segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Da Literatura como Construção da Cidadania - "Anuro, o Sapo, Sapinho..."

A convite do meu amigo António Luís Carlos, o premiado autor de literatura infantil Carlos Canhoto, escrevi o texto que agora, aqui, partilho! Recomendo vivamente a sua leitura atenta, em casa, nas escolas e em todos os espaços onde haja crianças e se cumpra a missão de as educar com o objetivo de delas fazermos cidadãos melhores, capazes de ajudar a resgatar a esperança do mundo em que vivemos! Depois de o lerem, espero que o comprem porque é, de facto, uma obra-prima da literatura infantil!
" A Literatura Infantil é uma festa!... Tem que ser uma festa! Tem que ser uma festa porque, enquanto instrumento de transmissão e valorização do conhecimento, enquanto veículo de aprendizagem e meio de formação, a literatura infantil tem a extraordinária responsabilidade social de ajudar a configurar as formas de ser e de estar dos mais pequenos, de lhes parametrizar os gostos estéticos e os juízos, as tendências e a ética.
Nesse jogo complexo de interações entre o objeto que é o livro infantil e a criança que o lê, há uma densidade carregada de sentido de que o autor tem que ser, necessariamente, consciente porque é essa densidade de “mais-valia”, com a capacidade transformadora de acrescentar qualquer coisa ao que se sabe, que as crianças procuram nos livros e nas histórias.
Se o livro desaparecer como tantos vaticinam, a perda e o retrocesso do ritmo de aprendizagem seria tal que, provavelmente, aumentaria exponencialmente o grau de agressividade e de violência social a que estamos constantemente sujeitos, também nas escolas sob a forma de bullying e assédio em função das mais discriminatórias e gratuitas razões – particularmente, porque os jogos tecnológicos com que as crianças e os adolescentes se distraem, veriam significativamente aumentado o seu grau de influência, em termos de capacidade alienante e de ameaça face ao desenvolvimento integral e harmonioso que é preciso promover nas populações mais jovens.
De facto, os jogos electrónicos assentam no desafio, na concorrência e na competitividade enquanto os livros assentam num estrutura narrativa consistente que requer reflexão e, por isso, os jogos despertam adrenalina e tensão ao invés dos livros que despertam tranquilidade e imaginação.
Carlos Canhoto, pseudónimo do autor do livro que hoje aqui vamos apresentar, materializa, com o suporte cromático vivo e simples da excelente ilustradora Rita Goldrajch a competência pedagógica e a natureza intrínseca da literatura infantil através de histórias que, com os pés assentes na terra, fazem sonhar, a propósito de realidades simples.
Carlos Canhoto descobre, revela e pinta narrativamente a realidade do mundo que habitamos e do chão que pisamos, conferindo-lhe a beleza que só a poesia do olhar pode encontrar. É disso que é testemunho a história de Anuro, o sapo sapinho que tinha um tesouro, um tesouro que, apesar de conhecido, se manifesta estranho, surpreendente e encantado perante a maneira de o contar.
Esta é uma arte rara, a de contar o mundo como se de um conto de fadas se tratasse (e talvez assim seja, se pensarmos na extraordinária oportunidade que temos de embelezar e aperfeiçoar a realidade dos dias) e conseguir transmitir essa ideia a todos, em particular, os mais novos.
Anuro é o sapo, sapinho que não precisa de se transformar em Príncipe, porque é belo e bom tal como é! Anuro é o sapinho que nos faz gostar, respeitar e sentir ternura até pelos sapos…
Anuro é um antídoto contra a discriminação introduzida nos pequenos espaços públicos para afastar pessoas de etnia cigana!
Anuro conquista, convence… e vence! Vence o mercado, a produção em massa, os clichés que sempre se deixam dizer nestas palavras.
Anuro é uma história simples, verdadeira, ilustrada com uma intensidade sem par que, compondo o seu próprio mundo, o partilha e que as Edições Poejo, com brio, dão hoje à estampa e a todos os públicos que tanto dele podem, construtivamente, aproveitar.
Anuro vai ser, talvez, o primeiro sinal de mudança que remete para a revalorização da natureza enquanto paisagem e terra firme da criação, dos alimentos saudáveis e da alegria.
E se dúvidas houvesse sobre a eficácia e a concretização dos objectivos expostos, Carlos Canhoto dá a resposta com um conjunto de iniciativas anexas à história de Anuro, que o tornam exemplar na concretização de todas as iniciativas pedagógicas: Anuro traz um jogo para os mais pequenos jogarem, uma canção (belíssima!!!) para todos cantarmos e um espaço em branco para que se possa pintar – recursos através dos quais Anuro se transforma num sapinho personalizado de fácil e empática apropriação afectiva por todos os leitores, qualquer que seja a sua idade.
E é de leitores, narradores, animadores e professores que, agora, Anuro precisa para que seja possível conferir mais beleza à realidade e mais sentido a todas as coisas…
… como o vem fazendo António Luís Carlos, um inventor dos dias e um criador de sonhos que, como uma espécie de alma guardiã e protectora, passa há décadas sobre as casas e as gentes, na forma de uma sombra discreta promotora da esperança que atravessa os campos que habita como um fôlego e que, como uma luz, dá, serena e discretamente, à comunidade, a vida, a cultura e a alegria com que, decisivamente, contagiou e fez crescer Mora.
Votos de Boa Leitura para todos os que irão conhecer e amar Anuro, o Sapo, Sapinho!"
Este meu texto de apresentação de "Anuro, o Sapo Sapinho" foi publicado no Jornal online "Alentejo em Linha" que vale a pena conhecer e pode ser lido também AQUI

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