quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Comunidade Muçulmana - O Direito à Verdade

Foi com uma desmedida mágoa que hoje ouvi as declarações feitas ontem pelo Patriarca de Lisboa que, por um lado, afirmou ser muito difícil o diálogo com a comunidade muçulmana e que, por outro lado, decidiu "alertar"(?) as jovens para os "sarilhos" (eufemismo para "perigo" na linguagem do emissor desta inconcebível mensagem?) de eventuais casamentos com muçulmanos! Não posso, não devo, não quero deixar de levantar a minha voz contra estas palavras e, talvez mais do que isso, contra a sua intenção! Antes de mais, repondo alguma verdade sobre a injusta afirmação da dificuldade no diálogo com a comunidade muçulmana, cabe-me colocar a questão: se há dificuldades de comunicação a quem se deve a culpa? Não será ao preconceito e à subtil intenção de, sobre tal afirmação, existir a transmissão subreptícia e capciosa de procurar valorizar a sua própria confissão religiosa a partir da rejeição e da condenação sem fundamento de uma outra? Pois bem... a Verdade e o Valor de uma Religião impõem-se pelas suas práticas e pelos seus exemplos!... e não é bom exemplo, nos tempos que correm, com um mundo caracterizado pela mobilidade, as migrações e conflitos sangrentos como o que acontece neste preciso momento em Gaza e no cerco a toda a Palestina, enunciar afirmações deste teor!... Muito escrevi já, como poderão ver neste blogue, sobre Gaza, a Palestina e o Tibete... exemplos maiores de uma perseguição sem nome e de genocídios perpetrados em nome de autoridades prepotentes que se avocam direitos de supremacia sobre o mundo, as vidas humanas, as culturas e os povos! ... mais deveria ter escrito e escreverei: sobre a perseguição da comunidade Baha'í no Irão ou sobre os ódios acicatados por motivações políticas em todo o mundo, ora sobre hindus, ora sobre xintoistas, xiitas, confucionistas, índios animistas e todos os cidadãos de boa-vontade que acreditam em princípios que os ajudam a viver melhor consigo próprios e com o mundo que todos habitamos e em que todos temos que coexistir. Alardeados os conceitos de paz e do diálogo intercultural e inter-religioso, é, repito!, de uma irresponsabilidade grave proclamar afirmações de senso comum, populistas e demagógicas que contribuam para o reacender de xenofobias e racismos, de medos e de mais ignorância! Na verdade, como todos os Amigos das diversas confissões religiosas estabelecidas em Portugal (Budismo, Comunidade Baha'í, Cristianismo, Hinduismo, Igrejas Evangélicas, Judaísmo e tantas outras...) sabem, o Diálogo Inter-Cultural e Inter-Religioso tem contado sempre com a participação de todos... e todos, de boa-fé e em espírito de paz por um mundo melhor para todos, têm estado presentes nos Encontros, nos Congressos, nos Seminários e nos Colóquios pela Diversidade e Não-Discriminação... e, digo-o sincera e sentidamente, nunca a Comunidade Muçulmana esteve ausente ou revelou qualquer reserva nesse sentido... bem pelo contrário! Em meu nome e de todos quantos acreditamos que somos, de igual modo, partidários da mesma determinação em não desistir de lutar pela Coexistência Pacífica numa Sociedade Harmónica onde todos os seres humanos tenham igualdade de oportunidades pelo Direito à Felicidade, condenando a violência, a guerra, a crueldade e os maus-tratos, quero deixar claro que a questão dos conflitos, nomeadamente domésticos a que eventual ou alegadamente se quereria referir o Patriarca de Lisboa, se não devem à essência dos princípios religiosos mas, à personalidade cultural que as sociedades e as economias criam nos indivíduos de todas as culturas e todos os credos! Saliente-se que, por exemplo, as leis recentemente aprovadas no Parlamento Europeu e na Assembleia da República contra a violência doméstica se não referem a qualquer comunidade religiosa mas, antes, aos homens e mulheres que, desde tempos imemoriais recorrem à violência por não saberem utilizar o diálogo... aqui mesmo, em Portugal, na nossa pequena sociedade, em meio rural e meio urbano, muito antes da chegada e da legitimidade da pluralidade étnica e religiosa. A terminar, porque a assim não ser, este texto não terminaria nos próximos tempos, deixem que recorde que foi na Mesquita de Lisboa que, há bem pouco tempo, em 2007, o Dalai-Lama e todos os representantes das diferentes confissões religiosas, bem como o Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, Dr.Mário Soares, foram extraordinariamente bem recebidos... eu estava lá!... sei do que falo!... assistindo e vivendo um momento comovente para todos e que a todos nós ficará, para sempre, na memória! Contra a Xenofobia! contra o Racismo! Pela Paz! Por todos nós! Obrigado a todos os que não desistirem de continuar, sem medo e sem preguiça, a lutar por um Mundo Melhor e Igual para Todos!

2 comentários:

  1. Será que o Cardeal falou por casa disto ?

    Londres: muçulmanas apelam à morte de homossexuais e apóstatas

    Há mulheres muçulmanas que pedem a morte de homossexuais e apóstatas do Islão numa das mesquitas londrinas mais importantes. De acordo com o diário Daily Mail, o caso foi alvo de uma reportagem do canal televisivo Channel 4, que vai ser difundida esta terça-feira.

    O jornal adianta que estas mulheres, conhecidas como pregadoras do ódio, foram filmadas sem o saberem na mesquita de Regent`s Park, onde acorrem diariamente milhares de fiéis islâmicos. Os apelos a crimes foram feitos durante cerca de 18 meses, de acordo com a publicação, sem que houvesse qualquer tipo de denúncia.

    As imagens mostram discursos inflamados, segundo o Daily Mail. Num dos momentos registados, uma descreve o Reino Unido como «a terra do mal» e outra classifica a cristandade como uma «abominação», dizendo que é «asquerosa».

    Mas o apelo à morte de quem deixar o Islão também ficou nas imagens. «Ele é muçulmano, e ele saiu dos Islão… O que é que temos que fazer-lhe? Matá-lo, matá-lo, matá-lo», disse uma das mulheres, chamada Amira.

    O adultério também deveria ser punido com a morte, de acordo com as declarações feitas por estas mulheres, que apontam um castigo para as relações pré-matrimoniais: 100 chicotadas.

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  2. Obrigado pelo seu comentário. A questão é que não se pode responder à violência com mais violência... e contribuir para acender braseiros mal apagados pode ser, efectivamente, uma forma de comprometer a paz sem a qual não poderemos coexistir defendendo os Direitos que aprendemos a construir... os fenómenos de resistência cultural desenvolvidos a partir dos sentimentos de revolta, vingança e xenofobia resultam do uso continuado da agressão e/ou da representação social que as pessoas elaboram sobre a violência... insistir no diálogo e na cidadania... penso que é o melhor que poderemos fazer... por todos nós!

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