terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Porque... "Eu Sou Português Aqui..."...


... digam lá que razão terá despertado em mim esta memória... noutro tempo, dir-se-ia: "dão-se alvíssaras" a quem, justamente!, explicar o sentido deste poema de José Fanha, nos dias de hoje... um poema intitulado: "Eu Sou Português Aqui".

7 comentários:

  1. Continuando Abril...
    Nunca se esqueçam de sentir as palavras!
    Camões

    ABRIL

    Havia uma lua de prata e sangue
    em cada mão.

    Era Abril.

    Havia um vento
    que empurrava o nosso olhar
    e um momento de água clara a escorrer
    pelo rosto de mães cansadas.

    Era Abril
    que descia aos tropeções
    as ladeiras da cidade.

    Abril
    tingindo de perfume
    os hospitais
    e colando um verso branco em cada farda.

    Era Abril
    o mês imprescindível que trazia
    um sonho de bagos de romã
    e o ar
    a saber a framboesas.

    Abril
    um mês de flores concretas
    colocadas na espoleta do desejo
    flores pesadas de seiva e cânticos azuis
    um mês de flores
    um dia
    um mar de flores
    um mês.

    Havia barcos a voltar
    de parte nenhuma
    em Abril
    e homens que escavavam a terra
    em busca da vertical.

    O nosso lar passou a ser a rua
    nesse mês sem sono.

    Era Abril
    e eu soltei o sumo
    da palavras
    e vi
    dicionários a voar
    nesse mês
    e mulheres que se despiam abraçando
    a pele das oliveiras.

    Era Abril
    que veio
    que ardeu
    e que partiu.
    e vi

    Abril
    que deixou sementes prateadas
    germinando longamente
    no olhar dos meninos por haver.


    José Fanha, in "Tempo Azul"

    Bjs!

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  2. Palavras dele, sem reclamar alvissaras

    Eu sou a festa
    inacabada
    quase ausente
    eu sou a briga
    a luta antiga
    renovada
    ainda urgente.

    Abraço

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  3. Donatien,
    ... é um belo poema, meu amigo... um Grande Poema!
    Obrigado por partilhar aqui o seu/o nosso sentir!
    Abraço.

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  4. Meu querido amigo Camões :)
    ... as palavras são a primeira forma comprometida do Ser, enquanto expressão do Sentir... obrigado pela partilha do poema que continua a evocação... e também merece "alvíssaras" :))
    Bjs!

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  5. Caro Rogério,
    ... fica-me a ecoar o sentido, recíproco, do poema:
    "Eu sou a festa
    inacabada
    quase ausente
    eu sou a briga
    a luta renovada
    ainda urgente"...
    Obrigado, Rogério!
    Um grande abraço.

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  6. Cara Ana Paula Fitas
    Ouvir José Fanha remete, para aquele grande programa (Zip Zip) onde se deu a conhecer. Nesse tempo tinhamos que ler nas entrelinhas o que o Fanha nos declamava. Creio que a razão que a terá despertado, não será saudosismo, mas o bom gosto que nunca envelhece.
    Obrigado pela partilha.
    Abraço
    Rodrigo

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