segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Marcelo Rebelo de Sousa e Manuel Alegre em Defesa das Mulheres

A primeira vez que ouvi falar no assunto, foi na televisão, numa entrevista dada por Manuel Alegre durante o Congresso do PS... e o que me chamou a atenção foi a frase: "O que se estão a preparar para fazer é um atentado aos direitos das mulheres". Fiquei, naturalmente!, preocupada e curiosa. Felizmente, ontem, Marcelo Rebelo de Sousa esclareceu: nas medidas de austeridade no sector da saúde foi equacionada a possibilidade de deixar de haver comparticipação estatal na aquisição de pílulas contraceptivas em estabelecimentos farmacêuticos, sendo dada a possibilidade às mulheres de as adquirirem gratuitamente nos centros de saúde. E o Professor enunciou, com a intenção explícita de ajudar o Governo a decidir nesta matéria, uma série de argumentos evidentes para o comum dos cidadãos mas, cuja sistematização se impunha dado o impacto social do problema... E disse, num primeiro momento: está por provar que as pessoas que vão às farmácias são ricas e podem prescindir dessa comparticipação; é desconhecer o país em que vivemos, presumir que as mulheres, designadamente trabalhadoras e jovens, têm tempo e disponibilidade para ir aos centros de saúde; está por provar que é mais fácil ir aos centros de saúde do que às farmácias, designadamente, considerando os custos de proximidade, uma vez que existem mais farmácias do que centros de saúde e que as idas aos centros de saúde implicam consultas e tempos de espera; está por provar que fique mais barato acabar com a comparticipação do que aumentar a quantidade de pílulas gratuitas... depois, num segundo momento, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou o verdadeiro significado e as consequências de uma medida desta natureza: é previsível, pelas razões indicadas, que a adopção dessa medida conduza a que muitas mulheres e jovens deixem de tomar a pílula aumentando exponencialmente o número de interrupções voluntárias da gravidez e, pior ainda, de abortos praticados em condições deficitárias e perigosas para a saúde das mulheres. As mulheres agradecem a honestidade intelectual e a responsabilidade cívica de Marcelo Rebelo de Sousa... e, face ao silêncio geral, é caso para perguntar: será que a questão não é suficientemente pertinente para mobilizar a intervenção de todos e que nos resta podermos contar com algumas vozes de políticos, que adquiriram o estatuto de independência intelectual e se afirmam como críticos e autónomos na expressão e no juízo? ... e quando eles optarem pelo silêncio por razões táticas ou estratégicas do ponto de vista ideológico ou político?

10 comentários:

  1. Olá Ana Paula!
    Este ministro da saúde é um católico fundamentalista, fanático, segundo dizem os seus próprios correligionários. Viu aqui uma oportunidade (a primeira, seguramente!)de encetar uma estratégia para o fim do planeamento familiar e do controlo da natalidade. Creio que este é dos que defende que fazer amor ou sexo - para ele será indiferente... - tem um só objectivo gerar uma criança. Tudo o resto é pecaminoso.Talvez por isso, anda sempre a mandar rezar missas...
    Um abraço, Ana
    Helena Pato

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  2. Desculpe Ana Paula, pode-me só esclarecer se está a falar a sério ou se é um post irónico.

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  3. Olá Helena!
    Neste contexto, faz sentido a opção... obrigada, Helena!... até porque desconhecia por completo tal faceta. É, no mínimo, bizarro nos tempos que correm... esperemos que reine o bom-senso e o sentido ético a que obriga a responsabilidade cívica... A regressão a este ponto é, no mínimo, absurda e altamente descredibilizante para quem a assume.
    Um abraço, Helena.

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  4. Luís,
    O conjunto de argumentos que aqui apresento foi, de facto, apresentado e desenvolvido por Marcelo Rebelo de Sousa, no domingo à noite, na TVI.
    Um abraço.

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  5. Cara Ana Paula Fitas
    Já não é uma questão ideológica ou crença.
    É mesmo "burrice".
    Abraço

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  6. Querida Ana Paula,

    É necessário e urgente que se comece a gritar bem alto contra este retrocesso civilizacional que se prepara com pezinhos de lã pela mão do ministro da saúde. Esta gente é perigosa.

    Beijinho

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  7. Viva Ana Paula:
    Antes de mais, parabéns por ter escrito sobre o tema, depois, dizer que Marcelo tem esta qualidade de limpar os seus pontos negativos com estas frontalidades, coisa que os lambe-botas do regime nunca têm, esquecendo que é assim que se adquire o estatuto. Depois, dizer que corroboro os comentários, porque, se investigar talvez vá descobrir este Ministro naquelas acções de oposição à lei de interrupção voluntária da gravidez. Ele é um Opus Dei. E ainda, que não deixa de ser estranho vermos no dia seguinte ao anúncio das medidas, uma activista anti-IVG o telejornal da SIC, falar sobre a retoma deste debate. O que Marcelo disse só um cego não vê, ou um deficiente profundo não sabe.

    Saudações.

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  8. ... pois é, Rodrigo... é mesmo... inconcebível!
    Abraço.

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  9. Querida Ariel,
    ... quando maiores são as crises, maior é o aproveitamento de todos os interesses... quanto maior é a pobreza e a violência social, maior é o perigo...
    Um beijinho.

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  10. Olá Graza,
    Obrigado pelas boas palavras e o contributo.
    Um abraço.

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