domingo, 3 de outubro de 2010

Guatemala - Contra um Crime de Lesa-Humanidade...


Um médico americano, com conhecimento da Administração governamental dos EUA e da Guatemala, dos anos 40 (1946-1948), infectou propositadamente 1500 cidadãos guatemaltecos com doenças sexualmente transmissíveis, designadamente, sifílis e gonorreia. O objectivo, concretizado com dinheiro público através do Instituto Americano de Saúde, procurou testar o efeito da penicilina no tratamento destas doenças e recorreu a cobaias humanas, recrutadas sem conhecimento dos próprios, entre prostitutas doentes, prisioneiros, doentes mentais e soldados. A Administração americana que se confrontara já, em 1972, com a denúncia no "New York Times", de uma experiência racial levada a cabo no Alabama em que se negou tratamento à população negra infectada com sifílis (a quem se ocultou o diagnóstico e foram prescritos placebos), só no mandato de Bill Clinton assumiu o crime e pediu desculpa à população. Agora, foi a vez do Presidente Barack Obama apresentar um pedido de desculpas ao Presidente da Guatemala, Alvaro Colon, que considerou esta violação dos direitos humanos como crime de lesa-humanidade e se reservou o direito de apresentar queixa contra os seus responsáveis. As vítimas não têm forma de recuperar a saúde e a vida hipotecada à doença!... e o facto remete-nos para a constante vigilância que o mundo deve aumentar no que respeita à exploração da vida das pessoas designadamente em contextos de pobreza, de miséria, de medo, ignorância e desespero. Em 2005, o extraordinário filme do brasileiro Fernando Meireles, inspirado no romance de John Le Carré publicado em 2001, "O Fiel Jardineiro" trouxe o alerta à opinião pública... Agora, conhecemos a catástrofe da crueldade na Guatemala... o que estará por conhecer? - eis a questão, incontornável, que se nos coloca.

14 comentários:

  1. A questão é mesmo o que não sabemos e podemos imaginar tudo mas mesmo tudo. Depois, haverá sempre alguém para pedir desculpa. Um abraço.

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  2. Cara Ana Paula Fitas
    Trata-se de uma situação exponencialmente grave e não basta que os EUA peçam desculpa ao governo da Guatemala pelas experiências científicas dos anos 40. Tratando-se de crimes de lesa humanidade, situação absolutamente antiética, o povo da Guatemala e os defensores dos Direitos Humanos merecem total apoio e solidariedade e devem ser tomadas medidas de protecção de vida e integridade física e psicológica, deve ser feita uma investigação rigorosa para identificar e punir os envolvidos, deve ser respeitado o disposto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, assim como outros pactos e convenções.
    Mais uma vez, um caso in extremis, uma situação humanitária, um problema diabólico...
    Um abraço amigo e solidário :)
    Ana Brito

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  3. Chocante, Ana Paula !
    O dr. Mengele fez o mesmo.
    Claro que já nada nos espanta...
    Embora não queiramos estamos a ficar anestesiados.
    O problema que aqui se levanta é o da impunidade das potencias deste mundo. São crimes que deveriam ser julgados em tribunais internacionais e às escâncaras devendo ser publicitados os seus autores, mesmo que a título póstumo e condenados os prevaricadores.
    Não há dúvida que para haver uma selva não são necessários animais ferozes, savanas e grandes distâncias. Existem selvas de cimento em que os predadores habitam em bons apartamentos e convivem diáriamente com os da sua espécie escondendo a indignidade e os crimes que são capazes de perpetrar contra, mesmo, esses seus semelhantes.
    Fiquei perturbado !
    Um abraço.

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  4. Olá Fernando :)
    Ainda bem que veio até aqui e disse tudo o que sabemos justo e adequado dizer...
    Bem-haja, meu amigo!
    Um abraço.

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  5. Cara Ana Brito,
    Tem toda a razão e não vou, por isso, acrescentar nada senão o meu agradecimento pelas suas palavras como sempre adequadas e oportunas.
    Um abraço amigo e solidário.

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  6. Miguel,
    Obrigado!... eu também fiquei perturbada e pensei exactamente nas experiências nazis e do aterrorizador Dr.Mengele... obrigado por o ter escrito, meu amigo! ... e é igualmente assustador saber que a ciência e a indústria que lhe está associada, designadamente farmacêutica, recorre a métodos que não podemos deixar de associar às piores práticas que da Humanidade se conhece... Quero ainda subscrever sem reservas a sua afirmação de que este tipo de crimes deveria ser julgado em Tribunais Internacionais e acrescento: não deveriam prescrever!
    Um grande abraço, Miguel.
    Bem-haja!

