domingo, 23 de março de 2014

Da Dignidade...

 
"The Monuments Men" realizado por George Clooney, interpretado por uma dezena de alguns dos melhores atores do momento (Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Hugh Bonneville, Jean Dujardin e Cate Blanchett), é um filme que, inspirado numa história verídica, depois de o ter visto, só consegui classificar como sendo um filme sobre a Dignidade! Considero, antes de mais!, curiosa a classificação deste drama como "comédia" mas, presumo que o facto se enquadra na mesma lógica que permitiu a tradução do seu título como "Caçadores de Tesouros" - testemunho do recurso a uma racionalidade em que o sentido da responsabilidade histórica, bem como os valores subjacentes ao desempenho de uma qualquer missão, submergem sempre, face aos interesses dominantes - que transformam em caricatura o que pretendem não ver justamente reconhecido, na exata medida da sua validade e do seu significado!... Cabe-me, aliás, neste contexto, dizer que o grupo de protagonistas da realização cinematográfica norte-americana que saltou do primeiro plano da interpretação para a cadeira da realização, de Robert Redford a Ben Affleck, a Matt Damon ou George Clooney, tem o extraordinário mérito de ter trazido para as "luzes da ribalta" uma geração de cidadãos norte-americanos que, mais do que defender a imagem do país que o mundo lhes reconhece (nas guerras e na exibição da potencialidade económico-financeira e política), pretende defender a imagem de uma América que é a sua, enquanto cidadãos livres, críticos e socio-politicamente ativos como agentes e intervenientes que assumem, conscientemente e de cabeça erguida (porque podem, é certo! - isto é, porque têm dinheiro!), uma postura distanciada do poder - a que recorrem para o usar, em nome de causas próprias, elas sim, coincidentes com os interesses públicos!... E se faço esta ressalva é para prevenir interpretações escusas apenas e só!, porque, a dado momento, a título de exemplo do que pratica a ação humana em contexto de competição e de guerra, a bandeira americana surge... fazendo até sorrir... um russo!!!... Sim, o filme faz rir ou, pelo menos!, sorrir... e chorar!... e se os pobres classificadores dos filmes em exibição marcaram "The Monuments Men" como "comédia" é por terem ficado no registo inicial e básico que fez o realizador não incorrer na exploração da violência gratuita, tentando desenvolver a narrativa de acordo com a capacidade humana de relativizar os contextos, caracterizando-os com normalidade (dimensão que é absolutamente realística, se nos situarmos em contexto de guerra, onde a vivência diária não pode ser enfrentada com o espanto e a indignação permanente que nos suscita o distanciamento!). Inspirado em realizações de boa memória de que me ocorreram, assim, espontaneamente: "A Farsa" de Giuseppe Tornatore, "Ocean's Eleven" de Steven Soderbergh, "A Vida é Bela" de Roberto Benigni , "O Código da Vinci" de Ron Howard , "Good Night and Good Luck" também de G. Clooney ou "Regra de Silêncio" de Robert Redford, porque (presumo-o!) Clooney quis homenagear quem faz cinema para além do espetáculo, demonstrando que os conteúdos têm a capacidade de, além da divulgação da verdade e da promoção da arte, garantir público... e que, consequentemente!, a velha receita que defende as teses promotoras de audiências, assentes na exacerbação da violência, do sexo e dos efeitos especiais, é um "engodo" comercial, alienante e gratuito... próprio, se me permitem!, de quem não sabe fazer cinema!... A este propósito, deixem aliás, que diga, a "talhe de foice", que, um dia destes, felizmente!, acontecerá o mesmo ao jornalismo, quando alguns dos seus protagonistas deixarem de ser simples leitores das mensagens manipuladoras de que se travestiu a comunicação social nos tempos que correm e se conseguirem emancipar relativamente ao poder económico dos atuais proprietários e gestores, fazendo alinhamentos noticiosos condignos com o direito à informação e com o acesso à livre formação da opinião... Sim, é verdade!... não conto nem comento nada do filme... porque penso que vão gostar de ver!... e repito: se alguma coisa dele se pode dizer é que é um filme sobre a Dignidade!...
Nota Final: quando saí e soube da Manifestação em Madrid (ler AQUI),ocorreu-me que, se a Dignidade fosse hoje um valor, não correríamos o risco de voltar a ver repetir-se a fenomenologia que constitui a essência do filme... infelizmente, a Dignidade continua a ser uma referência individual, de que os grupos dominantes falarão sempre como "relativizável" (bem aproveitado por uns e desvirtuado por outros) no persistente esforço de que não venha a integrar, de forma vinculativa, o espírito da "(Nova?) Ordem Internacional"...
  

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