sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Direitos e Realidades


Após o desmoronar do designado "mundo de leste", com a queda do Muro de Berlim e a emergência, na então URSS, da perestroika, assistimos agora, ao ruir do capitalismo tal como o temos vindo a conhecer, com a crise demolidora das estruturas financeiras em que assenta o modelo de mercado e a emergência de uma nova presidência nos EUA de uma personalidade como Barack Obama. E se as assimetrias sociais e económicas o justificam e a História ainda tem matéria para "lavar e durar", impressionante foi o silêncio que envolveu estes grandes fenómenos macro-políticos e macro-económicos... um silêncio que era afinal ensurdecedor e de cujo ruído poluente e tóxico fez eco a comunicação social ao longo das últimas décadas. O mundo está agora perante uma nova oportunidade: a de se repensar e reconstruir, evitando os erros que conduziram até aqui as sociedades humanas em detrimento da vida e do direito à vida... A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem 60 anos!... mas, como todos o sabemos, são violados, em maior ou menor escala, em todo o lado, estes Direitos que são, nada mais nada menos, do que Direitos de Todos os Seres Humanos! Sem relativizarmos as más práticas políticas, económicas e sociais que em todos os países e em todas as sociedades vão persistindo em incidências que violam esses mesmos Direitos, vale a pena lembrar a imagem do "mapa negro dos Direitos Humanos" editado no ano passado, 2007 e relativamente ao qual não podemos, infelizmente!, registar diferenças significativas... Os Direitos Humanos são agora a Carta de Conduta, o Código Ético da Humanidade e estão, efectivamente, por cumprir!... Os Direitos Humanos são o reflexo do que de melhor os seres humanos podem produzir: a materialização escrita de um sonho que nos deve servir de referência e de objectivo... um projecto que requer todo o nosso empenho para ajudar a elevar os níveis de consciência cívica, transformando o obscuro mundo da ignorância e do egoísmo em que vivemos, iludidos com a tecnologia e o consumismo, num espaço onde seja possível a todos exercer o direito natural à vida e à dignidade.

2 comentários:

  1. O seu post levou-me a procurar o texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Conhecemos muitos dos artigos porque o que expressam fez parte da educação e formação cívica de muitos de nós(infelizmente, não posso dizer de todos). Tenho 33 anos de idade e de apenas duas coisas estou 100% certa: 1)que a Declaração representa, como normalmente acontece com outros códigos éticos, o que desejaríamos que fosse (e por isso mesmo tem o seu quê de utópico) e também o que de melhor o ser humano é capaz de produzir; 2) que a Ana Paula é uma pessoa de coração e mente aberta, uma "realista sonhadora", sempre alerta e consciente mas uma eterna crente nas capacidades do ser humano.
    Tem toda a razão: a Declaração Universal dos Direitos Humanos está por cumprir. E outra coisa seria de esperar, pergunto eu? Já nem me estou a referir à escravatura (que é praticada), à liberdade de opinião e de expressão (que é suprimida). Não, olhemos para aquilo que passa despercebido, que provavelmente poucos saberão que consta da Declaração. Por exemplo, o art. 22º em que podemos ler "Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social" - conhecerão os Estados Unidos, que assinaram a Declaração, o art. 22º? E que tal o art. 24º: "Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas" - saberão os nossos patrões disto? Saberá o Estado Português? E que comentário poderemos tecer ao nº2, art. 23º em que se lê "Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual"?
    Ai, ai, cara Ana Paula, não sei se ria, se chore com as incoerências do Homo Sapiens Sapiens que de sapiens às vezes não tem nada. Beijinhos, Inês

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  2. Inês: Muito, muito obrigado pelo seu inteligente comentário e pelas bonitas, estimulantes e elogiosas palavras.
    Beijinhos,
    Ana Paula

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