segunda-feira, 2 de março de 2009

A morte de Nino Vieira - entre a previsibilidade e o imprevisto


Morreu Nino Vieira. Presidente da Guiné-Bissau, eleito por 3 vezes, Nino, nome de guerrilha pelo qual ficou conhecido João Bernardo Vieira, esteve 21 anos no poder, inaugurando na África subsaariana o exercício da democracia eleitoral. Uma morte várias vezes prevista, é certo mas, preocupante para toda a África, nomeadamente a África ocidental onde se procura a estabilidade política e onde dificilmente se constrói qualquer economia... na verdade, as sociedades africanas continuam a debater-se com a extrema pobreza e a miséria, marcadas pela repetitiva acção da guerra e da fome, da seca, das epidemias e do abuso do poder... A morte de Nino Vieira traz à memória os fantasmas das lutas tribais e fraticidas que o envolvimento no narcotráfico pode reactivar já que a economia paralela é aquela pela qual mais facilmente se acede a meios financeiros infelizmente investidos, em proporção significativa, em armamento - opção considerada comum num contexto onde a prática democrática é ainda frágil e dada, nomeadamente, a conjuntura política regional e continental onde direitos humanos ou a simples erradicação da fome, não são prioridades inequívocas. Multicultural, a Guiné-Bissau representa um caso exemplar de como a tomada do poder a qualquer preço é ainda um recurso que medra como cenário político nos países mais pobres do mundo... a condenação do assassinato de Nino Vieira foi imediatamente anunciada pela União Africana, Angola, Moçambique, Portugal, a CEDEAO e a CPLP - que reúne esta tarde de emergência para analisar a situação guineense e africana... a situação é, efectivamente, grave. Com a actual crise financeira a resvalar para a economia real, a situação altamente fragilizada e deficitária dos países pobres corre sérios riscos, pela vulnerabilidade político-económica das suas sociedades, expostas, sem defesa, ao dispor da exploração nas piores formas que a economia paralela pode assumir.

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