domingo, 3 de maio de 2009

Uma Política Europeia com Rosto Feminino

Nos tempos que correm, verificada que está a dimensão do vazio ideológico, em detrimento de um pragmatismo que facilmente se transfere de um extremo ao outro do espectro político, Martine Aubry, actual Secretária-Geral do Partido Socialista Francês e Presidente da Câmara de Lille, é uma figura a reter no panorama político europeu. Durante o período em que decorreu a campanha para a sua eleição, pensou-se que Segolène Royal, divorciada do anterior Secretário-Geral do PSF, François Hollande, e com uma imagem que remetia para o estilo europeu de uma Hilary Clinton, iria ganhar a corrida. Martine Aubry, considerada por muitos, idealista e "excessivamente" de esquerda, venceu. No entanto, pelo menos em Portugal, nunca se percebeu exactamente porquê. Que qualidades tem Martine Aubry para justificar o voto de confiança dos socialistas franceses? - eis a pergunta que, no nosso país, não teve, na minha opinião, a devida visibilidade... porque Martine Aubry é, mais do que uma imagem sorridente, moderna e de discurso fácil, uma mulher inteligente, perspicaz, culta, sensata, atenta à realidade objectiva das questões sociais e da coexistência igualitária valorizadora da diversidade... uma mulher que, ao invés de se tornar dependente dos media e de um discurso "politicamente correcto" - mas, de certa forma, "estafado" ao ponto de soar a demagogia eleitoral, percorreu o terreno, multiplicando-se em reuniões e encontros que a aproximaram directamente dos cidadãos... uma mulher cuja credibilidade tem, em obra feita na gestão autárquica de uma das maiores e mais complexas cidades francesas, um garante de credibilidade... uma mulher com ideias próprias sobre o mundo contemporâneo, conhecedora das dinâmicas actuais em curso na política internacional, convencida de que a intervenção global para combater a crise implica duas frentes de batalha, uma no plano nacional e outra no plano comunitário, que deverão avançar em simultâneo, sem subalternização de uma face à outra... uma mulher que considera insuficientes as medidas económico-financeiras adoptadas até ao momento e que afirma que a reorganização social em função de uma renovada e mais justa distribuição da riqueza, exige um (re)investimento nos aparelhos produtivos e o reforço das políticas sociais até que sejam visíveis os resultados das inovações indispensáveis para o superar dos impasses e retrocessos económicos na vida das famílias e dos cidadãos. Segundo Martine Aubry: "nunca a sociedade precisou tanto do socialismo", entendido este como o modelo organizacional que melhor garante, num quadro multicultural marcado pelo desemprego, os equilíbrios socio-económicos indispensáveis à sustentabilidade social e à continuidade do desenvolvimento.
(sobre Martine Aubry ver também o texto que publiquei no PNET Política)

2 comentários:

  1. Vi a entrevista que a Martine concedeu a Mário Soares e fiquei muito surpreendido. Trata-de uma mulher com grande solidez teórica e muito conhecedora das questôes internacionais. E especialmente fica a léguas à esquerda de anteriores dirigentes do Partido Socialiata Francês. Gostarei de a ver bater-se nas legislativas e nas presidenciais...Terá o seu tempo,indiscutivelente.

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  2. Boa-noite, Sokinus.
    Ainda bem que concorda... eu também fiquei surpreendida pela positiva ao ver a entrevista (sobre a qual escrevi no PNET Política)... E concordo com o que diz: "Terá o seu tempo, indiscutivelmente."

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