Influências...


Transmitido ontem, pela RTP, um documentário de homenagem ao Mestre Lagoa Henriques em que o próprio falava da sua vida e obra, nele encontrei uma súbita, imensa e inesperada alegria: Lagoa Henriques contou que foi Agostinho da Silva quem lhe descobriu o talento escultórico e quem o influenciou decisivamente na sua opção artística. Com um sucesso e um mérito inequívocos, convenhamos! Recordo hoje, aqui, com saudade, o meu amigo, Professor Agostinho da Silva para cuja casa corri, em muitos finais de tarde, quando era urgente pensar e ouvir... desses dias guardei, na memória das conversas e dos silêncios, a eterna lição: reflectir é aprender!

Migrações Ciganas e Xenofobia


As atitudes e comportamentos sociais tendem a radicalizar-se no contexto das crises sociais... seja em relação a estrangeiros, seja, simplesmente, em relação aos que, ainda que partilhando a mesma nacionalidade, vivem segundo códigos e regras de conduta distintas das que se consideram padronizadas... deste dito "país de brandos costumes" reza a História uma longa tradição discriminatória que não podemos ignorar ou recusar-nos a compreender... particularmente quando as migrações conduzem as minorias ao regresso ao nomadismo forçado... estou a pensar nos povos ciganos e, particularmente, nos seus cidadãos que descem da Europa Central como romenos para mais facilmente escaparem ao racismo e à xenofobia de uma Europa que apregoa Direitos Humanos mas se furta a encarar os seus próprios condicionalismos culturais, fantasmas velhos de uma sociedade fortemente estratificada, feita de medos e perseguições que deixam vestígios espalhados, mais ou menos visivelmente, pelo tempo... Há tempos, corria o ano 2000, após ter organizado, no Instituto Superior de Serviço Social, o colóquio "Representações Sociais e Xenofobia - o caso dos ciganos no Alentejo", participei num Forum "Culturas Periféricas/Vivências Conjuntas" organizado pela CMBeja e daí resultou o texto publicado, em 2005, na Revista Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol.45 (1-2) onde, a propósito da correlação entre identidades culturais e intervenção social, escrevi:"(...) para os ciganos, «os gadgé são traidores e a sua palavra não vale nada», enquanto para os não-ciganos, «o cigano é esperto, está ali para nos enganar» ou «somos sempre enganados pelos ciganos»... Trata-se, de um certo ponto de vista, de um equívoco comunicacional fundado numa transferência psicanalítica de ostentação sublimatória e de uma catarse pelo passado de exclusão de que a generalidade dos cidadãos não-ciganos se sente herdeira e de que não quer ser protagonista, reconhecendo -e aí reside o fundamento da conflitualidade latente- a competência cigana em "tornear" o estado de obediência a que o controle socio-económico reduziu a autonomia e liberdade do povo não-cigano.(...) É o desemprego, a pobreza e a exclusão que a sociedade proporciona que justifica o agravamento da violência social. Racismo e xenofobia para com as minorias, em particular, com os ciganos, são afinal, atitudes catárticas de transferência dos sentimentos de rejeição e exclusão social a que os indivíduos procuram, num esforço pelo reconhecimento da sua integração social, escapar."... Num tempo em que, por um lado, se valoriza a diversidade cultural e, por outro, se temem as migrações, convém não permitir que se ignore que a cultura cigana participa do Património da Humanidade.

O som da fusão cultural...



Encantatório, este tema exemplar da fusão cultural das sonoridades: "Perfume Cigano" do Mestre, tunisino, Anouar Brahem...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Como se fazem os Santos?


Grande parte das figuras canonizadas são heróis ou mártires - pelo menos, aos olhos das representações socio-culturais dos grupos que os veneram... nessa medida, a generalidade dos Santos corresponde a arquétipos de comportamento que se pretendem disseminar através de símbolos cuja função é congregar fiéis motivados pelo exemplo que, de humano e prosaico, rapidamente se transforma, nomeadamente nas sociedades onde a tradição oral é fonte primordial de transmissão do conhecimento, em heróico e sobrenatural. A mistificação em que radicam contos e lendas é um processo similar em casos de que se perdeu a memória histórica fundadora, colectivizada e remetida para um fundo imaginário e, consequentemente, abstracto. No caso dos Santos mantém-se, regra geral, o fundamento histórico da antropomorfização das virtudes acrescidas a feitos considerados louváveis - seja o martírio ou a destruição de um sempre presente "inimigo" dito "infiel"... por esta razão, é a ideologia dominante (ou a que consegue direccionar os seus lobbies no sentido de corroborar os interesses do poder) que subjaz ao reconhecimento social da "santidade". Tendo analisado a relação entre o político e o religioso designadamente em Portugal com particular destaque para o Alentejo, em Espanha e em Goa, na Índia, escrevi em 2007: "(...) o fenómeno religioso incide e emerge dos arquétipos humanos presentes ao nível individual, tornando-se veículo do reforço de sociabilidades que, enquanto rede, se revelam terreno óptimo para a transmissão da mensagem que cria as redes políticas.(...)" (ver: "Continuidade cultural e mudança social - poderes e religiosidades: um caso entre Portugal e a Índia" in Crenças, Religiões e Poderes - Dos Indivíduos às Sociabilidades, coords.e orgs. Vitor Oliveira Jorge e José M.Costa Macedo, ed. Afrontamento, Porto, 2008). Vem esta referência a propósito da canonização de Nuno Álvares Pereira que nos coloca perante algumas questões interessantes, designadamente, a da necessidade de eleger um símbolo de um nacionalismo fundador da Pátria (veja-se a pintura que acima se reproduz "Vitória coroando o Santo Condestável"), contra culturas e civilizações como Espanha ou o Magrebe... facto que é de assinalar pela diferença de registo cultural que denota em relação a Espanha onde, assim que ganhou as eleições, Zapatero decidiu retirar do espaço público a figura de "Santiago, o Mata-Mouros" porque a estátua representava esta figura com 2 cabeças degoladas...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Leituras Cruzadas...

Enquanto por cá se expressam alegrias (?!) pela beatificação de figuras históricas (leia-se o texto de João Tunes no Água Lisa), os líderes políticos europeus desenvolvem como estratégia conjunta de combate à crise, a fiscalização e regularização dos mercados (leia-se a notícia reproduzida por Osvaldo Castro no Praça Stephens) e o Prémio Nobel, Paul Krugman, analisa o actual contexto histórico-económico, alertando para a Grande Depressão (leia-se a citação de Miguel Abrantes no Câmara Corporativa onde se pode aceder ao artigo de Krugman)...

