sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Gregos?! Não! Portugueses!

O anúncio do conjunto de medidas político-financeiras ontem anunciadas pelo executivo governamental denota o assumir da intervenção ideológico-financeira como única resposta à crise. De facto, depois de tanto se repetir que Portugal é um caso "muito diferente" da Grécia, tornou-se agora inequívoco aquilo de que há muito suspeitávamos: o que sustentou essa afirmação foi a redução interpretativa da realidade que tomou o incumprimento do pagamento da dívida grega "de factum" como o cerne do problema, quando o que está em causa é a vida dos cidadãos! Por isso, sim, podemos dizê-lo!, apesar de não sermos gregos, estamos, na verdade, cada vez mais próximos da calamidade social que neles teve o seu primeiro rosto e que se estende, empobrecendo a um ritmo avassalador a Europa do Sul mas, também, corroendo a Europa Central, a todo o espaço comunitário europeu. No fundo, está à vista aquilo que, de há muito!, se previa: o sucessivo alargamento europeu criou condições para que se "esquecessem" da Europa Social que pretendiam construir, em nome das finanças e dos mercados que trairam economias e sociedades por retirarem a finalidade humana às fórmulas da sua gestão.  A Europa foi incapaz de gerir a supranacionalidade de forma capaz de assegurar a sua sustentabilidade e os políticos que a lideram são incapazes de alterar o rumo que a sua dinâmica adquiriu! A opção persistente pelo aumento de receitas decorrente do aumento de impostos e dos sucessivos cortes nos direitos dos trabalhadores, é um caminho aparentemente fácil (ao que parece, o único viável para os "economistas"?? e políticos que defendem a organização que nos conduziu até aqui!) que o presente e o futuro de curto e médio prazo demonstram e continuarão a demonstrar ser absolutamente  insustentável!... Nenhuma mas, rigorosamente nenhuma das medidas anunciadas contribuirá para a inversão do empobrecimento acelerado das populações e dos portugueses! Caminhamos para o abismo pela mão da própria Europa e dos governos que a integram, sob o pretexto de a quererem salvar! A Europa já não é a Europa dos Cidadãos... por isso, é aos cidadãos que cabe, agora, a palavra!... o caso grego foi apenas um sinal... o primeiro!... Pensar que o problema fica por aqui é ignorar os factos... está tudo, apenas!, a começar e este "começo" traz na sua génese o prenúncio de um fim que pode ser não apenas uma mudança substantiva da democracia que conhecemos mas, o seu fim!
(Vale a pena ler os textos, as reflexões e os alertas de JM Correia Pinto no Politeia, Alexandre AbreuJoão Abel de Freitas, Pedro Viana e espreitar o post do A Cinco Tons).

8 comentários:

  1. Obrigada Ana Paula pela referência ao "a cinco tons". Mas obrigada principalmente pelo alerta para o estado da democracia. De facto, é o que mais importa defender. Porque é a democracia que maiores riscos corre, no actual estado de coisas.
    abraço

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  2. Está na hora, de dizer a essa gentalha, 'que só não somos gregos' pela postura geográfica. E já agora começa a ser premente dissecar,(partir pedra) com alguns escritos de J. pinto e Castro.

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  3. Cara Ana Paula Fitas
    Sou fiel à ideia de que o "melhor sistema inventado até hoje é a Democracia". "Com todos os defeitos que possa ter, ainda não foi inventado outro melhor".
    Começo a pôr em duvida esta ideia, que era uma verdade quase absoluta. Creio que a opinião publica que se está a juntar em torno das novas platafórmas está a trazer dados que deverão ser estudados e aprofundados.
    Abraço

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  4. Sou e serei sempre europeista e universalista mas também concordo que os lideres actuais estão muito longe de uma política que sirva os interesses dos cidadãos. No entanto temo que o protesto de amanha tenha muita visibilidade e pouca consequência.E como ja disse no meu video certas coisas concordo mas outras nao.

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  5. Sou eu que agradeço, Dores... estamos, de facto, um "estado de coisas" que não é suposto num regime democrático, tal é a penalização social que as políticas adoptadas significam para a vida das pessoas...
    Torna-se, por isso, fundamental reagir... só os cidadãos poderão fazer inflectir a orientação político-financeira da Europa em que nos inscrevemos e com que se justificam todas as políticas nacionais.
    Um abraço.

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  6. Caro Fernando F.,
    ... não somos gregos mas, "estamos gregos" porque a ditadura dos mercados e das políticas financeiras ditadas pela especulação não têm fronteiras... na minha opinião, o que é preciso não é inventar maneiras de continuarmos a reproduzir a lógica de gestão que se esgota no endividar/pagar mas, pelo contrário, na criação de condições efectivamente produtivas e capazes de estancar o empobrecimento e aumentar a riqueza.
    Um abraço

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  7. Caro Rodrigo,
    "A democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros" - dizia a canção... e cada vez mais o comprovamos... não podemos, por isso mesmo, baixar os braços e devemos, pelo contrário, construir as formas alternativas que resultarão da sua reforma eficiente que não pode, de modo algum, deixar de cumprir o seu objectivo primeiro: estar ao serviço dos cidadãos.
    Um abraço.

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  8. Caro Bruno,
    Obrigado pelo seu contributo... somos europeístas e é por isso que precisamos de participar de voz activa na escolha dos caminhos da Europa... foi aliás para isso que se quis construir a Europa dos cidadãos :))
    Um abraço.

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