quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Banda e a Banda Larga da Esquerda...



Acabei de escrever o texto "A Banda Larga da Esquerda" que pode ser lido AQUI.

3 comentários:

  1. Cara Ana Paula
    Escreveu um bom texto!
    Permita-me dissertar um pouco em torno da mais importante das questões suscitadas:

    «A pergunta que se coloca a uma Esquerda credível e responsável é a de saber se prefere ser cúmplice da tomada do poder político pela direita (…) ou, se é capaz de se ultrapassar a si própria em nome do interesse nacional».

    Se respeitarmos a vontade dos eleitores num sistema de eleições livres e devidamente arbitradas, não é suposto olharmos para o que julgamos poder vir a ser o resultado (com ou sem trabalho de sondagens e informação) e antecipar essa expectativa como meio de condicionamento da nossa livre escolha. Deve esta ser expressão do nosso ser, da nossa visão do mundo e dos problemas que confrontamos, e não o resultado de uma mera estratégia do governo em exercício, do partido mais votado ou de qualquer outro. A escolha verdadeira é uma escolha que recusa ser condicionada pela antecipação de quaisquer eventuais consequências aferidas por aqueles que, justamente, já deram provas da sua governação ao longo desta legislatura, apesar de muitos parecerem agora esquecidos. Condição anómica do país e das elites partidárias do bloco central agora fracturadas pela crise do sistema financeiro e da economia.

    Parece assim normal que a estratégia eleitoral em campo seja como é: os invejosos e os mentirosos caluniaram Sócrates injustamente, é certo, mas por isso mesmo o primeiro-ministro concedeu a célebre entrevista alquímica – onde a postura corporal, o tom de voz e a retórica mudaram substancialmente – transmutando mediaticamente a “arrogância” em “humildade”. A partir daqui, e com a campanha eleitoral a alastrar à blogosfera, iniciou-se o que poderia ser descrito como um subtil efeito de reposicionamento da memória colectiva, de cedência ao olvido. Aposta-se, ao invés, na efervescência e na radicalização.
    (continua...)

    Francisco Oneto

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  2. (...)
    E tudo seria um conto de fadas cor-de-rosa, não fosse o PSD ter esgotado as suas ideias e sido acometido por uma liderança como a de Manuela Ferreira Leite, anteriormente ministra da educação e das finanças, manifestamente inepta. Para mais, à esquerda do PS há uma maré que se levanta, e a quem esse mesmo PS (descontando Manuel Alegre e tudo o que ele simboliza) se tem encarregue de zurzir, para fazer oposição à sua esquerda. É ver como na blogosfera se “malha” no Bloco e percebe-se o desespero eleitoralista de quem sabe que não vai ter uma maioria absoluta para continuar com as políticas que, como espero que não nos esqueçamos, serviram em primeiro lugar os interesses dos grandes grupos privados e, só depois, a população trabalhadora e os mais desprotegidos, para quem sobram apenas as migalhas e a perda de direitos – a precarização associada à extensão dos domínios da mercadoria para os domínios mais essenciais da nossa comum condição humana, por cá anunciada com a Estratégia de Lisboa e o advento da chamada sociedade do conhecimento e da governança digital.

    Mas pior que tudo isso, o PS não tem uma visão de futuro isenta de contaminação com os interesses do costume. Sócrates, aliás, apenas modernizou o cavaquismo. A mobilidade entre o aparelho de estado e os cargos de remuneração milionária em empresas directa ou indirectamente dependentes da provisão pública mantém-se e é constantemente actualizada, distribuindo-se os interesses em jogo pelas clientelas partidárias. O caso recente, da Liscont e da Mota-Engil, mostra, justamente, as virtualidades do imaginário biopolítico do capitalismo cognitivo: uma besta predadora, ou o parasitismo dos rentistas e dos especuladores. Teia. Lodaçal. Lobos com pele de cordeiro. E não deixa de ser estranho: quantos dos “cúmplices” desta governação não quererão agora reincidir?