Economia Social - da Pobreza à Economia Formal e à Economia Paralela

Uma das questões essenciais para o enfrentar da crise é a capacidade de compreensão da realidade que se situa além das dimensões formais a que as leituras institucionais a reduzem. Ao ler no Cogir a referência ao artigo de Leonel Moura, não resisti a comentar a questão que, de há muito, considero, no contexto da previsibilidade que os custos sociais da globalização têm vindo a desenvolver, um dos caminhos dignos de ponderação dada, nomeadamente, a dimensão galopante com que a pobreza tem atingido as famílias e a sociedade em geral. De facto, o endividamento das famílias deve-se não apenas à sua desregulação consumista como muitas vezes querem fazer crer mas, à sua efectiva perda de poder de compra; por isso, centrar a responsabilidade do fenómeno na irresponsabilidade dos cidadãos é, por um lado, desresponsabilizar a gestão económico-financeira de um mercado em crise que vive do agravamento do custo de vida e do desemprego e, por outro lado, reforçar a falta de auto-estima das pessoas, diminuindo a sua falta de confiança enquanto consumidores, humilhados e aflitos, na tentativa de gerir os orçamentos precários que justificam o crescente recurso ao Banco Alimentar e às instituições de solidariedade social. A concentração urbana da população que o fenómeno do êxodo rural provocou como esforço de subsistência face a um interior destituído de opções produtivas e, consequentemente, de emprego, criou gerações de despojados no sentido em que a sobrevivência familiar se tornou, exclusivamente, dependente do trabalho por conta de outrem... a resposta, inspirada primeiro na memória rural da polivalência de desempenhos e depois, no próprio incentivo do mercado que reconheceu no conceito de flexibilidade a sua importância como resposta ao combate europeu ao desemprego, foi a acumulação de empregos, trabalhos ou tarefas que, em larga medida, contribuiu para o número de pequenos devedores ao fisco e à banca pela incapacidade de cumprimento dos créditos à habitação mas cujo fundamento residiu na necessidade de sustento das famílias... multiplicou-se assim, exponencialmente, o grau de dependência externa das famílias sem possibilidade de acesso a meios de subsistência que, há meia dúzia de décadas, eram acessíveis em meio rural: uma horta, uma pequena criação pecuária, a caça, a pesca e a recolecção cujo valor seria seguramente incipiente mas que poderia complementar o trabalho assalariado (refira-se o facto de assim se reiterar a importância do minifúndio enquanto gestão agrícola no passado e para um futuro que se requer sustentado). Sem meios de recurso à economia formal, a economia informal e paralela assumiu-se como única alternativa... e apesar da sua associação à pequena e grande criminalidade, a sua dimensão não se resume a esta consequência... porque o recurso à economia paralela resulta do simples facto da economia formal não coincidir com a Economia Social que é indispensável promover... Afinal de contas, se o autismo financeiro do mercado destruiu a capacidade social de sobrevivência económica dos cidadãos não pode agora surpreender-se com os seus autofágicos efeitos que só na radical reorganização dos modelos de distribuição de riqueza, assente na adopção de uma Economia Social, diversificada e rentabilizadora das alternativas dos meios e dos modos de produção, encontraria solução... tentar resolver "por dentro" o problema, insistindo na simples injecção de capital que não chega aos consumidores e se não reverte em investimento produtivo, poderá ter um efeito mediático a curto ou médio prazo mas, não conduz à eliminação da causa do fenómeno cujo rosto é visível no desemprego e na pobreza.

Sons do Século XX...



Carlos Santana e John Lee Hooker... os Mestres!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Desafio Educativo...


A simples transmissão de conhecimentos fornece informação mas não garante a formação de mais conhecimento ou a produção criativa. É neste contexto que o ensino superior deve ser pensado em Portugal onde o processo de ensino-aprendizagem se administra de forma enumeradora e repetitiva, sem o recurso corrente à especulação, à pesquisa, ao debate, à documentação, à observação e à investigação... Aliás, a própria formação universitária de professores assenta em indicadores mínimos do reconhecimento de competências específicas para o efeito, elaborados a partir de critérios académicos redutores... regra geral, é este o panorama de uma massificação da aprendizagem passiva e padronizada que, inevitavelmente, se reproduz no ensino e não permite que o investimento em mais qualificação resulte na alteração qualitativa das competências cívicas, técnicas, pedagógicas e científicas das instituições e da população portuguesa... Apesar das estatísticas, a capacidade produtiva e o aproveitamento local dos recursos e equipamentos disponíveis demonstram o défice cultural subjacente à capacidade de adaptação à mudança... E se, por um lado, há professores de excepção em todos os sectores do saber, e, por outro, a sociedade reconhece que é preciso mais formação e conhecimento, estranhamente continuamos a deparar-nos com um índice de desempenho social muito aquém das necessidades e das expectativas... Na realidade, a excepção não faz a regra e só um sistema de ensino vocacionado para objectivos integrados e claramente definidos pode ter sucesso, designadamente, no ensino superior onde se deveria consolidar o conhecimento e a atitude científica... e não se depositem as esperanças no chamado processo de Bolonha porque o seu objectivo é apenas harmonizar legislativamente os sistemas de ensino... esta tarefa compete a cada país ou seja, é um trabalho nosso, a fazer em casa.

Mudar a Educação, Construir a Cidadania...


O nosso interesse pela vida determina o grau de empenhamento na compreensão de tudo o que nos rodeia... e quem diz compreensão, diz tolerância, exercício crítico da razão, respeito, vontade de mudança, criatividade e esperança... Aí reside o carácter transversal da função educativa que não legitima a separação entre instrução e educação ou entre informação e formação. Por isso, pensar ou reformar sistemas educativos numa perspectiva assente apenas em resultados quantificáveis esvaziará sempre o objectivo maior da cultura e da filosofia educativa que requer a motivação e o investimento de alunos e professores no estudo, no ensino e na aprendizagem, simultaneamente humilde e empolgante, dos saberes reconhecidos como ferramentas úteis à incursão na descoberta do meio em que vivemos e dos seres com que interagimos... alargar o leque disciplinar dos ensinos básico e secundário, introduzindo conhecimentos de astrofísica, economia, filosofia, antropologia, química, psicologia e multimedia e diversificar os instrumentos didácticos (livros, filmes, documentários, laboratórios), promovendo a experimentação produtiva e acentuando a vertente participativa numa avaliação dinâmica e interactiva, permitiria o acesso a caminhos mal explorados da educação formal... provavelmente com melhores resultados, para todos!... porque, afinal de contas, enquanto espreitamos o universo para o conhecer, transportamo-nos a nós próprios e ao mundo, projectados na sede de saber agir... e aprendemos a Ser.

