segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Garzón, A Coragem Rara de Quem Recusa o Silêncio

O juiz Baltasar Garzón vai conhecer esta semana a decisão do tribunal que o está a julgar por, alegadamente, ter "violado" uma amnistia datada de 1977 em que se consideraram ultrapassados e não sujeitos a julgamento, os crimes do franquismo... Testemunho maior da Justiça num tempo em que tudo parece impune e as populações sentem, cada vez com mais violência, a prepotência do(s) poder(es), Garzón, o corajoso juiz que preferiu enfrentar o carácter manipulatório da legislação produzida contra o interesse público e os valores democráticos que assentam no respeito pelos Direitos Humanos, recusou a hipocrisia e o branqueamento da História, enfrentando a fúria da extrema-direita. Porém, "o povo saiu à rua" e são milhares os que têm saido para o espaço público expressando, "alto e bom som", o seu apoio a Garzón, símbolo do reconhecimento de que a democracia não pode branquear crimes que atentam contra a vida humana e lesam, irreversivelmente, o direito à dignidade das sociedades e da própria Humanidade. 

10 comentários:

  1. Cara Ana Paula:

    "...recusou a hipocrisia e o branqueamento da História..." quando é tão cómodo, como se se estivesse distraído, não recusar!

    J. Rodrigues Dias

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  2. Sem palavras, porque Saramago me as roubou:

    "Hoje, nem ouro, nem prata, vivemos no tempo do chumbo. Que o diga o juiz Baltasar Garzón que, vítima do despeito de alguns dos seus pares demasiado complacentes com o fascismo sobrevivo ao mando da Falange Espanhola e dos seus apaniguados, vive sob a ameaça de uma inabilitação de entre doze e dezasseis anos que liquidaria definitivamente a sua carreira de magistrado. O mesmo Baltasar Garzón que, não sendo desportista de elite, não sendo ciclista nem jogador de futebol ou tenista, tornou universalmente conhecido e respeitado o nome de Espanha. O mesmo Baltasar Garzón que fez nascer na consciência dos espanhóis a necessidade de uma Lei da Memória Histórica e que, ao abrigo dela, pretendeu investigar não só os crimes do franquismo como os de outras partes do conflito. O mesmo corajoso e honesto Baltasar Garzón que se atreveu a processar Augusto Pinochet, dando à justiça de países como Argentina e Chile um exemplo de dignidade que logo veio a ser seguido. Invoca-se aqui a Lei da Amnistia para justificar a perseguição a Baltasar Garzón, mas, em minha opinião de cidadão comum, a Lei da Amnistia foi uma maneira hipócrita de tentar virar a página, equiparando as vítimas aos seus verdugos, em nome de um igualmente hipócrita perdão geral. Mas a página, ao contrário do que pensam os inimigos de Baltasar Garzón, não se deixará virar. Faltando Baltasar Garzón, supondo que se chegará a esse ponto, será a consciência da parte mais sã da sociedade espanhola que exigirá a revogação da Lei da Amnistia e o prosseguimento das investigações que permitirão pôr a verdade no lugar onde ela tem faltado. Não com leis que são viciosamente desprezadas e mal interpretadas, não com uma justiça que é ofendida todos os dias. O destino do juiz Baltasar Garzón é nas mãos do povo espanhol que está, não dos maus juízes que um anónimo pintor português retratou no século XV."

    As minhas desculpas por tão extensa citação

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  3. Aí está uma causa que merece o meu apoio incondicional. Nada pode justificar, fazer prescrever ou limpar o genocídio de milhares de pessoas, seja por razões politicas, seja por razões étnicas seja por razões religiosas. Viva Garzon e todos os que não viram a cara ás causas justas!

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  4. ... Caminante :))

    ... Garzón rima com Razón e Corazón!!!...

    M.José

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  5. Afinal nao é so a nossa justiça que esta doente!

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  6. Caro Rodrigues Dias,
    ... obrigado!... porque é tão fácil fingir que se está distraído :)) ... muito obrigado e bem-haja!
    Um abraço.

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  7. Rogério... não peça desculpa pelo excelente texto de José Saramago que aqui reproduziu... somos nós, todos os que aqui o podemos ler porque o partilhou, que agradecemos! :))
    Obrigado.
    Um grande abraço.

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  8. Caro Anónimo,
    ... contra o genocídio e pela coragem de não virar a cara às causas justas, obrigado!
    Um abraço.

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  9. Oh, Minha Amiga :))
    ... obrigada pela inesperada e feliz rima: Garzón rima de facto com razón y corazón :))
    ... só a uma boa intérprete de saxofone lhe ocorreria tal comentário :))
    Beijos

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  10. ... pois é, Bruno... infelizmente, o "mal" não é exclusivamente nacional... e se esta constatação nada resolve, deixa-nos, talvez!, menos sózinhos... esperemos que a força da expressão pública do povo espanhol nos sirva, também, para lhe tomarmos o exemplo :))
    Um abraço.

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