domingo, 23 de agosto de 2009

Barreiras Ideológicas e Culturais...


"(...) Apesar da reduzida visibilidade pública que a comunicação social lhe permite, o mundo rural europeu é ainda a maior parte do nosso comum território continental e as suas populações defrontam-se com os mesmos problemas que reconhecemos no nosso próprio território: a desertificação, o desemprego, as migrações, a falta de capacidade de fixação populacional, a estagnação sócio-económica e a depressão social… e desta realidade partilhada consta um facto de importância crucial que paira, como uma ameaça e uma esperança, sobre todos nós: o apoio financeiro ao investimento em meio rural…. ou melhor, a sua falta, a sua escassez, a sua ausência. A actual crise económico-financeira, agravada de forma drástica no último ano, ao ponto de se verificarem sérias rupturas no sistema bancário com efeitos cuja extensão ainda não podemos ter a aleivosia de conhecer, fez emergir, por todo o planeta, os “fantasmas” que atormentam populações, famílias, cidadãos, empresários e políticos: o acesso aos bens alimentares, o aprovisionamento, a pobreza, os conflitos e a fome. Em causa ficaram algumas das mais básicas dimensões da sociedade contemporânea, dadas por adquiridas nas últimas décadas do século XX, designadamente, as vantagens da interdependência e da livre circulação de bens e mercadorias, num mercado que não tem capacidade para se auto-regular a não ser em cenários óptimos, teóricos e abstractos. Coloca-se por isso, agora, à dimensão política da gestão nacional de todos os países e da própria União Europeia (para já não falar no plano internacional), o problema da auto-suficiência e da garantia de uma economia de subsistência, em cenário de crise… um problema que reedita a questão ideológica da valorização do mercado livre e da planificação económica que nos obriga a constatar, com gravidade, a questão das condições de vida no mundo urbano e que se assume com particular seriedade no que se refere ao mundo rural, abandonado há décadas pelo forte investimento público ao nível do aparelho produtivo e das condições de empregabilidade.(...)".

(Excerto do artigo que publiquei no trimestre em curso na Revista "Viver", ed.Adraces)

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