A Voz da Terra...



Na voz telúrica de Chavela Vargas, "Llorona", um eterno canto do Ser, do Sentir e do Dizer...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Argentina contra o Negacionismo!


Pela negação do Holocausto, nomeadamente da existência de câmaras de gás e dos 6 milhões de vítimas deste processo negro da História, a Argentina exige a expulsão do Bispo Williamson considerando as suas afirmações "um crime contra o povo judeu e a Humanidade"... Numa época em que a Igreja ainda cede à tentação de ir confundindo a separação de poderes relativamente à acção dos Estados, é de registar que não são relativizáveis as afirmações de branqueamento da crueldade que servem hoje de inspiração a movimentos neonazis que se julgariam impensáveis no contexto democrático do século XXI... um exemplo a seguir no caso dos voos da CIA para Guantanamo!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Taxas Moderadoras...

António Arnaut pronunciou-se esta noite, na SIC Notícias, sobre a aplicação das taxas moderadoras. Concordando que a sua existência tem, por definição, um carácter regulador do recurso à assistência médica do sistema nacional de saúde que teve o mérito e a honra de introduzir na sociedade portuguesa, Arnaut chamou a atenção do PS "partido de esquerda, partido humanista" para o erro que consiste na aplicação de taxas moderadoras às situações de cirurgia e internamento, sublinhando que a sua aplicação carece de fundamento ético e jurídico... particularmente, disse, numa época "em que muita gente passa mal" e porque, em caso de cirurgia e internamento, o recurso ao SNS não decorre da arbitrariedade dos cidadãos mas, efectivamente, de uma necessidade reconhecida clinicamente. Alegando não querer influenciar os deputados socialistas e, inclusivé, salvaguardando a importância que atribui à disciplina de voto que não quebrou no exercício das suas funções parlamentares, António Arnaut considerou contudo tratar-se "de uma questão de consciência" a merecer uma efectiva correcção. Racional e justo, este depoimento foi extremamente oportuno por recolocar no centro das políticas de saúde o efectivo interesse público e o direito à igualdade no acesso aos cuidados médicos, conquista democrática que não deve, de modo algum, ser posta em causa, sob pena da generalidade das situações conjunturais hipotecarem os direitos fundamentais dos cidadãos.

Sonoridades...



Keith Jarrett e Jan Garbarek...

Territórios de Gaza...


O paradoxo continua instalado no terreno... enquanto, por um lado, alega querer a coexistência de dois Estados independentes, Israel continua a armadilhar a fronteira com Gaza e a ocupar os seus territórios (veja-se o texto de JM Correia Pinto no Politeia).

A Crise... dos Analistas!

Sem sinais de abrandamento, a crise não encontra nos Planos de Emergência (veja-se o que escreveu Vital Moreira no Causa Nossa) solução adequada à dimensão que a caracteriza... contudo, por cá, há quem nela veja uma oportunidade para se relativizar politicamente a debilidade estrutural da economia nacional... como se os seus efeitos não fossem um factor de sério agravamento de uma realidade já de si dificilmente sustentável. Curiosa inversão de prioridades analíticas, de pedagogia duvidosa...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Animal's People...


"I used to be human once..." - assim começa um extraordinário livro de Indra Sinha, escritor indiano nomeado para o Man Booker Prize de 2007. A obra, intitulada "Animal's People" consiste na transcrição de cassetes gravadas em hindi por um rapaz que se torna amigo de um jornalista. Paradigmático relativamente ao que nele se transmite, "Animal's People" é um mosaico dos percursos de crescimento vividos numa cidade da Índia, onde as crianças crescem na rua como se tivessem sido sempre adultas... podia ter acontecido em Mumbai (Bombaim), a metrópole onde a condição humana se expõe ao mundo, entre a grandeza, a miséria e a humilhação!... Traduzido para a língua portuguesa sob o título infeliz "Eu, Animal", "Animal's People" é o retrato de um mundo que é também o nosso e que, tantas vezes, ignoramos, remetendo para a distância do coração o que está longe do olhar... Um livro importante e, porque não dizê-lo?, urgente! ... um livro que nos devolve à realidade que a sociedade mediática nos faz esquecer, permitindo-nos o perdurar de uma ilusão... apesar das guerras, apesar da fome... apesar da crise!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Dedo na Ferida...

A voz das autoridades europeias leu hoje o veredicto já compreendido por todos: "(...) Esta crise providencia uma lição dolorosa.(...) As sociedades industrializadas também precisam de supervisão (...) de uma rigorosa supervisão (...)"... a par desta constatação, a intervenção estatal no sistema bancário e as sucessivas injecções de capital nele instiladas denotaram-se até ao momento insuficientes para estancar a crise e novas formas de intervenção vão surgindo (como os "bad banks", que também já aqui referimos)... justifica-se por isso que o problema seja equacionado noutros termos: na verdade, a realidade coloca-nos hoje perante questões até há pouco impensáveis como é o caso do conceito de trabalho (veja-se a este propósito o texto bem sugestivo de José Manuel Dias no Cogir), cuja tradicional representação social é posta em causa pelas actuais dinâmicas do mercado. De facto, o aumento desmesurado do desemprego e da pobreza, bem como o investimento desenfreado na redução de custos de produção proporcionada pelo recurso a novas tecnologias são faces de uma moeda que transformou as relações de produção, tornando mais barato o valor da mão-de-obra dado o excesso de procura relativamente à escassez da sua oferta. O fenómeno tem consequências sociais gravosas que estão, de há muito, à vista e cujo agravamento não pára de crescer a um ritmo assustador se o equacionarmos em termos de custos sociais. De nada servirá, portanto, continuarmos na lógica cega dos pequenos ataques político-partidários nos contextos nacionais porque o máximo que as intrigas e os conflitos conseguirão, serão sucessivas mudanças de protagonistas no exercício do poder. Provavelmente, o grande debate do futuro será em redor da sobrevivência e da protecção dos direitos dos cidadãos a uma existência digna, e dele não se poderá escamotear o problema do emprego a que subjaz o conceito de trabalho sobre o qual assentámos os modelos de desenvolvimento vigentes. Colocar o dedo na ferida é muitas vezes a única forma de percebermos onde se localiza a origem da dôr... e só com um bom diagnóstico poderemos encontrar a terapia adequada... aliás, talvez assim, possamos também reavaliar a diversidade política e reestruturar as relações internacionais sem os "a priori" etnocêntricos que nos fazem julgar as diferenças como erróneas apenas por não reproduzirem os padrões que consideramos correctos (veja-se o texto de Correia Pinto no Politeia) e que, provavelmente, não são mais do que formas conjunturais de reagir às dinâmicas envolventes... hoje, mais do que nunca, impõe-se a boa-fé entre povos e governos como forma de chegarmos ao ponto de partida: participamos de uma mesma humanidade e temos que coexistir partilhando esforços e recursos.