    Ainda bem, pois, que vivemos em democracia e dispomos de opções mais consentâneas com os nossos juízos. Assim, ao votar à esquerda do PS, não seremos cúmplices desse vício da democracia em que se tem traduzido a alternância entre os dois partidos que disputam o poder. Não pode portanto a esquerda “ultrapassar-se” e abdicar de si própria para servir os interesses do PS ou de quem quer que seja que não dê provas de governar para as pessoas mas apenas para servir os interesses dos predadores. No fundo, é o estado de degradação das instituições governativas, do sistema de justiça e do estado, que nos deve preocupar.

    Para terminar o dia, Joana Amaral Dias esteve no frente-a-frente da sic notícias e confirmou o que já se sabe.

    Obrigado.

    Francisco Oneto

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  3. Caro Francisco,

    A apreciação é recíproca. Gostei muito do texto que escreveu e como presumo que saiba, concordo com a análise que aqui apresenta. Não me move, na opinião que vou apresentando neste contexto político-partidário pré-eleitoral, qualquer motivação contra os que, como nós, defenderão sempre, antes de mais, os direitos dos cidadãos e dos trabalhadores, dos desprotegidos e dos injustiçados... e como, também presumo que o sabe, o que me preocupa acima de tudo é a indispensável governabilidade do país que considero potencialmente muitissimo mais lesiva dos direitos das pessoas e das condições de vida dos portugueses do que a que o partido socialista pode protagonizar... de facto, não prefiro, de forma alguma, que esta governabilidade venha a ser liderada pela direita que assume, por um lado, o fim do comunismo e a extinção do Tribunal Constitucional e, por outro, se preocupa com o direito dos ricos e a defesa do não agravamento da tributação dos bens, e não tenho motivos para acreditar que o BE ou o PCP estejam disponíveis para viabilizar alianças políticas consistentes... e, se me permite, um governo minoritário com uma aliança frágil conduziria rapidamente à substituição do Executivo por um governo de direita... não, não pretendo condicionar à partida as escolhas por especular sobre os cenários de futuro... a previsibilidade é possível para além das sondagens e de outras técnicas manipuladas e manipuláveis... limito-me a equacionar possibilidades em aberto, decorrentes das posturas partidárias... não me sinto ou sentirei cúmplice dos erros do passado ou do futuro, nem sequer considero que a minha opinião possa interpretar-se como estratégia de apoio a uma determinada política ou a um determinado partido... porque estou realmente convicta de que não estamos perante a defesa dos interesses do PS mas, isso sim, dos interesses do país... a Esquerda europeia tem caído, de há muito, sucessivamente na tentação divisionista que facilitou a emergência da governação da direita e o acesso da extrema-direita ao Parlamento Europeu... não podemos alimentar esta tentação... não podemos, Francisco! ... um destes dias, a pobreza e a corrupção alastrarão de tal modo que se deixará de discutir na opinião pública a igualdade... a abstenção, a crise económica e a dependência da rede de oferta de empregos, no quadro da luta pela sobrevivência, a isso conduzirá... veja-se a Itália e o conjunto de países europeus de Leste e o exemplo em que se vão constituindo para reforço das posturas conservadoras e agressivas dos políticos dos nosso país envolvidos na promoção de práticas económicas discriminatórias e assumidamente opostas às constatações que a crise internacional contemporânea evidenciou, a saber, o mito da auto-regulação do mercado neoliberal e do capitalismo selvagem... continuaremos, eu, o Francisco e muitos mais amigos a escrever e a pensar em voz alta, partilhando-o para, se não efectiva e nominalmente, pelo menos, na razão e no coração, alimentarmos esta consciência alargada da unidade da esquerda que é preciso encontrar condições objectivas para construir... quanto ao caso da Joana Amaral Dias, também ouvi, na Sic, Paulo Campos e penso que, de facto, um equívoco muito incómodo aqui se instalou: não duvido que ambos falem verdade e também não duvido que ambos não digam o não-dito de tudo o que disseram, interpretaram e pensaram utilizar com esse diálogo que deveria ter ficado no plano interpessoal uma vez que não tem qualquer interesse para a opinião pública senão evidenciar a imaturidade e o calculismo precipitado dos intervenientes.
    Um abraço.

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