domingo, 14 de dezembro de 2008

O que mais dói na violência


O que mais dói na violência é ver a sua transversalidade cruzar idades, culturas, espaços, economias, estatutos... porque não podemos deixar de ver os rostos e de imaginar o sentir atónito daqueles que se sentem e se sabem -ou até não sabem!- agredidos... Da educação à falta de resiliência, das expectativas aos medos, dos sonhos à miséria dos submundos que alimentam as economias paralelas, da fome ao instinto de sobrevivência... a violência nasce, abrupta, entre quem, entre condições e contextos diferentes, não a praticaria... Num tempo em que, desesperadamente, precisamos de confiar, há uma questão de fundo que se coloca em termos políticos relativamente à criação de emprego e à acessibilidade aos meios: que razão justifica o não investimento, a determinação, a coragem e a ousadia de desafiar o que, apesar de institucionalizado, se constata ter falhado? Porque reduzem à divagação demagógica, feita de sonhos menores de luta pelo poder, a consciência da urgência em parar para pensar e criar novas formas de organizar a sociedade e a economia? O que mais dói na violência, além da morte e do medo, é ser possível encontrar realidades que permitem fotografias como esta que aqui trago, perante a qual todos nos deveriamos curvar, perguntando: com que direito?... Com que direito falamos de cidadania quando deixamos que a grande maioria (senão mesmo a quase totalidade - porque quem lhe escapa é, apesar de não parecer, uma reduzida minoria!) das crianças do planeta cresça e a grande maioria dos adultos viva com a fome, a guerra, a doença, o medo e o desemprego como cenários do presente e horizontes de futuro? Haverá alguma prioridade que possa ter, em termos de racionalidade, primazia sobre a raiz do problema?... um problema que é, afinal, cultural e financeiro porque é a cultura que nos permite aceitar as opções políticas e económicas no quadro de um tempo onde, muito depois de Marx, continuamos a ter, apenas!, compreendido e explicado o mundo sem, contudo, agirmos para o transformar... sem medo!... porque, confiando na nossa humanidade, não precisamos do medo porque nada temos a perder... temos, isso sim, a ganhar... a ganhar duas grandes esferas de acção para a sobrevivência do ideal de dignidade inerente aos Direitos Humanos que são, em última análise, as condições de preservação do planeta Terra: proteger o ambiente e a vida humana.

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