Persistir, persistir sempre...



"Change the World"... um belo tema numa excelente versão... Eric Clapton, no seu melhor!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A Guerra... no Feminino!



A Guerra é, provavelmente, o maior absurdo em que se envolve a Humanidade, resultado primário de um juízo elementar que ignora a complexidade do mundo contemporâneo... inútil, dadas as dimensões financeiras e económicas, nominais e paralelas, em que se joga o presente e o futuro de todos os países, a guerra tem apenas a côr do sangue, o gosto do sofrimento e o cheiro da morte... pudessem homens e mulheres fruir de igual modo da consciência esclarecida de uma cidadania letrada capaz de tornar transparente à percepção de todos a compreensão integral do que move e se vai movendo sob as aparências, ilusórias, dos quotidianos e... de vez, assistiriamos à mudança universal e necessária que nos devolveria a simplicidade da condição humana cuja génese esquecemos no enredo manipulado e maltratante dos dias... entretanto, a guerra prolonga-se pelo futuro nas gerações vitimizadas... e, sem género, abate-se inelutável sobre todos, deixando apenas, da sua dimensão trágica e irresgatável, as lágrimas.

Riscos, Tentativas e Erros

Os paradoxos da racionalidade demonstram muitas vezes, nomeadamente na economia e nas finanças, que a mudança constitui um desafio de tal ordem potencialmente desestruturante para a lógica dos interesses instalados que os gestores dos modelos em crise persistem na reinvenção de modalidades (leia-se o texto de José Manuel Dias no Cogir) capazes de introduzir alterações de efeitos imediatos no sistema, sem qualquer garantia de eficácia no contexto de uma crise cuja evolução indica a necessidade imperiosa de alterações sistémicas... riscos calculados ou experimentações "in extremis"?

O perigo da cultura...



(via Praça Stephens)

Quando a realidade nos assalta com uma sucessão de factos que remetem para relações de proximidade cuja coincidência pode, como enunciei no texto anterior, decorrer da valorização do inter-conhecimento como princípio da confiança em detrimento da igualdade de oportunidades para todos, compreendemos que a gestão do interesse público decorre de uma cultura cujos valores não interiorizaram o reconhecimento do mérito próprio, permanecendo reféns dos interesses de grupo e da cadeia de vassalagens que explica, por certo, pelo menos do ponto de vista antropológico, grande parte da corrupção que inquina o funcionamento democrático.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Coincidências ou ... estados de suspeição...


Dias Loureiro continua Conselheiro de Estado (vale a pena ler o texto de José Manuel Correia Pinto no Politeia), terrenos em Alcochete propriedade da SLN, fugas de informação sobre agentes cujas individualidades deveriam estar protegidas do conhecimento público, uma crise que se abate em previsões de mais centenas de milhões de pobres enquanto pequenos mundos continuam a sua saga de consumos sem reservas (veja-se o texto do Embaixador Seixas da Costa em Duas ou Três Coisas)... espreita-nos um orwelliano efeito paralelo ou, simplesmente, o inter-conhecimento da nossa tão recente ruralidade continua a deixar marcas na forma como se gerem as economias e as sociedades?

Da dimensão da crise...

Em consequência das falências em curso e das que se podem prever, o Banco Mundial anuncia um aumento de 100 milhões (100 MILHÕES) de pobres... entre falências reais e aproveitamentos económico-financeiros, a verdade entra, de rompante, na casa dos cidadãos do mundo e os fantasmas de um tempo que os países ditos desenvolvidos se habituaram a pensar como passado e que os dias, nos países pobres, insistem em fazer vaguear pelo quotidiano sem permitir que se pense noutros termos que não o presente, assombram as expectativas de futuro. As sociedades e alguns governos tentam colmatar a crise com planos de emergência que só na criação de emprego podem adquirir credibilidade... contudo, a imponderabilidade objectiva com que se declarou a dimensão efectiva da crise que se abateu sobre o mundo globalizado de hoje, requer mais do que isso sob pena da crise social conduzir a tensões e conflitos epidemiológicos cujo controle será tanto mais difícil quanto mais longe forem os efeitos da derrocada da arquitectura económica mundial... a mudança confronta-nos perante a urgência da construção de uma nova ideologia e do exercício de novos modelos económicos e financeiros... a compreensão desta nova face da realidade ditará o futuro... em causa está todo o empenhamento na luta pelos Direitos Humanos, a luta contra a pobreza e a solidariedade social que aprendemos a desenvolver e realizar ao longo do século XX... veremos se a coragem política consegue acompanhar a realidade e travar os retrocessos que facilmente se adivinham...

Percursos no tempo...



Passeio para uma tarde translúcida e morna... ao som de "Spanish Caravan" dos Doors, o pianista George Winston percorre o pequeno documentário de Robert Amran sobre a civilização Maia...

"Não vou por aí..." ...



"Cântico Negro" de José Régio é um poema que nos devolve à essência do que somos, quando o ritmo do mundo nos aproxima da dissolução do "eu" em "si"... resistir - é a palavra de ordem... convictamente, como o transmite a voz de Maria Bethânica, no modo de o dizer...