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  7. Junto com os cães, gatos, primatas, ratos, coelhos... os humanos... não sei porquê o espanto! Afinal é isso mesmo o que o Colectivo exige, testes e mais testes para a Maioria se sentir segura de que os produtos não fazem mal demais.
    Todos sabemos, lá no fundo, que os Países que nós catalogamos como Subdesenvolvidos, são o Caldeirão das industrias farmacêuticas, de cosméticos e de alimentação, e todos aceitamos isso pois todos tiramos algum proveito.
    Hoje em dia a lata destas industrias já é tal que até se aproveitam do Sistema para comprar as cobaias... pagando-lhes meia dúzia de niqueis para experimentarem uma data de novas invenções!!!
    E assim vai esta "Humanidade"...

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  8. Olá Ana Paula :-)
    Parece que a "bola de neve" cresceu tanto que quem a criou e engordou já não a consegue controlar...
    Esta noticia é apenas o levantar do véu (ainda estamos nos anos 40), tenho medo e vergonha do que ainda será descoberto (ou melhor, trazido a publico) em relação às atrocidades dos testes "biologicos" que se fizeram posteriormente a este caso!
    A ciência associada ao poder quando não pensados numa prespectiva de crescimento sem mais valias, podem ser desastrosos! A Guatemala é apenas um pequeno exemplo! tudo isto se torna mais complicado quando não há coragem para julgar estes crimes que nem sequer têm designação... por mim teriam pena máxima!
    Esta sede economicista... de poder desmedido tem que ser travada e julgada sem qualquer tipo de piedade!
    Beijos e Aquele Abraço Alentejano de sempre

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  9. Caro Voz a 0 DB,
    O espanto está em, felizmente!, nos surpreender, indignar e chocar toda a crueldade... não só contra os animais mas, também, contra as pessoas! ... quanto à questão do pagamento por "meia dúzia de níqueis" é, de facto, assim para nós mas, para quem os aceita, em contextos de doença, miséria e fome podem ser fortunas... e isso é profundamente revoltante não só pela crueldade como pela complexidade da premeditação do processo manipulatório que antecede tão hediondas práticas que, felizmente!, não esgotam a essência da Humanidade - ou não estariamos aqui a condená-las e a defender o direito à dignidade e à vida.
    Abraço.

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  10. Querida Amiga Beatriz,
    OBrigado por estares aí e por partilhares esta tua tão contundente, séria e justa forma de olhar o problema, ciente da injustiça cruel da exploração a que ficam sujeitas as pessoas, desprevenidas, desatentas e necessitadas... tens toda a razão, minha amiga! É assustador pensar o que estará por descobrir e que anda por aí a ser feito à conta da boa-fé, da ingenuidade e da pobreza. Este é mais um combate de que não poderemos desviar-nos... pelo direito à Dignidade e à Vida de todos!
    Um beijinho e Aquele Abraço Alentejano que não desiste da Luta e menos ainda da Esperança :)

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  11. Cara Ana,
    A diferença que existe entre quem(falo dos poderes e das pessoas)que fazem estas coisas e a repulsa que o conhecimento destas ocorrências provoca em qualquer ser que se ache fazer parte da espécie humana, acho eu, que é a ideia de decência, não decência moral, que pode ser o que se quiser, mas decência com base na ética, e esta exige a cada um de nós que não esqueça, em nenhuma circunstância, a barbárie dos poderosos, sejam quem forem!

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  12. Caro José Luís,
    É mesmo de repulsa que se trata e de uma estrutural rejeição com base na ética reguladora das relações humana a que o José Luís, justamente, chama "decência". É possível desenvolver em laboratório a simulação de tecidos de modo a experimentar a produção médica e farmacêutica pelo que é, de facto, hediondo, recorrer à exploração das pessoas e da pobreza em nome de um economicismo cujo preço é a própria vida.
    Por isso, como bem, a "barbárie dos poderosos" não deverá, "sejam quem forem", passar incólume e o nosso dever de cidadãos é condená-la sempre e sem reservas.
    Obrigado pela lucidez do seu olhar.
    Abraço.

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  13. Indignar-se...esta é a palavra de ordem ,que devemos sentir sempre.
    Que tipo de país é este que usa e abusa de todos, sem que nada lhe aconteça.
    Uma pequena notícia muito breve no noticiário e não vejo corações e mentes mobilizadas em saber o que definitivamente ocorreu.
    Quantas Guatemalas vão ser precisas para que tenhamos o sentido de que somos cidadãos do mundo.

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  14. Teresa,
    Obrigado pelas suas palavras! É inacreditável como pode a comunicação social ignora e menospreza questões desta natureza!... é também por isso que a questão que a Teresa tão bem coloca sobre "Quantas Guatemalas vão ser precisas..." é pertinente!
    ... acresce que o mais extraordinário é que qualquer jornalista, qualquer redacção, qualquer ser humano percebe a importância e o perigo que esta realidade represente... por isso, é ainda mais difícil compreender a boa-fé ou a negligêngia que o assunto lhes merece - não fosse a questão publicitária que rende milhões e faz sobreviver tanto "media" seria ainda mais absurdo... terrível! dramático! inqualificável!
    Um grande abraço.

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