quinta-feira, 14 de julho de 2011

Dos Direitos dos Povos - Índios Xingu Contra Barragem em Belo Monte


Os índios Xingu têm no rio do mesmo nome e na floresta que o envolve a sua fonte de sobrevivência e a sua própria identidade. Contudo, apesar dos seus justos e sistémicos protestos contra a construção da Barragem de Monte Belo, cuja instalação hidroeléctrica ameaça avançar e destruir um dos mais preciosos testemunhos do Património da Humanidade... e não, não estamos a falar de monumentos mas, de Pessoas, de Povos e Culturas! Por isso, fica a divulgação e o apelo: assine a petição cujo primeiro subscritor é o Chefe RAONI das populações indígenas do Xingu e que está disponível AQUI.


O protesto que aqui propomos para subscrição data de há muito e já em 20 de Abril de 2010 foi divulgado o texto que passo a transcrever:

"(...) Nós, indígenas do Xingu, não queremos Belo Monte

Por: Cacique Bet Kamati Kayapó, Cacique Raoni Kayapó Yakareti Juruna em 20/04/2010
(Fonte: Valor Econômico)

Nós, indígenas do Xingu, estamos aqui brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, mas lutamos também pelo futuro do mundo. O presidente Lula disse na semana passada que ele se preocupa com os índios e com a Amazônia, e que não quer ONGs internacionais falando contra Belo Monte. Nós não somos ONGs internacionais. Nós, 62 lideranças indígenas das aldeias Bacajá, Mrotidjam, Kararaô, Terra-Wanga, Boa Vista Km 17, Tukamã, Kapoto, Moikarako, Aykre, Kiketrum, Potikro, Tukaia, Mentutire, Omekrankum, Cakamkubem e Pokaimone, já sofremos muitas invasões e ameaças. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, nós índios já estávamos aqui e muitos morreram e perderam enormes territórios, perdemos muitos dos direitos que tínhamos, muitos perderam parte de suas culturas e outros povos sumiram completamente. Nosso açougue é o mato, nosso mercado é o rio. Não queremos mais que mexam nos rios do Xingu e nem ameacem mais nossas aldeias e nossas crianças, que vão crescer com nossa cultura. Não aceitamos a hidrelétrica de Belo Monte porque entendemos que a usina só vai trazer mais destruição para nossa região. Não estamos pensando só no local onde querem construir a barragem, mas em toda a destruição que a barragem pode trazer no futuro: mais empresas, mais fazendas, mais invasões de terra, mais conflitos e mais barragem depois. Do jeito que o homem branco está fazendo, tudo será destruído muito rápido. Nós perguntamos: o que mais o governo quer? Pra que mais energia com tanta destruição? Já fizemos muitas reuniões e grandes encontros contra Belo Monte, como em 1989 e 2008 em Altamira-PA, e em 2009 na Aldeia Piaraçu, nas quais muitas das lideranças daqui estiveram presentes. Já falamos pessoalmente para o presidente Lula que não queremos essa barragem, e ele nos prometeu que essa usina não seria enfiada goela abaixo. Já falamos também com a Eletronorte e Eletrobrás, com a Funai e com o Ibama. Já alertamos o governo que se essa barragem acontecer, vai ter guerra. O Governo não entendeu nosso recado e desafiou os povos indígenas de novo, falando que vai construir a barragem de qualquer jeito. Quando o presidente Lula fala isso, mostra que pouco está se importando com o que os povos indígenas falam, e que não conhece os nossos direitos. Um exemplo dessa falta de respeito é marcar o leilão de Belo Monte na semana dos povos indígenas.
Por isso nós, povos indígenas da região do Xingu, convidamos de novo o James Cameron e sua equipe, representantes do Movimento Xingu Vivo para Sempre (como o movimento de mulheres, ISA e CIMI, Amazon Watch e outras organizações). Queremos que nos ajudem a levar o nosso recado para o mundo inteiro e para os brasileiros, que ainda não conhecem e que não sabem o que está acontecendo no Xingu. Fizemos esse convite porque vemos que tem gente de muitos lugares do Brasil e estrangeiros que querem ajudar a proteger os povos indígenas e os territórios de nossos povos. Essas pessoas são muito bem-vindas entre nós.
Nós estamos aqui brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, pelas nossas florestas, pelos nossos rios, pelos nossos filhos e em honra aos nossos antepassados. Lutamos também pelo futuro do mundo, pois sabemos que essas florestas trazem benefícios não só para os índios, mas para o povo do Brasil e do mundo inteiro. Sabemos também que sem essas florestas, muitos povos irão sofrer muito mais, pois já estão sofrendo com o que já foi destruído até agora. Pois tudo está ligado, como o sangue que une uma família.
O mundo tem que saber o que está acontecendo aqui, perceber que destruindo as florestas e povos indígenas, estarão destruindo o mundo inteiro. Por isso não queremos Belo Monte. Belo Monte representa a destruição de nosso povo.
Para encerrar, dizemos que estamos prontos, fortes, duros para lutar, e lembramos de um pedaço de uma carta que um parente indígena americano falou para o presidente deles muito tempo atrás: " Só quando o homem branco destruir a floresta, matar todos os peixes, matar todos os animais e acabar com todos os rios, é que vão perceber que ninguém come dinheiro " .

4 comentários:

  1. Parabéns pela ótima matéria....abraços

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  2. Olá Ana Paula
    Essa barragem é um atentado não só aos direitos humanos como aos direitos da natureza!

    Parece que o tal chamado "progresso", que na realidade é o contrário, vai contra todo o bom senso, contra as pessoas, contra a natureza, e apenas a favor de grandes grupos económicos.
    Esse "progresso" não olha a meios para atingir o único fim que conhece: maximizar o lucro a todo o custo!

    Muito obrigada pelo alerta e pelo protesto! Estou consigo e com os povos do Xingu!

    Xingu vivo para sempre!

    Beijinhos

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  3. Ainda bem que gostou, Eduardo... obrigado! Ando a aadiar um novo post sobre o História Viva, sabia?... porque a qualidade do que publica é tão boa que dificulta a opção e justifica o exclusivo!!! ... mas, vai sair um destes dias... Abraços.

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  4. Manuela,
    ... Viva o Xingu!... Xingu Vivo, Sempre!... um grande, grande obrigado pelas boas, justas e sempre certeiras palavras!
    Beijinhos

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