"Tabacaria" de Fernando Pessoa



Na voz de João Villaret, o poema "Tabacaria", de Fernando Pessoa... não se comenta, ouve-se! ... como quem ouve uma certa lucidez do pensamento em acção...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"As Cidades no Homem" de Nadir Afonso

Uma belissima exposição de Nadir Afonso, aberta ao público desde o passado dia 9 de Fevereiro, pode ser visitada, na Assembleia da República, até ao próximo dia 3 de Março. Parte do espólio da Fundação com o nome do autor, as obras escolhidas não fazem parte do circuito comercial, razão suplementar a justificar uma visita seguramente gratificante. Sob o título "As Cidades no Homem", Nadir Afonso, expoente maior da expressão plástica contemporânea, transmite a percepção harmoniosa da vertigem que faz a alma e o corpo das cidades, onde os seres se projectam e vivem como partes fundamentais e integradas de uma orgânica, humana e colectiva, que dificilmente se deixa esgotar nas palavras mas que se assume, complexa e integral, na expressão da percepção do Pintor. A não perder!... porque, tal como disse em 1958, o próprio Nadir Afonso: "(...) O homem tem necessidade de beleza.(...) A arte clarifica os espíritos e dignifica o homem. A arte humaniza. (...)".

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Perguntas do dia... entre uniões, liberdade, morte e discriminação!


Porque será que, em Portugal, todas as questões que introduzem a mudança, seja na prática ou, simplesmente, no debate que faz agenda, são catalogadas como "fracturantes"?... desta vez, as questões são do foro pessoal, não interferem na liberdade individual de ninguém e assinalam preocupações dignas de um espírito democrático... falo do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e, por exemplo, da eutanásia... para além da resistência cultural previsível em determinados sectores da sociedade portuguesa, será possível que, apenas e só, sejam relevantes, nestes casos, as opiniões dos seus opositores? Não será possível um debate onde a escolha e a opção promovam a não-discriminação e os direitos dos indíviduos, independentemente dos que tenham, à partida, decidido nunca optar por tais possibilidades? Que liberdade e capacidade de respeitar o "outro" tem uma sociedade que promove valores que impedem a liberdade de outros, quando essa liberdade os não prejudica?... E como pode, por exemplo, a Igreja, num Estado laico, apesar de, posteriormente, ter dito não pretender interferir na vida política nacional, pronunciar-se de tal modo que viabiliza a sua associação à condenação dos actos de liberdade dos cidadãos ou, em última análise, do seu direito à escolha?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O país político - conhecimento e impressões

Seria interessante fazer, a título de exercício, a cartografia das áreas de influência dos partidos que preenchem o espectro político nacional... por partido e, nomeadamente, em termos geográficos... depois, dever-se-ia então, proceder à mesma cartografia, por região, no que respeita ao sexo, à idade, ao grupo socio-económico, às competências académicas, aos desempenhos profissionais e aos vínculos laborais... para só falar no que considero de importância decisiva para a compreensão dos comportamentos eleitorais, dos resultados das sondagens e da dimensão do impacto social das mensagens partidárias. Ressalvo a possibilidade deste exercício estar feito e até coloco a possibilidade de, eventualmente, estar bem feito, isto é, exaustivamente feito... porque era importante que fosse um trabalho exaustivo e que estivesse amplamente divulgado para se poder, com justeza, avaliar da efectiva representatividade e do interesse nacional das prioridades políticas reconhecidas partidariamente! Na verdade, na análise política, as assimetrias regionais entre os meios rurais e urbanos não são devidamente valorizadas porque o seu pressuposto essencial assenta na quantificação demográfica... porém, para se alcançar uma coesão social e territorial de âmbito nacional precisamos de um desenvolvimento equitativo em termos regionais sob pena de contribuirmos de forma decisiva para a aglomeração humana nas metrópoles - situação que é, de há muito, um problema grave nas sociedades contemporâneas mas, que se torna extremamente gravoso em épocas de crise económica, social e financeira marcadas por elevadas taxas de desemprego. Eis uma das questões a pensar e discutir no que à democracia representativa se refere uma vez que esta realidade reforça o desequilíbrio inter-regional na exacta medida em que é identificável a relação entre os interesses defendidos pelos diferentes partidos e o tecido social que compõe a sua massa eleitoral... ora, se a questão se coloca com pertinência face à representatividade democrática, interrogo-me sobre a dimensão que adquiriria se o enfoque fosse o da democracia participativa... no final, constatariamos que seria na questão da igualdade de oportunidades para todos que desembocaria esta reflexão...

Em Ré Maior...



Há melodias assim... matinais... bonitas... para começar o dia!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

"Cautela e Caldos de Galinha..."


Marcelo Rebelo de Sousa no seu comentário televisivo de domingo afirmou que Portugal é o único país onde além de um governo socialista, a maioria se situa à esquerda... por apagamento da direita, por um lado e, por outro, pelo descontentamento social... Curiosamente, o que aparenta ser uma leitura elogiosa para a esquerda reverte, face a uma interpretação cuidada, numa imagem de que ninguém quis, até agora, falar: a pulverização da esquerda... na verdade, "quando a esmola é grande, o pobre desconfia" e, no caso, tantas alternativas de "esquerda" se nos colocam que, para além do recurso a terminologias verbais distintas, se torna difícil perceber o substracto comum que permite a todos evocar a esquerda - particularmente se entendermos por esquerda um projecto consistente de sociedade e um modelo de governabilidade viável... a não ser que se entenda por Esquerda a simples evocação e auto-identificação com o termo já que, no que se refere à hipótese da dita "convergência", todos estão empenhados em salvaguardar, nesse virtual espaço comum, o alargamento da sua própria dimensão... quanto a questões tais como a governabilidade, os programas e modelos de governação ou a análise socio-económica e política da realidade em termos de resposta à crise, pouco ou nada se diz. Provavelmente, são "coisas" de somenos, a que não convém dar importância... tal como não vem ao caso - a julgar pelas aparências! - que a Esquerda, para o ser, terá que ser credível... ou não será!... e para ser credível tem que governar ainda que não possa ser perfeita e fique exposta à crítica de toda a oposição!... Neste momento, a ilusão que o oportunismo político cria, no meio dos cenários da crise, aparenta uma pluralidade que, no meio da euforia, pode conduzir à pulverização... diz a sabedoria popular que: "cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém"!

Interrogação...



E se sentissemos que o nosso país é o mundo e o nosso povo toda a Humanidade?...

