quinta-feira, 4 de junho de 2009

Leituras Cruzadas...

Quando faltam apenas 3 dias para a eleição dos representantes de Portugal no Parlamento Europeu, é de assinalar, relativamente à campanha em curso, a persistência temática na política interna, nas críticas à governação nacional e nas considerações acusatórias inter-partidárias... Esta constatação é digna de registo por denotar, antes de mais, a aparente legitimidade ou, em última análise, a conformação permissiva da generalidade da sociedade portuguesa perante a ostentação do que pode ser considerado um atentado à seriedade política dos objectivos eleitorais em sociedades democráticas que, apelando à transparência e à participação cívica, invertem esses objectivos quando as respectivas campanhas apelam, massivamente, a objectivos outros que não os que efectivamente estão em causa. Exemplo sintomático do ponto a que, entre nós, chegou a demagogia é o caso referido por Tomás Vasques no Hoje há Conquilhas e que, lido no contexto da problemática que hoje caracteriza o dilema da consolidação europeia (veja-se o texto de Carlos Castro no Câmara dos Comuns), agrava sobremaneira o risco de distanciamento dos eleitores cujos votos, sendo objecto de reivindicação dos políticos, se tornam alvo de um recurso sem escrúpulos à utilização de falsas premissas decorrentes da desadequação entre os objectivos das eleições de dia 7 e a manipulação intencional do teor da campanha que, diga-se em abono da verdade!, assenta numa elementar estratégia de motivação sustentada pela oposição crítica à governação e pelo incentivo ao voto como forma de penalização popular da política nacional. Apesar do cenário económico-social que atravessa o país (leia-se o artigo de Filipe Tourais no País do Burro), seria importante que o leque partidário de candidatos às Eleições Europeias respeitasse a opinião pública e clarificasse os interesses em causa nas eleições do próximo domingo pelo muito que está em causa (vale a pena ler o post de Carlos Santos no Câmara dos Comuns)... mas, provavelmente, desperdiçado que foi todo este tempo, não se justificam grandes expectativas a este propósito... é pena! Quem fica a ganhar é, seguramente, a abstenção!

2 comentários:

  1. É verdade. É pena que nada aconteça. Mas, se em vez de nos lamentarmos com aquilo que não tem remédio e passassemos a usar estes instrumentos de comunicação, que nos põem em contacto, tantas e tantas horas, em remoinhos de palavras e passassemos à acção.
    Se fizessemos como nos ensina a canção: "quem sabe faz a hora, não deixa acontecer..." e nos juntassemos para exprimirmos a nossa vontade de cidadãos descendo á rua, juntando-nos, sempre que haja motivo para tal.
    Por exemplo, podiamos dizer aos portugueses que estão contra a forma como a campanha, para o parlamento europeu, foi conduzida andassem no sábado pela rua com uma fita amarela no braço, o dia inteiro.
    Já que o povo não tem forma de mostrar o que pensa sem ser nos locais e às horas definidas pelos diferentes poderes poderiamos arranjar uma forma de mostrar o nosso desacordo. Talvez os poderes sintam, vejam, a voz activa do povo.Poderiamos, assim, inventar uma forma de expressão visivel, pragmática e participativa. Uma democracia participada, directa e activa. Não ficariamos, assim, à espera que acontecesse.

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  2. Muito interessante, MR... tal como os boicotes ao abastecimento de combustíveis ou o acender das velas em demonstração de solidariedade, o recurso a atitudes simbólicas pode ser, efectivamente, a melhor pedagogia para a consolidação de uma participação cívica cada vez mais constante... no caso, a demonstração pública da discordância relativamente à forma como os partidos conduziram a campanha para o Parlamento Europeu seria, também no meu entendimento, o evidenciar da maturidade democrática de cidadãos não disponíveis para a recepção acrítica das mensagens político-partidárias.

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