A Crise como Desafio à Economia Política



Enquanto se desenrola o jogo da velha lógica da política entre partidos e movimentos que, centrados no seu próprio umbigo, repetem à exaustão as suas divergências tantas vezes pouco evidentes, a crise transversal em que desembocou o mundo financeiro e a economia global persiste, deixando ao critério político um repto a que é preciso responder de forma adequada. Atónitos, políticos, gestores, economistas e empresários correm o risco de perder demasiado tempo por excesso de precaução, num esforço inglório de auto-defesa dos seus interesses e princípios... porque a complexidade do problema implica, não só uma profunda reorganização económica como também uma estrutural revisitação ideológica. Perante o choque que a realidade representa para quem se pensava confortável no sistema, o desafio é maior do que a capacidade de o pensar... e é urgente pensá-lo porque, depois das soluções de emergência com que se vão organizando pequenas respostas imediatas através dos planos contra a crise, não podem reproduzir-se as lógicas e os modelos cujos efeitos estão à vista... No que respeita ao nosso país, vale a pena ler Nuno Ramos de Almeida e João Correia Pinto, respectivamente, no Cinco Dias e no Politeia, cujos textos reflectem o estado da arte em Portugal.

"Esta Democracia é Vossa!"



Preferia que o vídeo estivesse legendado e traduzido... de qualquer forma, a mensagem é mais importante que o idioma e prevalece a intenção de partilhar convosco este discurso de Barack Obama. Dirigido aos americanos no âmbito do envolvimento dos cidadãos na operacionalização do Plano Económico, cuja aprovação se espera venha a ser conseguida no Senado com o apoio de, pelo menos, 3 Senadores Republicanos que se podem associar na votação ao Partido Democrata, este discurso assinala uma nova forma de fazer e estar na política...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Economia - Uma Revolução Necessária


Os contextos justificam factos e mudanças... nesse sentido, ser contrapoder ou oposição, hoje, adquire um sentido particular... Com as alterações económicas e políticas dos últimos 30 anos e as mudanças sociais actualmente em curso nas democracias ocidentais, contrapoder e oposição revestem-se de uma carga conceptual que se não identifica já com as habituais afirmações contestatárias, expostas e percebidas como uma espécie de dejá vu que, na sua multiplicidade, não inspira verdadeiramente ninguém por se limitarem a reproduzir afirmações susceptíveis de serem utilizadas noutros contextos ou, pior ainda!, por deixarem transpirar a aproximação a um exercício do poder nos termos daquele que pretendem criticar... Uma extraordinária falta de imaginação e seriedade caracteriza as performances partidárias que criticam as actuações políticas, escudadas no facto de não terem de assumir responsabilidades governativas... criticar sem apresentar alternativas credíveis é o velho jogo da política assente na retórica que em si mesma se esgota, protelando a mudança... à revelia da consciência da responsabilidade que implica estarmos perante uma realidade vertiginosamente mutante que vai instalando um tecido social a que tem que se responder com a previsibilidade indispensável à antecipação dos seus piores cenários... pensar as sociedades contemporâneas à escala local, regional, nacional, comunitária e internacional à luz das novas realidades económicas, sociais, políticas e financeiras é o debate urgente que se impõe a todos... poderes, oposições e contrapoderes! ... Um debate que implica reflexões sérias como as que justificaram os Prémios Nobel atribuídos a Muhammad Yunus ou Amartya Sen... A este propósito pode ler-se aqui uma entrevista de Amartya Sen publicada no "Democracia Política e Novo Reformismo"...

Criminalizar o Negacionismo do Holocausto...


Em construção, as democracias contemporâneas não são um dado adquirido... as crises sociais, económicas, políticas e financeiras são, por isso mesmo, o seu maior inimigo!... o risco de desintegração e exclusão social que o desemprego e o medo arrastam, desenvolvem nas pessoas sentimentos que são terreno fértil para a reedição da demogogia autoritária em nome da reposição da ordem, conduzindo a manifestações xenófobas pela exploração da vulnerabilidade socio-cultural dos cidadãos... daí a extrema gravidade de afirmações como a do negacionismo do Holocausto que, além de uma profundamente maliciosa postura de branqueamento da História, é, neste contexto, incendiária... como na Alemanha, a negação do Holocausto deveria ser criminalizada no contexto da defesa intransigente dos Direitos Humanos, pelo menos, na União Europeia... porque os valores inegociáveis de uma civilização cuja prioridade é a cidadania humanista e plural, não admitem a apologia da crueldade subjacente às inqualificáveis afirmações do Bispo Williamson a propósito das quais vale a pena ler o texto publicado no POLITEIA... Visitei Auschwitz... e a realidade do que vi (de que dei testemunho num texto aqui publicado em 28 de Janeiro, sob o título "A Memória") não me permite ignorar estas declarações!... não posso, não sei, não quero admitir que a negação do maior crime público da História possa ser banalizada ou relativizada. Nazismo, nunca mais!

Olhos, Mãos e Vozes...



Peter Gabriel e Youssou N'Dour... os olhos, as mãos e as vozes!... "In Your Eyes"!

Reeditar as Zonas Livres de Armas Nucleares!


Uma das mais extraordinárias demonstrações da capacidade política para construir a paz foi a operacionalização do combate à proliferação das armas nucleares... nunca esquecerei Gorbatchov também por isso!... hoje, nos dias que se seguem ao anunciado acordo entre Barack Obama e Vladimir Putin para a redução, em 80%, do arsenal nuclear, penso que nos aproximamos de novo do caminho de que, entretanto, nos afastámos... felizmente, nunca é demais repeti-lo!, Barack Obama tem a sua agenda de prioridades preenchida segundo a lógica da liberdade, da justiça e da objectividade! Não às armas nucleares! ...

Coesão Social e Coesão Territorial


A crise é, se para tal nos chegar o engenho e o talento, uma oportunidade para introduzir equilíbrios no mundo globalizado e perspectivado em termos macro, em que nos habituámos a viver - e sobre o qual construimos representações que a realidade denota agora, na prática, não serem senão quimeras de pés de barro, assentes em virtualidades financeiras que se esgotam no deslumbramento de si mesmas até já não corresponderem à realidade que as sustentou e lhes deu origem... este afastamento, como o da cultura relativamente à natureza, conduziu-nos à absoluta falta de controle da gestão das nossas sociedades, dada a dependência criada pela adesão às interdependências que radicam em bens essenciais, por exemplo, a energia, a água e os bens alimentares... hoje, sem que se pretenda um distanciamento da rede de cooperação, interajuda, solidariedade e complementaridade que viemos construindo, constatamos que não deveriamos ter minimizado os princípios da autonomia e da autocracia... não só política mas, económica... por isso, se a persistência no desenvolvimento das energias alternativas é essencial, o retomar do "eco-sistema" económico, decorrente da existência de sectores basilares (primário, secundário e terciário), equitativamente sólidos e articulados em termos de sustentabilidade, é fundamental para a recuperação das economias nacionais que devem inflectir parte significativa do seu investimento na rentabilidade das infra-estruturas, a nível local e regional. Alqueva é um bem que não podemos deitar a perder... porque a água é o petróleo do futuro... e porque da água emergem condições para a autonomia e a sustentabilidade económica de uma região, ao mesmo tempo que se garante a potencialidade nacional de uma reserva hídrica essencial... é um facto! As assimetrias regionais a par da macro-economia asfixiam a vida das populações!... é preciso rentabilizar os investimentos numa perspectiva que integre, de igual modo, o interesse nacional e o interesse local! O Alentejo esperou e lutou, durante muitas décadas por essas infra-estruturas!... Agora, tem que as poder e saber utilizar e desenvolver...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Lula...


Um mundo diferente é possível! - prova disso, apesar dos cenários ainda há pouco improváveis de um modelo económico-financeiro dado por seguro e agora em imparável derrocada, é a vitória de Lula da Silva que, no Brasil, tem conseguido, reconhecidamente, implementar o Programa Contra a Fome e a própria Luta Contra a Pobreza com os quais obteve, nos últimos dias, um notável avanço anunciando a construção de 500 mil habitações que, seguramente, diminuirão a dimensão das favelas que fervilham à volta das grandes metrópoles... do Rio de Janeiro a São Paulo ou Bombaim... do Brasil à Índia! O sucesso de Lula da Silva neste combate contra o apocalipse da desigualdade, da miséria e da discriminação tornará indiscutível o facto do empenho político no desenvolvimento e operacionalização de políticas sociais resultar em progressos claramente reforçadores da prática democrática.

O Desmentido... Reacções, procuram-se!


A comunicação social vê-se a braços com dados que desmentem o teor da difamação incendiária lançada a propósito do Freeport... Para evitar a busca do referido desmentido relativo ao anúncio da Carlyle sobre os resultados da auditoria que fez às contas desse investimento, pode ler-se no Da Literatura, o resumo destas notícias... Será que o desmentido será fonte de tanta euforia como foi a efabulação? ... e são revogáveis os efeitos de uma campanha desta natureza?... aguardemos as reacções... vai valer a pena estar atento.

Sondagens - Saber e Propaganda

Interessantes os resultados de uma sondagem que muitos desejaram ver, presumindo que os cidadãos pensam exclusivamente em função do que lhes é sugerido ou imposto pela agenda comercial da comunicação social... entre a propaganda calculista e oportunista e o saber resultante do bom-senso, pode estar efectivamente a diferença que assinala o sentido da consciência cívica e da responsabilidade social e garante a clara opção pela democracia como forma de estar e resistir à crise...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Encerrar Guantanamo - Direitos Humanos e Cooperação Internacional

Vale a pena ler aqui a intervenção que a eurodeputada Ana Gomes apresentou no Parlamento Europeu sobre o contributo que os Estados da União Europeia podem dar a Barack Obama no que se refere ao encerramento de Guantanamo.

Gaza e Israel - o desafio dos efeitos da violência continuada!


Um testemunho importante que sinaliza bem os efeitos sociais e políticos da violência continuada e denota os desafios com que se defrontam os povos de Gaza e Israel onde é fundamental a construção da Paz... pode ler-se no Puxa-Palavra.

Sinais dos Tempos - da falência à nacionalização


A previsão de mais falências, designadamente bancárias, conduziu já os EUA a ponderarem a nacionalização como forma de reduzir os custos da crise que se abateu sobre o sistema financeiro e, consequentemente, sobre a economia... Imprevisível há cerca de 6 meses e provavelmente apenas possível porque Barack Obama tem a capacidade e a coragem política de enfrentar os tempos que se vivem com as soluções que forem mais adequadas, à revelia do que resulta dos encontros do G8, a questão demonstra que a mudança está sempre ao dispôr de quem se dispõe a enfrentá-la... Esta notícia foi publicada no Caderno de Economia do El País...

Simbolismos... o caso de "Broken English"...



Na sequência da crítica ao papel do G8 e aos resultados da sua reunião de Davos, faz sentido este olhar sobre o tema "Broken English" de Marianne Faithfull...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

URGENTE!... Ultrapassar Davos, Combater a Pobreza!



A anunciada crise começou a dar sinais do flagelo social com que se arrasta pelo mundo... os exemplos estão à vista: 20 milhões de desempregados na China empurrados das cidades para o meio rural de que sairam por aí não encontrarem condições de vida e até de sobrevivência, milhões de desempregados nos EUA e na União Europeia (os "El Dorado" de há umas décadas), manifestações públicas em Inglaterra contra trabalhadores portugueses e italianos!... o drama não tem fronteiras mas, subjacente a toda a diversidade que integra, permanece, inalterável, o problema de fundo, universal: a Pobreza!... a pobreza epidémica que vai avançando, inexorável, sobre todos os cidadãos... e o medo!... o medo, origem de toda a violência... o medo da fome, o medo dos outros... racismo, xenofobia, criminalidade, impulsividade, revolta e dificuldade de discernimento entre efeitos e causas... Neste caldo explosivo de sentimentos e reacções, palvras e actos, encontram terreno fértil, os autoritarismos e as intolerâncias... por isso, se o G8, recentemente reunido em Davos para terminar de forma estéril, nada pensa nem decide, por não estar disposto a abdicar das suas formas de obtenção de riqueza, impõe-se, com urgência, a união da sociedade civil e dos Governos nacionais para combater, à escala dos seus territórios e das suas áreas de influência, os pressupostos gastos e inúteis da gestão económico-financeira cujo endeusamento o século XX consagrou, sem prevenir a realidade que, já na primeira década do século XXI, implodiu, numa derrocada de que não há memória, com custos sociais de que só as próximas gerações terão a consciência exacta... entretanto, enquanto o G8 espera que a crise passe para retomar a sua lógica desesperada de liberalização do mercado, as pessoas sentem acelerar-se o caminho para o abismo... por isso, é urgente ultrapassar a anomia de Davos!... e lutar, estrategicamente, com inteligência e determinação, Contra a Pobreza!... Sem Demagogia!...

As Árvores, a Floresta e os Partidos Socialistas


Fui perguntado, a propósito da minha crónica “As árvores e a floresta” (Crónica 386 de 8 de Janeiro no Diário do Sul, publicada também em A Nossa Candeia em 16 de Janeiro), onde “metia” o Partido Socialista, uma vez que não o citei directamente, no panorama dos partidos que nomeei. Comentava então a posição dos partidos de raiz marxista e dos partidos liberais face à crise que hoje se vive em Portugal e no Mundo, que aparentemente os fez trocar de posição: os partidos marxistas clamando contra as projectadas nacionalizações, os liberais e neoliberais, reivindicando-as. Do lado marxista, entendia (e entendo) que não tem havido, no último meio século, discussão e aprofundamento teórico do modelo de sociedade proposto desde o final do século XIX. Do “outro” lado, nenhum modelo alternativo de sociedade foi ou é proposto, e o seu papel tem sido acompanhar, opondo-se, às teorias socialistas. Mas desde fim da segunda guerra mundial e particularmente a partir da instauração da realpolitik, (isto é, desde que se passaram a privilegiar as relações de mercado mais que as relações pautadas pela proximidade política) extinguiu-se completamente qualquer nova formulação teórica, passando a utilizar-se a análise marxista (e outras) sem a fazer evoluir. E se Karl Marx reformava as análises que fazia, sempre que reeditava um escrito, porque entendia que a realidade mudava (e estava-se então no final do séc. XIX), imagine-se o Mundo mais de cem anos depois! Sucederam-se, desde então, as derrocadas: começou pelos partidos comunistas europeus e acabou no próprio Bloco de Leste. Do que hoje se vê, falhou sempre a construção do “Homem Novo”, a dimensão humana do socialismo. Foi neste estranho limbo, entre teoria e prática, que se instalaram os partidos socialistas e sociais-democratas, como se dissessem “nem tanto ao mar, nem tanto à terra, nós podemos fazer a síntese entre esses dois mundos!” E poderiam? E poderão? Os partidos social-democratas do norte da Europa clamam que sim, mas o seu modelo tem dificuldades em ser exportado. Cada país tem as suas idiossincrasias e nada é exportável assim, sem mais nem menos. Por cá, o “nosso” Partido Socialista é “filho” da social-democracia alemã misturado com alguns pensadores portugueses do século XIX e XX. A mistura poderia ser interessante como “socialismo à portuguesa” mas, desde que Mário Soares, há bastantes anos, propôs “pôr o socialismo na gaveta”, nunca mais se falou em teorizar e os ideólogos (Karl Marx, Antero de Quental, José Fontana e António Sérgio entre outros) voltaram ao descanso das molduras em que são recordados. É assim que ainda hoje estamos. A Europa não tem ajudado à festa, porque todos os partidos que por lá se vêm, têm o mesmo tipo de formulação teórica dos nossos partidos socialista e social-democrata, ou seja, são apenas gestores de países que não pretendem transformar mas gerir, com mais ou menos crise. Mas nos últimos anos, uma nova realidade emergiu: a consciência de que tudo é finito. Os recursos da Terra são finitos e a capacidade da Terra absorver os desmandos da Humanidade também é finita. Esta constatação, impossível há cinquenta ou mesmo há trinta anos, levou a uma muito aguda consciência ecológica que, desde então, não tem cessado de crescer e de se afirmar como essencial. Os liberais simplesmente a têm ignorado (veja-se a atitude de Bush perante Kioto) e os marxistas clássicos, sem a saber integrar nas suas próprias teorias, inventaram partidos ou movimentos que lhes cobrissem essa “necessidade eleitoral”. Só os partidos socialistas se dispuseram a torná-la uma causa, assim tolhendo o passo ao crescimento dos partidos ecologistas que não tinham vocação de poder, por falta de uma ideologia de suporte. Por cá, o facto do “partido ecologista” se ter confundido durante demasiado tempo com o “partido monárquico”, facilitou as coisas. Descomprometidos com ideologias mais ortodoxas como as leninistas ou mesmo as marxistas, facilmente desligados de linhas mais rígidas de liberalismos e neoliberalismos, os partidos socialistas parecem estar particularmente bem posicionados para iniciarem uma nova formulação teórica da sociedade. Provado está que os modelos anteriormente vigentes e que se opunham entre si, não funcionam. Cabe-lhes a eles, historicamente, iniciar uma nova discussão sobre o modelo possível (já não ideal ou utópica, mas possível) de sociedade. Os dados aí estão. Cabe aos partidos socialistas (congregados na Internacional Socialista) ordená-los, equacioná-los, discuti-los e finalmente propor um novo modelo de sociedade. É esse trabalho que hoje se lhes exige, e para o qual todos devemos contribuir. Aí está onde ponho o Partido Socialista: numa posição de charneira e de grande responsabilidade, como motor de discussão da sociedade em que viveremos um dia.

Fernando Pinto
fernandopinto@netvisao.pt

(Publicado in Diário do Sul – Crónicas ao Correr da Pena nº389 - 29 de Janeiro de 2009)

O Som da Partilha...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O mundo não é só a Europa... e está a mudar!


O embaixador José Fernandes Fafe e a historiadora Alexandra Barahona de Brito estiveram esta noite no programa "Câmara Clara" da RTP-2 com intervenções ilustradas por excertos documentais sobre os países sul-americanos... Valeu a pena ver e ouvir... porque o mundo não é só a Europa e... está a mudar!

O Tibete face à recusa do diálogo...


Como pode um povo exercer o direito à liberdade de expressão se lhe recusam o diálogo sério?... Foram presas pelo menos 5 pessoas que protestavam contra a ausência de direitos do povo do Tibete, por terem saltado sobre as barreiras da Embaixada da China em Londres, no momento em que o Primeiro-Ministro chinês aí se encontrava de visita... a questão que se coloca à sociedade civil e, nomeadamente, às minorias étnicas e culturais, é a de saber como poderão os povos que se não reconhecem nos Governos que os tutelam, expressar a sua voz e as suas razões. Recusar o diálogo aberto e a negociação dos Direitos dos Povos, das culturas e dos cidadãos é reconhecer o autoritarismo e a falta de legitimidade moral de uma governação... neste contexto, o silêncio internacional, alheando-se do enfrentar do problema e conduzindo a opinião pública a ignorá-lo, actua como uma forma discreta de cumplicidade... contra os Direitos Humanos!